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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

NESSA PASSAGEM II



            O que estou abandonando, construindo ou deixando, nessa minha Passagem?  Estou conseguindo largar cargas inúteis, pesadas, antigas? Algumas dessas cargas nem eram minhas, realmente! Eram cargas que me tolhiam, que me direcionavam para o que eu nem queria!  Estou conseguindo abrir mão de uma herança que me obriga a ser mera repetidora de “certezas” e escolhas familiares ou sociais? Mas, em contrapartida, estou conseguindo garimpar essa herança de tradições e ficar com o que elas me trouxeram de melhor em sabedoria, aprendizados...?

            Como estou conseguindo viver e conviver com a Verdade? A verdade do que, realmente, eu quero, do que posso, do que devo?
Tenho vivido porque estou viva e “vou levando” ou já busco, e até vislumbro, um sentido, um significado, nessa minha Passagem?
Consigo, então, ser leal à minha “missão pessoal”, às minhas responsabilidades primeiras comigo mesma, sem negar, no entanto, minhas outras responsabilidades com a família e com o mundo?
 Até que ponto estou conseguindo conciliar tantos aspectos?

            O que estou construindo? O que levarei comigo dessa Passagem?
Levarei uma noção razoavelmente real de meus acertos e erros?
Levarei a graça do auto perdão e da aceitação por mim mesma desses erros,  com a responsabilidade de fazer cada vez melhor, porque assim é melhor!?
Seguirei daqui mais livre, ainda que com uma imensa tristeza de não ter conseguido ser melhor, de não ter amado melhor?

            O que deixarei nessa Passagem? Como serei lembrada? Minhas atitudes, minha “marca”, meu estilo, estarão presentes de algum modo na vida daqueles que passaram por mim? Se forem marcantes, para o bem ou para o mal, caberá a eles tirarem algum aprendizado de nossos encontros ou desencontros!

            A gradativa consciência de nossa impermanência, de nossa finitude Aqui, me leva a reflexões (emotivas ou não) sobre essa nossa “breve” Passagem, uns pelos outros. Somos seres únicos, mas com a mesma origem sagrada e por isso somos seres sociais. Queremos ser vistos, entendidos, valorizados, amados! Vamos continuar nossa caminhada, em outras Passagens, com outros encontros. Para isso preciso e quero caminhar mais leve, mais livre. Não importa que bagagem eu traga, que desafios eu ainda tenha que confrontar! Nessa Passagem está uma grande oportunidade.

            E ela é a Graça Maior que nos é concedida por um Poder Superior de Puro Amor!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

BOM DIA !



            Quem é essa pessoa no espelho? Rosto amassado ao acordar, olhos ainda sonolentos, cabelos desgovernados... E quanto mais o tempo passa, mais forte e chocante é a imagem que o espelho nos devolve!
Essa pessoa muitas vezes está acordando para realidades difíceis, para dias vazios de significado, de ócios tristes, de falta de perspectiva... Ou acordando para dias de muito trabalho, tarefas demais, repetindo “tenho que...”, já cansada, sem alegria, acovardada por tantas obrigações...
Ou, depois do alívio pela fuga do sono, acorda para o desespero de voltar a uma realidade de dor extrema, às vezes de puro horror, de agonia e medo, para o triste enfrentamento desse novo dia...

            Essa pessoa se “arruma” e sai para dar conta de suas rotinas ou desafios... Quando consegue, formalmente educada, cumprimenta os outros de modo seco e rotineiro ou usa uma máscara gentil e sorridente e vai repetindo: Bom dia! Bom dia!

            Na verdade, essa pessoa que me olha, precisa de cuidado e encorajamento. Precisa da lembrança que é portadora da centelha de uma Luz Maior e de um instante da minha atenção. Atenção com respeito pela pessoa que ela é e pela história que lhe deixou essas marcas que me confrontam. Uma atenção carinhosa e gentil, de acolhimento e ternura, porque esse tipo de atenção e atitude é que nos aquecem e fazem nossos dias, quaisquer dias de nossa vida, valerem a pena. Uma “piscadela”, uma atenção bem humorada, paciente, até sorridente, tem o poder de tirar o peso antecipado de minhas expectativas irreais ou pessimistas.

            Essa atenção, nesse pequeno instante, faz toda a diferença. É a forma de trazer a leveza, aceitação e coragem que preciso para viver. Sorrio então e começo a desfrutar de um dia que resolvi tornar – um bom dia. A partir daí, torna-se natural ir ao encontro da vida, desejando a todos, sinceramente, um Bom Dia! 

sábado, 19 de janeiro de 2013

ELEGÂNCIA



           Todos nós reclamamos e sofremos nesse mundo, que acusamos de violento, agressivo, desleal, competitivo, defensivo, grosseiro... E todas essas características resultam de um modelo egóico, que privilegia o material, o racional, o prático, o objetivo, na busca do sucesso, de sermos vencedores nessa corrida pelo prazer, pelo ter, pelo acumular, pelo vencer, pelo submeter! Hoje, colhemos, todos, os frutos desse viver egoísta, desamoroso, deselegante!

            Alguém disse que precisamos de mais elegância em nosso viver e muitos acharam que era tolice! Isso porque quando falamos de elegância só conseguimos entendê-la em nossa visão materialista. E essa visão nos remete à idéia de estilo, características e modismos de objetos e pessoas, enfim, uma elegância material! No entanto, mesmo material, a elegância tem aspectos que envolvem uma estética de despojamento, comodidade, temperança, simplicidade...

            A Elegância possui atributos que nutrem nossa dimensão espiritual, que tornam melhor nossa vida interior e de relação, que favorecem nosso caminhar para patamares mais felizes, mais altos.  Por isso ela faz parte das nossas necessidades mais altas, necessidades de seres espirituais que somos.

            Viver com Elegância é procurar ser gentil e ético, consigo mesmo e com os outros. É procurar cooperar, ser solidário...
- é procurar ser respeitoso, ser verdadeiro, honesto...
- é buscar a tranqüilidade, estar calmo, não atropelar, ouvir-se, ouvir...
- é falar sem gritar, é sorrir para as pessoas (não das pessoas)
- é defender o ausente, em vez de criticar e debochar!
- é buscar educar nossos pensamentos e atitudes para estar em sintonia com uma ética amorosa, marcada pela gentileza, pela delicadeza, pelo cuidado, pela atenção...

            O quanto conseguirmos vivenciar esses atributos, o quanto conseguirmos “caminhar” com Elegância, certamente, traremos serenidade, simplicidade, suavidade, leveza, à nossa vida, ao nosso pedacinho de mundo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ACOMODAÇÃO



           É o que acontece quando nos acomodamos às situações, não porque estejamos satisfeitos com elas e sim para evitarmos ação, para não enfrentarmos mudanças. Mas tudo que não se movimenta, que não se modifica, acaba por adoecer, até morrer! Algumas relações vão se tornando destrutivas, distorcidas, em conseqüência da estagnação a que as forçamos, acomodando... Conformamo-nos com o que está mal, desistindo de desfrutar o que pode ser bom!

            Acomodamo-nos às rotinas indesejáveis, nos enganando, desatentos, afirmando que “assim é melhor”, que “em time que está ganhando não se mexe”, deixando de perceber que o “time” já se desarrumou, que já está perdendo, que talvez o jogo já tenha até acabado!

Nós nos enganamos, acomodados, olhando outras relações à nossa volta, relações falidas, repetindo - “é assim mesmo”! E responsabilizamos o tempo pela falência dos nossos amores!
Nós nos desculpamos, cansados, frustrados, e já então, acomodados, pelas tentativas erradas e infrutíferas de mudar o outro! E esperamos que um novo Outro apareça, nos salve e traga felicidade... Acomodamo-nos à espera fantasiosa de sermos “salvos”, sem precisar agir e nos modificar!

Nós nos enganamos, acomodados, deixando aos outros a iniciativa de atitudes de mudança que sacudam a relação para, então, nos sentirmos vítimas e, magoados, reagirmos contra a mudança!

A acomodação nasce do medo de enfrentarmos as distorções e desvios resultantes de nossas relações equivocadas conosco mesmos e com os outros. E do medo de encarar o novo que nossas mudanças trarão para nós mesmos nessas relações.  Ela é nutrida pelo auto-engano , quando nos negamos a ver (ou rever) nossas crenças/pensamentos, sentimentos e atitudes e pela preguiça, um defeito de caráter que, por comodismo, tendemos a minimizar, mas que nos mantém encalhados, estagnados, desviados de nosso alvo – a Felicidade.

            Só uma atenção honesta conosco mesmo nas nossas relações e uma ação corajosa, perseverante, cuidadosa e amorosa nos tornará livres da letargia mortal da Acomodação.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

DESAPRENDER



            Falamos muito sobre as dificuldades e os desafios de qualquer aprendizagem, mas talvez não nos tenhamos dado conta do desafio maior que é o desaprender!

            Desaprender é abrir mão de nossas “certezas”, é abrir espaços dentro de nós para que o que nos fora passado como verdadeiro possa ser revisto; é não permitir que marcas de experiências passadas se eternizem no presente; é desprender-se do que nos parecia definitivo, porque tudo na vida é passagem, tudo é passageiro.

            Desaprender as respostas tidas como certas e definitivas, é necessário, porque a vida vem trazendo sempre novas perguntas. Precisamos render-nos às nossas dúvidas e admitir que talvez existam outras possibilidades... E aceitar que não somos os donos da verdade, do conhecimento, da razão; que outras visões, talvez, sejam melhores que as nossas!

            Desaprender é acolher a humilhação desse desafio ao nosso orgulho, à nossa arrogância, à vaidade e pretensão do mais saber... e transformá-la em Humildade, para a possibilidade de um novo aprender.

Desaprender requer perseverança e boa vontade para desmontar hábitos arraigados no pensar/sentir/agir que nos assaltam e ameaçam voltar a todo momento. É o desarrumar necessário a uma nova arrumação, a uma nova ordem, a uma nova organização... E que esta seja também provisória!

Desaprender é deixar ir... Criar um vazio, para poder admitir o novo, re-significar o antigo e continuar o processo... Isto é evoluir!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

OS FORTES TAMBÉM CHORAM



           Os fortes choram choros contidos, bloqueados, às vezes escorregados, fugidios, furtivos... Choros assustados e assustadores para eles mesmos, choros que lhes ameaçam ser como o rompimento de uma imensa barragem que, uma vez excedida, tudo alaga, incontida, avassaladora, parecendo tudo arrastar, até tudo se acabar...

            Os fortes sofrem! Sofrem como qualquer um! Têm medos, ansiedades, carências, mágoas, tristezas, desesperos... todos silenciosos, calados, mudos. Eles só se permitem, às vezes, demonstrar suas raivas, revoltas... porque parece que esses sentimentos combinam melhor com o que se espera de sua força! Os fortes mostram aos outros uma máscara muitas vezes fria, dura, retesada pelo esforço de mantê-la. Dos outros, recebem elogios pela força ou censuras pela indiferença. Os fortes sofrem, mas sua dor não é percebida e eles sentem-se profundamente sós!

            Os fortes estão sempre divididos entre o que desejam e até necessitam (mas temem sentir e, mais ainda, demonstrar) e ser apenas “gente”. Queriam ser abraçados, acarinhados, consolados, cuidados... mas, ao mesmo tempo, tudo isso os faz sentir ameaçados por sua fragilidade assim exposta, revelada... Estão cansados de ser fortes, cansados de ter que tomar iniciativas, atitudes, decisões; de ter que cuidar dos fragilizados, de ter que atender às expectativas de todos à sua volta... apenas porque são fortes! Estão cansados, queriam apenas relaxar, poder chorar, pedir ajuda, receber cuidados, atenção, proteção... Queriam ser percebidos mais intimamente em suas necessidades e carências afetivas... Como sair desse impasse?

            Como conseguir sua inteireza? Como assumir suas características de fragilidade e força, às vezes tão antagônicas? Como abrir mão do orgulho de ser o mais forte, da vaidade de ser “uma rocha”? Como desistir do controle de ser aquele que orienta, que decide, que comanda, que direciona? Como desistir dos rompantes de raiva, que amedrontam os outros, que servem de válvula de escape das necessidades íntimas tão sufocadas? Como ousar se permitir ter necessidade de carinho, afeto? Como admitir sentir medo, saudade, dúvidas...?

            Sair desse impasse interior requer processos e procedimentos também interiores: Humildade, honestidade, auto respeito... e “Coragem para mudar” na construção paciente e perseverante de uma auto estima que privilegia o que realmente sou e o que posso – “Só por hoje”.