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sábado, 27 de agosto de 2011

ESTÁTICA E SINTONIA


                         Que barulheira constante é essa dentro de mim? É uma estática rascante, que arranha, grita, murmura, machuca... É uma discussão interna que não acaba, onde se alternam assuntos, estratégias para soluções vencedoras, resoluções ao meu modo, justificações, revides, irritações, lamúrias... Esse conturbado mundo interior, regido pelas razões e certezas do meu ego bem adestrado para esse mundo competitivo e material, detona em mim sentimentos que não me fazem feliz, que me machucam, até mesmo quando consigo impor minhas razões. Nessa luta constante persiste o medo e dela resultam (sufocadas ou não) mágoas, raivas, vergonhas, culpas... Tudo isso grita, fala ou sussurra dentro de mim. E como me incomoda, como cansa, como dói!  Como sair disso? O mundo, as pessoas a minha volta, nem ao menos colaboram! Não me atendem, me provocam, falham comigo, me decepcionam, não me valorizam, não me amam como mereço!

                        Hoje estou finalmente entendendo que não posso modificar os Sistemas, o Mundo, os Outros. Enquanto insistir em olhar para fora, culpando-os ou esperando que me façam feliz, toda essa agonia persistirá. Não adianta também mascarar a barulheira, tentar sufocá-la, sedá-la ou brigar com ela. Só me trará mais estática, dor, cansaço. Estou entendendo também que trazer sanidade, saúde e alegria para meu mundo interior é minha responsabilidade. Depende de mim,  sondar toda essa estática, ultrapassá-la e ir em busca da Sintonia Perfeita. E toda essa busca de serenidade torna necessária uma abordagem serena e amorosa, coerente com seu propósito. Preciso ter uma escuta atenta, amorosa, paciente e gentil dos meus sentimentos; preciso rastreá-los, entender sua origem em pensamentos e crenças equivocadas, para tirar-lhes o poder sobre mim, deixá-los sair...
Preciso de uma constante e cuidadosa ausculta de mim, dos meus defeitos tão enraizados e tantas vezes por mim justificados. Preciso enxergá-los, aceitá-los, para então ir-me libertando, mudando, transformando.
           
                      A serenidade caracteriza-se por um bem estar natural, uma sensação de alegria e conforto íntimo. Quando não estamos assim, atenção! É porque há estática! Precisamos ir removendo-a, se queremos estar bem, cada vez melhor. Toda essa estática interna é semelhante às ondas de tempestade, às tsunamis, que nos arrastam, nos arrasam, que acabam por nos destruir e às nossas relações. Preciso sempre lembrar que, abaixo dessas ondas existe um Oceano – Calmo, Silente, Sereno.  Rastrear a estática, buscar liberar-me dela, é ir, um dia de cada vez, um momento de cada vez, abandonando as tempestades do ego e escolhendo mergulhar no Sagrado Oceano Interior de minha dimensão espiritual. É simplesmente sintonizar com o que me nutre amorosamente e me faz feliz.

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O MISTÉRIO



O que sou? Quem sou? De onde venho? Para onde vou?
Sei onde estou. Sei me defender onde estou. Aqui aprendi a lutar para poder vencer, sobreviver, desfrutar desse mundo palpável onde estou.
Mas, mesmo quando sou vencedor, quando sobrevivo e desfruto do que consigo de melhor, mesmo então, sinto-me como um estranho nesse ninho confuso, enovelado, rixento... Sinto faltar-me algo mais interior, um ganho diferente, uma nutrição mais sutil, uma ligação, uma conexão especial que quase sempre me escapa. Talvez seja com minha origem, nesse Mistério que me transpassa, me transcende...
Sei que esta ligação existe porque pressinto, sinto e gritam (ou sussurram) em mim minhas raízes espirituais.
Não consigo propriamente entender e explicar esse Mistério que me invade, que me envolve, que tudo envolve. Mas sinto que faço parte de algo Maior! Ainda faltam-me dados materiais, científicos, para poder compreender e desvendar racionalmente tudo isso, mas também não importa porque esse Mistério, muito mais do que ser somente entendido, é para ser Sentido!
Sinto-o nas alegrias simples e ingênuas, na vontade de ser solidário, de ajudar; sinto-o na ternura que nos aquece, na compaixão que nos aproxima, na verdade e no respeito que nos garantem a alegria do compartilhar, na generosidade que nos oferece a possibilidade de repartir, na paciência que nos garante o amar sem pressa, sem condições, na aceitação e entrega da fé, na força e conforto que recebo da Natureza à qual pertenço.
                        Percebo que qualquer escolha amorosa que faço me traz uma doce e terna vibração interior. Ela me leva a sintonizar com o sereno silêncio e com a musicalidade alegre e suave desse incrível Mistério. Todas essas possibilidades existem dentro de mim, dentro de cada um de nós. Elas advêm de nossas raízes sagradas nesse Mistério que somos e do qual participamos.
Acredito que os desafios que enfrentamos nessa passagem, aparentemente tão só material, nos irão despertando para nossa origem, nossa herança espiritual. Não precisamos nos distrair e nos perder em uma busca fora de nós para as respostas desse Mistério. Quanto mais descubro quem tenho sido, quem sou, o que posso ser; quanto mais desvendo o Mistério que sou,  mais vou desvendando os segredos desse Mistério Maior do qual faço parte e entendendo Seu propósito amoroso para nossas Vidas: libertarmo-nos das amarras das relações de luta e amarmos com simplicidade e alegria para cada vez mais estarmos em sintonia com a felicidade.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

RENÚNCIA




Aprendemos a entender renúncia, na maioria das vezes, como abrir mão da nossa alegria e felicidade em favor dos outros e pelo que entendemos ser melhor para os outros. Aprendemos que devemos renunciar muitas e muitas vezes para bem desempenharmos nossos muitos papéis em família, como profissionais, como cidadãos, enfim, em todas as nossas relações. Em meio a tantos anseios e cobranças tantas vezes antagônicos,    sentimo-nos repuxados em diferentes direções, despedaçados, confusos e, apesar das renúncias, certamente culpados onde falhamos.Esse é um conceito idealizado de renúncia, que não leva em conta nosso direito de escolha, nossas limitações e trás embutida a idéia que teremos gratificações externas – das pessoas, da vida, de Deus. Quando isso não acontece, sentimo-nos frustrados, infelizes, magoados, ressentidos, amargos... e atiramos, cobrando, em algum momento, de alguma forma, tudo aquilo de que abrimos mão, toda nossa renúncia. É dar, doar, esperar, cobrar...
Não atentamos que fazer pelo outro esperando algo em troca- agradecimento, valorização, amor, mudança de atitudes... é tentativa de controle, mesmo que com a “melhor das intenções”. E porque não temos o poder de modificá-los, nos frustramos e ressentimos: “Renunciei, abri mão de minha vida, meu emprego, meus filhos, meu casamento, dos melhores anos de minha vida... por você, pela sua felicidade!”
Quando nos sacrificamos, nos vitimamos, a tudo renunciamos para facilitar a vida do outro, muitas vezes o induzimos ao egoísmo, ao costume de só receber, ficar insensível, e ao mesmo tempo lhe tiramos a oportunidade de buscar suas próprias soluções para os desafios da vida. Podemos também nos tornarmos, nós mesmos, egoístas, revoltados, cansados de tanto dar sem nada receber. Este é um conceito equivocado de renúncia, ainda que com bons propósitos, pois seu foco de retorno é externo.
                        Existe outro modo de entender e praticar a Renúncia. Pode começar pela renúncia às rígidas certezas do nosso ego que fecham nossa mente, não nos deixam pensar (só repetir), nos levam ao controle, aos apegos, à nossa expectativa de recompensa exterior. Não nos ensinaram que qualquer renúncia deve resultar de uma escolha lúcida, de nossa vontade e possibilidade, de nossa total responsabilidade; uma escolha que nos trará uma gratificação interior.  É o resultado de um processo interno de escolha consciente, gentil, amorosa e respeitosa, que pesa nosso desejo, nossas possibilidades internas de doação ante nosso desejo de chegar às necessidades do outro. Preciso para isso de uma “escuta” atenta do que quero, a percepção da alegria generosa e gratuita que recebo (sinto) ao escolher ser solidário e a verificação que posso, só por hoje, sem culpa.
                        Entendo agora o que dizia Francisco de Assis: “É dando que se recebe”, que se ganha a alegria de dar, de participar amorosamente da história do outro. Não há elogios, valores, agradecimentos que possam superar o ganho de alegria, ternura, amor que essa Renúncia livre e lúcida pode nos proporcionar.

Comentários e Sugestões: mariatude@gmail.com


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

EM BUSCA DO TESOURO




Todos nós buscamos a felicidade. Ela é o nosso tão ansiado tesouro. Mas, onde encontrá-la? No sucesso, no prestígio, na beleza, na riqueza? Por ela enfrentamos grandes desafios geográficos, grandes distâncias, imensas dificuldades através de continentes, mares, até no cosmo. Exploramos tudo, nos aventuramos para sermos heróis, sermos “super”... Por ela batalhamos por dinheiro e fortuna no trabalho, na sorte das loterias, até em descaminhos, achando que nos trarão tudo e todos. Por ela abrimos mão do que somos e nos aprisionamos eternamente a máscaras que, pensamos, nos farão sermos amados e valorizados. Pela felicidade tentamos tudo, olhar e ouvidos atentos para o mundo, mas o tesouro sempre nos escapa!
“O único espaço que o Homem deixa de explorar é o seu mundo interior” Osho.
            Não nos foi ensinado, não nos chamaram a atenção para essa direção inexplorada – nosso mundo interior, o que somos, como somos, porque somos... Ficamos desatentos de nós mesmos e passamos a vida acumulando coisas, perseguindo títulos e pessoas. Estudamos muito, acumulando muito saber (tantas vezes com pouca sabedoria) para sermos acatados como “intelectuais”. Queremos saber as respostas a todas as perguntas, mas as direcionamos sempre para fora, para o mundo, para os outros.
Mas o tesouro, a felicidade, só será alcançada quando formos, um dia de cada vez,  conhecendo , entendendo e desatando os nós que nos aprisionam. Só então poderemos desfrutar da liberdade e serenidade que podem nos fazer felizes. Esse caminho precisa ser percorrido, Passo a Passo, com perseverança, paciência, ternura, alegria, entusiasmo, humanidade...
            Na verdade, precisamos fazer apenas uma correção de rota. Mudar a direção de nosso olhar – 1º EU.  Procurar ver dentro, com o foco de atenção em nosso interior: pensamentos, sentimentos, comportamentos. Ver, rever, entender e modificar nossa história. Não será difícil se encararmos esse caminhar como a grande e incrível aventura de nossas vidas. Não exige força, dinheiro, conhecimentos, prestígio, poder...
Só é necessário desejo, boa vontade e a certeza de que Vale a Pena.
            “A menos que você adentre o santuário de seu próprio Ser, sua vida será um desperdício, um desperdício inestimável” Osho.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

INSENSIBILIDADE



É fruto da incapacidade de nos colocarmos na “pele” do Outro. Em meio a tantas lutas e disputas, acabamos por não fazer nenhum movimento nessa direção, com esta intenção. Negamos ou desconhecemos a dor dos outros, sua vulnerabilidade, seus gostos, seus desgostos, sua humanidade. Numa atitude de autodefesa, orgulho e distanciamento, nós nos blindamos, não nos deixamos tocar, sensibilizar.  
Nossas defesas rígidas nos afastam, tornam os outros nossos rivais, possíveis ameaças. Num mundo competitivo, repelimos os diferentes, os “de fora” de nossa família, de nossa religião, raça, orientação sexual, cultura...  Passamos a vê-los como adversários ou até inimigos.  Sua dor não nos toca quando racionalmente os analisamos, julgamos, condenamos, ou até absolvemos. Não os sentimos, por isso não conseguimos ter compaixão, ternura, compreensão... Só nos inspiram indiferença pelo distanciamento ou perigo pela proximidade. De um modo ou outro, somos induzidos à luta, à violência, podendo chegar à crueldade. Tomamos atitudes aprendidas, repetidas, toleradas, até justificadas, nesse jogo perverso em que se tornam as relações. Todos esses mecanismos aprendidos socialmente como defesa, na verdade, nos aprisionam e nos distanciam de nós mesmos, de nossa capacidade de sentir, de nossos sentimentos. Antes mesmo de nos tornarmos insensíveis aos outros, vamos perdendo a capacidade de nos sensibilizarmos, vamos endurecendo, escolhendo com avareza o pouco que nos permitimos sentir e os poucos selecionados de quem nos aproximamos afetivamente.
Insensibilidade é rir e ajudar a ridicularizar alguém, antes que riam de nós, para nos sentirmos enturmados, aceitos pelo grupo, dizendo com falsa inocência e ironia: É só brincadeira! Você não sabe brincar?
Insensibilidade é alardear superioridade, vitórias, conquistas, até generosidade, constrangendo aqueles que se sentem inferiores, derrotados, desestimulados, necessitados.
Insensibilidade é criticar e ironizar pessoas, coisas e situações em frente àqueles que as amam.
Insensibilidade é nos irritarmos com deficiências e incompetências de crianças, idosos, dos outros enfim... E cobrarmos performances que a pouca experiência de uns não torna possível e as limitações de outros já impossibilita. É tratarmos crianças como adultos e idosos como criancinhas.
Insensibilidade é banalizarmos sentimentos e necessidades íntimas das pessoas.
Insensibilidade é...
É também perdermos a capacidade de nos identificar com a vida que se manifesta nos seres (quaisquer) à nossa volta. E, quando não a SENTIMOS, podemos passar, “sem sentir”, da insensibilidade à crueldade. Num mundo de luta, de “vale tudo”, nada nos toca, tudo se justifica. Num mundo tão competitivo, de crenças e objetivos tão materiais, de tecnologia exagerada e endeusada, perdemos mais facilmente contacto com nossa sensibilidade, com nossa humanidade, com nossa dignidade e essência de seres espirituais. É um viver empobrecido, num mundo árido onde, para não nos machucarmos, nós nos encapsulamos, ressecamos, “morremos” e nem sentimos. Mas não é o que buscamos, não é o viver que nos pode nutrir a dimensão espiritual, nos aquecendo de alegria, ternura, cuidados... Um viver que faça tudo valer a pena. É importante estarmos atentos, docemente atentos, em Manter o Coração Aberto