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sábado, 22 de maio de 2010

ENCONTROS e DESENCONTROS II

Ouvir

Faz parte do Encontro querer realmente estar com o Outro. Precisamos então nos indagar: quero estar com essa pessoa como ela é ou como eu queria que ela fosse? Para ir em sua direção preciso me desarmar de idealizações, de crenças possessivas, das armaduras que me defendem das dores mas me isolam e não permitem proximidade entre nós. Já compartilhamos sobre a importância de nos revelarmos e agora sobre a de OUVIR.
Ouvir é criar uma abertura (Mente Aberta), estar disponível ao outro, aceitando nossas diferenças, nossa alteridade; é abrir mão da arrogância de nos acharmos senhores da verdade e, com simplicidade e humildade, entendermos que o que nos diferencia não precisa nos separar – que somos seres complexos que expressam as diversas faces criativas do Sagrado. Entender isso pode nos levar a querer realmente ouvir o outro, com curiosidade, deslumbramento, assombro e emoção.
Ouvir apenas registrando o que foi dito para depois poder rebater e tentar convencer que eu sei mais, minhas razões são melhores, só nos leva ao confronto.
Ouvir com a mente e coração abertos é poder sentir, ouvir, até e principalmente, o que não é dito, o que é silenciado por insegurança e medo, “ouvir” os sentimentos amordaçados por trás das nossas máscaras.
Ouvir com doçura, gentileza, compaixão, empatia.
Ouvir corajosamente o que talvez possa nos machucar, assustar, mas, ainda assim, ouvir por amor e respeito ao outro e à nossa relação.
Fomos condicionados a não nos expormos e escutar com desconfiança.(“Tudo que eu disser poderá ser usado contra mim”). Em razão disso nossas relações mais significativas acabam por se tornar tristemente superficiais, acaloradamente discutidas e brigadas, até que um silêncio frio, ressentido e desesperançado se estabeleça entre nós.
Como tudo se inicia em mim, para poder chegar bem aos outros preciso começar a me ouvir:
ouvir meu corpo, suas necessidades, limitações, possibilidades.
ouvir meu “coração”, meus sentimentos tão escondidos e censurados.
ouvir minha intuição completamente bloqueada e desacreditada num mundo tão materialista
ouvir minha dimensão espiritual que se nutre de dar e receber amor em todos os seus aspectos.
Preciso promover esse encontro tão íntimo comigo mesma para me fortalecer e iniciar a jornada até os outros.
“Que comece por mim” o resgate de uma comunicação sadia, viva, afetuosa e verdadeira nas minhas relações. Não posso modificar os outros; não posso obrigá-los a me ouvir sem desconfiança e a se revelarem, se desnudarem, se desarmarem na relação. Só posso, eu mesma, começar a me comunicar dessa forma pacificada, depondo armas, um dia de cada vez, comunicando pelas minhas novas atitudes que acredito ser esse o caminho para o Encontro que pode trazer alegria e felicidade às nossas vidas.
Quero ressaltar a importância dos Grupos nessa busca. É ali que aprendemos a compartilhar; a nos revelar com honestidade e a ouvir com compaixão. Ali exercitamos o respeito que faz parte do amor.
“Ao me revelar ofereço minha humanidade, ao ouvir acolho a sua e assim nos Encontramos”

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

ENCONTROS e DESENCONTROS I

Revelar

Da nossa natural necessidade de Pertencer, fazer parte, estar junto, entender e ser entendido, amar e sermos amados, nasce a busca do Encontro com as pessoas que passam, com maior ou menor importância, por nossas vidas. Precisamos nos comunicar, torna-se isso também uma necessidade essencial. A comunicação é a forma de nos expressarmos, de nos fazermos presentes, reais, de chegarmos aos outros... e precisamos estar com os outros, trocar informações sobre tudo, trocarmos idéias, valores, emoções, etc. Não existimos sozinhos e a comunicação ajuda a nos formar, nos enriquece e contribui, desde que nascemos, para sermos quem somos (para o bem e para o mal).
Infelizmente, em consequência de uma visão “capenga”, demasiadamente focada no mundo “de fora”, uma visão que nos diz que precisamos controlar e possuir coisas e pessoas para sermos “alguém” e sermos felizes, aprendemos a colocar a comunicação a serviço dessa busca, dessa luta, dessa grande e inacabável competição. Vale tudo, acreditamos que só não podemos é ter perdas, perder pessoas. Nesse contexto a comunicação tornou-se perversa, desonesta. Buscamos revelar uma falsa imagem para melhor aparecer, manipular, mentir. Escondemos nossas emoções sob máscaras que não nos desnudem, não mostrem quem realmente somos, com medo de não agradarmos, de sermos rejeitados. Inseguros, sabendo que não somos realmente quem parecemos ser, mais nos disfarçamos, e nas relações, mais nos submetemos, mais cobramos, disputamos, desconfiamos... mais nos desencontramos daqueles que tanto buscávamos! É uma triste ironia! Mas, afinal, marcamos
um encontro com alguém, damos pistas totalmente falsas de quem somos ou onde estamos e queremos nos encontrar?! Não pode dar certo!
Acredito que para irmos ao Encontro precisamos conhecer, entender, cada vez melhor, quem somos, como estamos. Só posso revelar com verdade o que já estou descobrindo. Esse processo de estarmos atentos a nós mesmos, de forma honesta, amorosa, minuciosa e destemida, cria intimidade, auto-responsabilidade, auto-respeito, vai construindo nossa auto-estima, tornando-nos mais auto-confiantes, livres, conscientes de nosso valor e unicidade. Hoje, começo a buscar Encontros e até Reencontros com mais desenvoltura e honestidade, tentando comunicar com simplicidade quem sou e onde estou, só por hoje.
Não quero complicar (Mantenha Simples). Estou aprendendo a, pacientemente, um dia de cada vez, diluir meus medos e inseguranças para me comunicar com verdade, desfrutar da alegria e lealdade de Ser e da gostosura de Estar nos Encontros.

(cont. OUVIR).

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sábado, 15 de maio de 2010

A crítica e o Elogio


Aprendemos quem somos, como nos comportar no mundo, como desempenharmos nossos papéis, com a Família que nos acolheu e criou – com seres humanos aprendemos a ser humanos. Na família recebemos valorização – mas com condições. Quando atendíamos o que se esperava de nós, éramos valorizados; quando não, éramos criticados, desvalorizados, até desamados. Quanto maiores eram as expectativas, mais facilmente fracassávamos e menos vezes elogiados e valorizados. Aprendemos assim que nosso valor está atrelado às nossas performances! Não nos ensinaram que, por mais que falhássemos em atividades, em comportamentos, em atingir metas, nada poderia retirar nosso valor intrínseco, pessoal, de seres humanos únicos, com dons únicos e especiais, portadores e centelhas de uma Luz Maior.
E porque não sabíamos do valor que naturalmente possuíamos, passamos a vida buscando, pedindo, esmolando, ansiosos e magoados, que nos valorizassem, que vissem nossas qualidades, nossas possibilidades.
Fomos adestrados, como animais que são julgados, valorizados e gratificados, conforme reagíamos com muita ou pouca eficiência ao que foi ensinado. Fomos condenados como indivíduos e não somente pelas nossas eventuais falhas e atitudes. Essa crítica misturada, e por isso mesmo equivocada, constantemente repetida em nome da educação, da formação, da orientação, do controle, sob forma de cobrança constante, nos diminui ainda mais ante os ideais perfeccionistas; afasta-nos da possibilidade de sermos valorizados e desenvolvermos uma auto-imagem positiva.
“Você é burro, é mau, não faz nada direito, não tem jeito, etc...”
A crítica pode “puxar” também nossa competitividade, nossa agressividade e nossa covardia. Sentimo-nos feridos, arranjamos desculpas, jogamos culpas, fugimos e criticamos também; brigamos e nos afastamos irritados, magoados, injustiçados...
A crítica à pessoa jamais será construtiva. Ela arrasa nossa auto-estima, nossa autoconfiança, nossa dignidade. Ela nos desconstrói e às nossas relações
Em contrapartida, o elogio à pessoa e às suas boas performances atuam como uma “boa força” que nos impele ao melhor do que somos e podemos. Na infância e pela vida afora, na justa medida, o elogio ajuda a criar uma auto-imagem favorável, plena de possibilidades. Sentimo-nos eficientes, capazes e merecedores. É importante que o elogio seja verdadeiro e sem exageros; sem estar a serviço da bajulação e da manipulação (para o bem ou para o mal) Não deve criar uma dependência que se evidenciará na imaturidade e insegurança das pessoas que, mesmo adultas, requerem elogios repetidos, sem nunca se darem por satisfeitas, totalmente voltadas para um apoio externo, buscando gratificação e aprovação.
O elogio simples e honesto nos empurra e fortalece para, com entusiasmo e motivação, buscarmos nossas metas, sonhos, novas etapas; encoraja-nos para enfrentarmos nossos desafios, refazermos caminhos, aprendermos com nossos erros.O elogio trás alegria e força à nossa humanidade, ao nosso caminhar; aquece nossos corações, desarma-nos. Trás alegria, gentileza e ternura às nossas relações; transforma-nos de críticos competidores em alegres e generosos parceiros.


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segunda-feira, 10 de maio de 2010

SER E PERTENCER I


Esse é o nosso maior desafio, é o grande desafio do ser humano. Não podemos abrir mão nem de Ser, nem de Pertencer mas, como equilibrá-los em nossa vida?
Nascemos tão frágeis e dependentes que Pertencer era questão de sobrevivência. Precisávamos pertencer a alguém, a algum grupo (Família, qualquer tipo de família) que nos cuidasse física, psíquica e espiritualmente; precisávamos de defesa, de alimentação, de orientação, de referências, de valorização, de amor. O preço dessa Pertença era acreditar, aceitar como verdade inconteste tudo que nos ensinavam, era lealdade e obediência às regras do grupo, era a busca constante de atender às expectativas da família, a qualquer preço, mesmo ao preço de nosso pequeno Ser que tanto necessitava ser amado, sentir que existia, que tinha valor. Não éramos normalmente ouvidos ou sentidos em nossos desejos, sentimentos e possibilidades. Éramos sim, ainda que “amorosamente”, condicionados a reformular desejos e pensamentos que não fossem “certos”, a negar, bloquear e até esquecer, sob máscaras, nossos sentimentos “errados”, a comportarrno-nos da forma esperada ou a negar e mentir disfarçando nossos deslizes. Era nosso SER completamente subjugado ao PERTENCER e suas exigência, ainda que bem intencionadas. Era o indivíduo se violentando e sendo violentado tantas e tantas vezes, deixando-se abafar e sufocar sob o peso de tantos papéis a desempenhar( filhos, pais, companheiros, etc...e na comunidade, na religião, como profissionais...). Ficamos, na maioria das vezes, aprisionados nessa Pertença perversa e confusa, onde somos apenas um pedaço do grupo, sem identidade, um Ser despedaçado em sua inteireza e unicidade. Todo amor e valor que precisávamos para nos nutrir, para sermos felizes, nos foi oferecido dessa forma condicional e o preço que pagamos até hoje nos desgasta, frusta e angustia. É um preço muito alto. Não somos felizes.
Para escapar desse círculo, muitas vezes iniciamos um movimento que parece novo mas apenas muda o foco do Pertencer para o Ser. “Danem- se tudo e todos, vou atender meus interesses, de qualquer jeito, a qualquer custo...”
Se a necessidade de Pertencer nos submete, desrespeita, abafa, infelicita, também o egoísmo, a busca cega e grosseira para atender nossos interesses pessoais, também nos aprisiona e embrutece, faz de nós seres essencialmente materialistas na medida nos apossamos e usamos coisas e pessoas. Ficamos desnutridos em nossa dimensão espiritual porque não damos nem recebemos verdadeiramente amor, ficamos isolados. Não somos felizes.
Subjugados ou subjugando, estamos em desequilíbrio em nossas necessidades básicas. Acredito que a solução esteja na busca constante de entender, atender e amar o SER para PERTENCER com a mesma generosidade e alegria. Acredito que nosso movimento hoje, já adultos, deva se iniciar no resgate de um SER inteiro e sadio. “1º Eu”, “ Que comece por mim” Essa é minha responsabilidade para chegar bem, respeitoso e amoroso ao Outro, para Pertencer com cumplicidade e parceria.
SER E PERTENCER com equilíbrio é buscar entender, experimentar e respeitar minha humanidade para entender e respeitar a dos outros. É mudar para um referencial diferente de SER com responsabilidade e Pertencer com respeito às diferenças, anseios e possibilidades de cada um de nós.


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quarta-feira, 5 de maio de 2010

ORDEM



A Ordem faz parte das nossas necessidades mais altas. Essa necessidade é dinâmica, acompanha nosso movimento na v ida conforme mudamos atingindo novas etapas.
A criança e os muito jovens, totalmente voltados para o mundo, convivem bem com a “bagunça” externa, ainda não têm muita intimidade com seu mundo interior. Conforme vivemos, vamos interiorizando-nos, a cada tempo um pouco mais, e então começamos a sentir necessidade de Ordem, de organização e novas “arrumações” internas. Até mesmo em nossos ambientes buscamos uma ordem que reflita e favoreça esse anseio interno. Na maturidade, muitas vezes a desorganização em que vivemos e a confusão e incoerência de nossas atitudes refletem a desordem de nosso mundo interior.
No entanto, a ordem não pode ser estática, não pode nos aprisionar, impondo-se a nós mesmos como leis, regras rígidas, postulados inflexíveis. Nada em minha vida deve ser fechado porque estou em constante transformação e de nosso caos interno vamos naturalmente atingindo novos patamares de consciência e ordem. A ordem que precisamos deve então ser fluida, flexível, coerente com a felicidade que buscamos. Assim ela irá favorecer nosso caminhar de modo confortável, que traga serenidade e não nos tire a alegria de viver.


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domingo, 2 de maio de 2010

IMPOTÊNCIA


A vida, por si só, é uma manifestação de poder. Existimos, portanto, temos poder, fazemos parte e somos uma emanação de um Poder Maior. Estamos convocados a usar nosso poder individual para buscar e manter acesa, viva, alegre e amorosa nossa parcela da Luz Maior; só assim seremos felizes.
Somos seres de relação; precisamos estar em relação para aprendermos, ensinarmos, trocarmos, amarmos, buscarmos a felicidade. Mas, até que ponto vai nosso poder individual nessa busca?
Existe o que posso e o que não posso.
Posso me modificar , me adaptar e até reagir às situações novas que a vida nos impõe (materiais ou não), mas não posso voltar o tempo e modificá-las
Posso me modificar durante todo meu processo de vida, mas não posso modificar a mais ninguém. Para isso somos impotentes, embora tenhamos aprendido o contrário: que temos o poder o dever de modificar os outros, pelo bem de tudo e de todos. Tomamos como “dever de casa” bancar o Poder Superior e, como não conseguimos, ficamos com o sentimento de fracasso pessoal. Passamos grande parte da vida, ou toda ela, lutando com impossibilidades, sem reconhecer simplesmente nossa Impotência.
O momento da admissão da impotência é assustador e muito, muito doloroso. E agora, o que será de nós e de mim? Como poderei ser feliz se não puder fazer as pessoas e as situações ficarem do “jeito certo”, se não puder “salvar” quem amo? Mas, passado o horror inicial, o confronto com a verdade de nossa impotência nos liberta da luta infrutífera, desgastante, desesperante, contra idealizações, crenças absurdas, missões impossíveis. Resta-nos então a paz, ainda que doída, a serenidade que nasce da aceitação, e sobra-nos força então para buscar a felicidade modificando o que posso, usando corajosamente meu poder de forma realista, colhendo as alegrias das mudanças que nos libertam.


Sugestões e comentários: mariatude@gmail.com