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sábado, 30 de agosto de 2014

QUANDO A “FICHA CAI’’


           Depois de um processo, às vezes muito longo, sofrido, de pura agonia, um dia, finalmente, a “ficha cai”.  Lutávamos pelos nossos sonhos, pela “realidade” idealizada e tão desejada, alicerçada no amor, posse e modificação  daqueles que amávamos e que tão desesperadamente tentávamos segurar. Lutávamos contra a perda da “eternidade” de nossos amores...

            Na verdade, a impossibilidade dessa posse já se anunciava havia muito tempo, mas lutávamos com todas as armas, forças e estratégias para anular os riscos, calar nossas dúvidas, tentando salvar a felicidade que acreditávamos estar naquelas relações. Não podíamos perdê-las – para a morte, para a vida, para outros. Quanto tempo já durava essa luta? Com esse propósito já nos envolvemos em tantas batalhas! Já estávamos cansados, esgotados, desconfiados de nós mesmos, pressentindo talvez a derrota que tanto nos assustava...  Alguns processos são como um longo trabalho de parto, que exaure e traz dor, mas nosso próprio medo não deixa que se conclua - para finalmente acabar...

           Mas, como nada pode deter a vida atuando em nós, um dia, num momento, mesmo à nossa revelia, a Graça da Vida se manifesta em nós e a “ficha cai”. A cortina que teimávamos em manter frente a nossos olhos cai e a realidade nos inunda - com muita dor, mas com uma luz que liberta!  Já não adianta negar os fatos que se impõem, não adianta lutar com o impossível! Não é um “bom combate”! É um combate absurdo querer possuir, dominar e modificar alguém, pelo bem, por amor... Não importa, é uma luta perdida!

          Quanta dor nesse momento! É como um rasgar-se...para libertar-se, salvar-se! E, então, nos sentimos serenos! E somos possuídos por uma calma estranha a quem só conhecia agonia e medo! Estávamos rasgados, chamuscados, machucados... (tão machucados!), mas livres – porque as nossas verdadeiras prisões são internas!

           O momento do confronto e conformação doída com nossa impotência e a posterior aceitação da verdade, em quaisquer circunstâncias, nos impulsionam e  determinam a superação de uma etapa “infantil” e fantasiosa. Eles  nos possibilitam um caminhar com mais serenidade e sabedoria. E só isso é que pode nos trazer, realmente, felicidade.


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

COM GENTILEZA, POR FAVOR


            Por que somos, tantas vezes, tão malcriados, impacientes, grosseiros, desatentos, indelicados, críticos duros, até agressivos, com nossos pais?    Será porque temos tanta certeza do amor deles por nós?

            Por que somos, tantas vezes, irônicos, possessivos, maldosos, mentirosos, críticos arrogantes, cobradores impiedosos... de nossos companheiros, companheiros que escolhemos para amar?  Será porque confundimos “intimidade total” com “posse eterna”?

            Por que somos tão possessivos, “sem cerimônia”, críticos constantes, agressivos... com nossos filhos? Será porque confundimos “amor maior” com permissão para invadir, “torcer” e “descascar”?

            Por que gritamos, competimos, manipulamos, queremos derrotar e ter sempre razão com as pessoas que mais amamos?  Será porque amar é “assim mesmo”? Será por isso que somos tão educados e respeitosos somente com os estranhos, com quem não amamos?

            E por que aceitamos, também, todo um tratamento tão grosseiro, indelicado, pouco gentil , desamoroso,  tantas vezes humilhante...  de nossos filhos, companheiros, dos familiares mais próximos e queridos? Tudo que fazemos, acabamos também recebendo!  Será mesmo, então, porque acreditamos que amar é invadir, desrespeitar, lutar com quaisquer armas para cuidar e manter a “posse” daqueles que amamos?  Será que achamos tudo “normal” e por isso entendemos que “amar é sofrer”?

            Aprendemos e ensinamos esse amar “normal”, mas que certamente não é natural! Natural é que se trate gentilmente com gratidão, paciência e respeito aqueles que nos receberam e, pacientemente, nos protegeram e acompanharam...  Natural é que gentilmente amemos o Outro pelo que ele é não pelo que queríamos que ele fosse... Natural é que o amor aos “nossos escolhidos” se construa gentilmente com paciência, honestidade, firmeza, respeito e generosidade, mesmo enquanto as fantasias da paixão vão se diluindo no cotidiano... Natural é acompanhar gentilmente os filhos, abraçando com cuidado para não prender, desqualificar, cobrar, sufocar... Natural é que meu amor cuide gentilmente, com alegria e carinho e meu falar transmita tudo isso...

            Essa é a natureza do Amor! E ela precisa ser revelada, a cada momento, na gentileza com que trato aqueles que amo!  E como é difícil deixar o normal e buscar o natural de amar! Mas vale a pena, porque um nos maltrata e afasta e o outro nos traz a gostosura do bom encontro – alegre, confortável, confortante, doce...

É isso!  O amor é leve, suave, elegante, gentil...!


Com gentileza, por favor!  Com gentileza, por Amor!



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

TRAUMAS


Em maior ou menor grau, trazemos em nós, em todos os nossos níveis, vestígios de situações difíceis, dolorosas, inesperadas, traumáticas, que enfrentamos e que nos deixaram marcas, sequelas...
            
O trauma é desencadeado pelo “inesperado ruim” e pela magnitude da dor causada pela situação naquele momento. E estão, ambos, ligados às nossas expectativas, ainda que inconscientes, do que queremos ou do que acreditamos precisar para sermos felizes... 

Traumas nos marcam
- quando acidentes inesperados nos agridem fisicamente, nos roubam a mobilidade, a capacidade, a inteireza de nosso corpo...    - quando recebemos diagnósticos de doenças graves, que entendemos como ameaça de morte, confrontando nossos sonhos e a expectativa de uma vida, sempre e ainda, longe do fim...
 - quando sofremos abusos e desvios, inconcebíveis à nossas expectativas infantis, dos adultos que deviam nos proteger...
 - quando somos confrontados com a realidade dolorosa dos desvios de nossos filhos, desvios que jamais esperávamos pudesse acontecer em nossa casa...
 - quando enfrentamos o momento da perda inesperada dos nossos amores. Trauma ainda maior quando essa perda é de crianças ou jovens, porque nossa expectativa é a de que sairíamos de cena muito antes deles...
 - quando acordamos para as mentiras e as traições daqueles que tanto amamos e em quem tanto confiamos...As  nossas “certezas” destruídas nos causam horror, susto, imensa dor...  Elas nos “tiram o chão”, porque as imagens idealizadas que construímos das pessoas são, então, quebradas, ficam esboroadas... E o especial valor que acreditávamos ter em suas vidas era pura ilusão...

            Os traumas nos marcam e permanecem em algum nível dentro de nós porque fomos sacudidos, derrubados, em nossas crenças idealizadas e nas expectativas de um viver sem dores e desafios. Enquanto insistirmos numa atitude de expectativas tão idealizadas, apenas nos expomos a sermos muitas vezes traumatizados – até conseguirmos desejar/sonhar sem expectativas ideais sobre o processo da vida, até aceitar que somos parceiros impotentes do destino dos outros, que as pessoas são como ainda são e nossos relacionamentos com elas devem ser gentis e amorosos, mas com limites, firmeza e prudentes, respeitosos.

            A vida, em eterna mudança, nos sacode todo o tempo. Preciso aprender com minha história, preciso reconhecer minhas sequelas, muitas ainda tão atuantes, e entender os traumas que as originaram. Preciso ter flexibilidade para as revisões e mudanças, porque se permanecer rígida, “inocente”, sem aceitação da vida – os traumas podem acabar por me quebrar !

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

IMAGENS


             Qual a imagem que tenho de mim? Como me vejo? Como me percebo?

Temos uma auto imagem que é/foi construída ao longo de nossa vida através, principalmente, de como éramos vistos, nomeados, cobrados... reforçados continuamente por adjetivos, expectativas – positivas ou negativas – na família, na escola, na igreja...  São imagens criadas, rótulos familiares que nos foram impostos de forma leviana, superficial, prematura, na medida em que nada sabiam “a priori”, realmente, de nossas dificuldades e possibilidades.  E essa auto imagem criada nos aprisiona, não nos deixando descobrir o que queríamos/ podíamos  ser, o que ainda somos,  do tanto que seríamos capazes...

 Apenas acreditamos, aceitamos, nos submetemos, nos enganamos e, assim, fomos caminhando pela vida, tristes ou humilhados, tolos ou arrogantes, ruins ou bondosos, inteligentes ou ”burros”, etc...E quando não aceitamos esses rótulos, de forma surda ou gritada, quando nos revoltamos com a imagem que nos foi imposta, carregamos pela vida uma eterna luta, tendo muita dificuldade em descobrir e afirmar quem somos e o que realmente podemos e queremos.

É muito difícil ao indivíduo nadar contra a corrente do grupo social. Precisamos tanto de aprovação! Na maioria das vezes parecemos nos submeter ao jogo e acabamos por construir uma imagem para expormos ao mundo, nos tornamos um mero produto para “uso externo e complicamos  para sempre quaisquer relações mais verdadeiras em nossas vidas.

Qual a imagem que revelo ao mundo? Elas são imagens que criamos, adequadas às circunstâncias e aos grupos onde estamos. Em função disso, construímos às vezes várias imagens, muitas delas conflitantes entre si!  Elas funcionam como “máscaras de ferro”, na medida em que nos aprisionam porque temos muita dificuldade em sairmos do “abrigo” dessa imagem adaptada. “Sou assim! Já me conhecem assim! Não preciso ousar nada diferente...”

Imagens, impostas ou escolhidas, são apenas disfarces, armaduras, fantasias, que nos impuseram ou que nós mesmos forjamos e projetamos no mundo para aprovação social ou por acomodação. Através delas podemos nos acreditar ou nos mostrar ameaçadores, superiores, arrogantes, inatingíveis... ou pequenos, menores, “humildes”, sacrificados, incompreendidos...

Imagens têm um custo energético, emocional, espiritual e até  “evolutivo”.  Enquanto estivermos reféns  delas não nos permitiremos ser quem somos, descobrir o que podemos ser  e nem nos relacionaremos com honestidade e confiança. O que poderá ir nos libertando é o exercício constante da “quebra de imagem”, É ousar olhar com mais verdade para o que sinto, penso e posso e agir de modo “inesperado”, mas verdadeiro.

Quando a imagem que tenho de mim for se revelando mais simples e real e eu conseguir ir transmitindo-a ao mundo, igual e verdadeira, sei que estarei a caminho do respeito e da libertação de mim mesma.

domingo, 10 de agosto de 2014

HISTÓRIA


           Todos temos uma história. Aliás, tudo tem uma história!     Cada história vai-se eternamente construindo pelos momentos, frutos de situações e do modo que escolhemos, ou podemos, viver estas situações.

            Fazemos, também, parte de uma História Maior. Nela está contida a nossa história, perdida num “continuum” de espaço/tempo onde desconhecemos o início e o fim! Essa curta passagem que conhecemos hoje é apenas uma ínfima etapa desta “história sem fim”. Mas é uma etapa viva, com movimento, com altos e baixos, que interage todo o tempo com outras histórias e assim se constrói e continua...

            Somos fascinados por histórias humanas, passadas e presentes. Queremos informações da história dos outros em livros, noticiários, filmes, novelas, conversas, “fofocas”... E todas elas nos assombram e inspiram, porque em todas podemos descobrir abismos do mal e possibilidades sem medidas do bem.

            Buscamos saber quem somos e para tanto nos voltamos ao passado: o nosso, o dos nossos, o da nossa cultura... E temos curiosidade de conhecer as histórias das outras, tão diferentes - mas de gente como a gente! Talvez possamos assim responder àquelas questões que tanto nos instigam: Quem somos? De onde viemos? Por que viemos? Para onde vamos? Queremos respostas que a mente racional ainda não consegue responder. Afinal, queremos entender, agora, a História toda, observando daqui, de nossa atual passagem, tão curta!  As respostas, nós vamos intuindo e vamos construindo com o aprendizado do passado e a vivência do presente.

            Acredito que queiramos conhecer e entender o que fomos e somos para melhor nos situarmos nessa eterna viagem “de volta à casa do Pai”, viagem de reencontro com a origem/fim!  Fazemos parte dessa caravana humana, onde várias vezes tropeçamos, caímos, nos levantamos, mas, afinal, sempre continuamos.


            Sou hoje, agora, a cada instante, responsável pelo meu caminhar, pela construção de minha própria 
história. E as pessoas que mais amamos também têm suas próprias histórias e são as responsáveis por elas, independente da nossa tentativa de controle! Quero me lembrar sempre de honrar a dos que me antecederam e de respeitar a daqueles que passam pela minha vida. Quero ter a consciência de que, ao viver, estou fazendo parte da eterna construção dessa História Maior e de que esta deve ser, necessariamente, cada vez melhor.


terça-feira, 5 de agosto de 2014

ETAPAS


           Iniciamos nossa caminhada nesta vida, leves, “sem noção”, com a “inocência cor de rosa” dos inícios, quando ainda não temos lembranças do antes, nem medo do depois. Vivíamos nessa primeira etapa, na infância, a bênção do agora, do momento...

Mais tarde, proibições, cobranças, enganos, desenganos, dores... por amor ou sem amor, começaram a nos acordar para as dificuldades da vida e de nossas relações. Chegara o momento de nos “darmos conta” dos problemas, dos desafios.

Logo buscamos soluções para as nossas dores nas pessoas do mundo à nossa volta: imputamos culpas, procurávamos desculpas, queríamos que outros lutassem as nossas lutas e atendessem às nossas expectativas, que nos trouxessem anestesias para as nossas dores, que dessem sentido e significado às nossas vidas, às vezes tão vazias...

E durante muito tempo sofremos, em vão procurando as respostas nessa direção errada, até que, humildes, pudemos admitir que talvez estivéssemos enganados, que a direção para resolução de nossas questões era outra, estava em nós mesmos!

Passamos então a nos olhar com atenção, procurando por nós mesmos, buscando descobrir os entraves interiores e também os dons que tornariam possível as nossas soluções.

E começamos a entender que precisávamos nos modificar para nos liberarmos. Descobrimos, então, que seria necessário algo mais: precisávamos desejar e querer nos modificar, para podermos conseguir as forças, o entusiasmo e a coragem para mudar!

E a cada dia fomos conseguindo conquistar algumas “pequenas e incríveis” vitórias pessoais – estávamos finalmente fazendo a diferença em alguns aspectos de nossas vidas! E nos deslumbramos e desfrutamos nossas conquistas, nossos pequenos traços de liberdade!

Mas a vida continua e novos desafios e novas dores nos convocam para novas descobertas. E continuamos, já com um saber maior, até com alguma sabedoria. Já é mais rápido o “dar-se conta”, já sabemos também a direção certa para as novas descobertas, e já sabemos que precisamos e queremos as nossas mudanças. Já estamos aprendendo a aceitar e lidar com nossos medos, fugas, negações... e onde buscarmos nossa força. Já estamos adquirindo uma doce intimidade conosco mesmos. Já sabemos que uma Força Amorosa nos habita, confia em nós e isso nos torna mais confiantes e pacientes! Já descobrimos até a alegria em ser quem somos!

  Embora nossa natureza, ainda tão humana, nos faça resmungar e reclamar... sabemos que vale a pena continuar!

O caminho não acaba, mas torna-se, certamente, cada vez mais seguro e gratificante o nosso caminhar!