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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

NOSTALGIA


          É o sentimento que nos invade, suavemente, quando nos entregamos às doces lembranças do passado. Mas esse sabor adocicado traz também um travo de amargor e tristeza pela consciência de que tudo aquilo se foi... mesmo as lembranças mais engraçadas e alegres!  Suas cores vivas vão adquirindo um tom sépia, vão se esmaecendo, se distanciando... A casa da infância, nossos pais, avós, tios... as brincadeiras e brigas com irmãos, primos, coleguinhas... as festas e festejos na infância e juventude... o início dos amores, o deslumbramento do amor... a inesquecível  chegada dos filhos...o viço e a força de nossos corpos jovens.... Lembranças dos tempos especiais, quando ainda tínhamos poucas perdas, quando o passado era mais leve, mais colorido, mais doce...

A nostalgia não nos desespera pela perda do que se foi. Ela apenas nos leva para o que foi bom no passado e lá pode nos aprisionar, “encantados”, numa neblina leve, algo lacrimosa, suavemente queixosa, de baixa energia, onde não cultuamos a vida e sim o que já não existe ...

            Sob a influência da nostalgia aquela cor sépia do passado parece se espalhar pelo presente, tirando-lhe força, graça e beleza. Se permanecer nesse estado, parece que a força e entusiasmo para a vida vão-se esvaindo, porque  “só no passado é que era bom”... A promessa gostosa das lembranças me leva a constantes fugas do presente, que pode ficar me parecendo sempre complicado, tedioso e sem brilho. Se essa influência se transformar numa opção em nossa vida, vamos nos tornando apáticos, meio letárgicos, só meio vivos...

            É muito bom ter lembranças doces em minha história. Elas certamente ajudaram a formar o melhor do que sou hoje. Forjaram minha força e meu estilo para viver. Elas fazem parte do meu passado, que honro, mas apenas eventualmente devo visitar. Eu não posso me deixar cativar e ficar refém da nostalgia...  A Vida requer entusiasmo, atenção e presença  para o que está acontecendo, para as possibilidades do Aqui/Agora.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

RESSENTIMENTO II


           É o que nos mantém congelados no tempo , em situações que classificamos de ruins e dolorosas, mas que nos negamos a deixar para trás e seguir adiante. Mantemos rigidamente a mente fechada, sem possibilidade de um “outro olhar” para esse passado, sem possibilidade de ressignificar essas situações, com o coração dolorosamente sentido, ofendido, trancado e transformado  num símbolo de nossas dores e de nosso orgulho ferido!

            A opção pelo ressentimento traduz um espanto magoado, quando nossas expectativas de valorização e afeto foram frustradas, ainda que fossem expectativas irreais e ideais. Idealizamos os objetivos que almejamos ou as pessoas que escolhemos, as que “possuímos” e que amamos. São objetos do nosso desejo, do nosso amor, das nossas expectativas. Acreditamos que são nossos e que não poderiam nos decepcionar! Nossas crenças equivocadas e nossa personalidade orgulhosa, mesmo quando sob uma máscara de humildade, nos levam a eternizar situações doídas, imperdoáveis, que remoemos pelos tempos afora, que retroalimentamos com lembranças plenas de mágoa, raiva, irritação, frustração, culpa, vergonha... Merece também atenção o ressentimento que carregamos contra nós mesmos por não termos sido o que esperavam de nós ou por tudo que queríamos ser e não fomos. Falhamos, nos culpamos e, ressentidos, não nos perdoamos.

            O Ressentimento, muitas vezes, se esconde de nós mesmos sob uma máscara de indiferença e superioridade, de racionalização dos sentimentos. Mas nesse coração fechado e equivocado se instala o azedume, a amargura, a frieza... o medo de perdoar, de tentar ou de amar e, novamente, se decepcionar!

            Esses sentimentos e ressentimentos detonam em nós comportamentos que lhe são coerentes. Passamos a nos relacionar exalando esse fel que abrigamos em nossos corações, tornamo-nos desconfiados, inseguros, defendidos, com direito de revidar ... E revidamos com ironias, ofensas, cobranças, lamúrias, manipulações, segredos, mentiras... ou com o abandono!  Acreditamos que a “culpa” de tudo é de quem nos ofendeu, nos mentiu, nos decepcionou, de quem não nos valorizou ou amou como merecíamos. Ou de nós mesmos, que fomos fracos, fracassados...

Enquanto pensarmos assim, seremos reféns da mágoa, da vergonha, da culpa e do ressentimento, quando, na verdade, tudo se originou em nosso orgulho e em nossas expectativas irreais e ideais.

Preciso rever minha história com um novo olhar e ser mais real em minhas expectativas sobre os desejos e possibilidades, de mim e das pessoas.  Preciso ir descobrindo ressentimentos escondidos de mim, que me aprisionam em eterna negação. Preciso, então, compartilhá-los, deixá-los ir saindo, perdendo a força e o poder de tanto me machucarem. Preciso aceitar o exato tamanho de quem fui e de como foram os outros, para me libertar. Preciso ser paciente, perseverante e humilde para poder me transformar e libertar... Afinal, as vítimas, os ressentidos – jamais se recuperam!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL


           Temos pouca consciência de nós mesmos. Usamos nosso corpo físico de modo pouco responsável e inconsciente, até que ele se ressinta, adoeça, enfraqueça... e doa! Pensamos e reagimos  de forma quase automática, da forma que nos ensinaram a acreditar, pensar e fazer. Queremos ter consciência dos outros, como são e porque agem, mas passamos pela vida inconscientes de nossos próprios porquês! Funcionamos acorrentados às necessidades básicas - físicas, psicológicas, intelectuais, afetivas... Funcionamos atados, quase que somente, ao nosso corpo e ao nosso ego, mas sem entendermos realmente, com pouca consciência, de como funcionamos, do que nos prende e nos impede de, finalmente, alçar voos maiores...

No entanto, possuímos uma outra dimensão, da qual somos ainda mais inconscientes, mas que pode nos possibilitar o resgate das outras, que pode nos tornar senhores amorosos e libertadores de nós mesmos – a nossa Consciência Espiritual!

A consciência espiritual é a que emana de nossa dimensão superior, a Dimensão Amorosa. Ela nos leva a sermos observadores silenciosos, serenos, verdadeiros, imparciais e...amorosos, de nós mesmos -  de nossas atitudes, de nossas emoções, de nossos próprios pensamentos, de nosso ego.

Essa consciência é base, está na Origem de Mim. Sempre esteve comigo, mas eu mal a sentia. Talvez apenas “pré/sentisse”. Às vezes, ela se revelava como “aquela vozinha” que me incomodava quando estava dominada pelas querelas do “ego egoísta”. Eu quase não a ouvia/percebia porque meu ego, que “tudo sabe”, orgulhoso/arrogante, brigão, revidando sempre, gritava em mim tão alto, que eu me entregava, me justificava e brigava...

Eu ouvia  falar dessa consciência espiritual!  E eu quis entendê-la racionalmente! Não consegui. Parecia-me uma difícil abstração, até que pude senti-la, percebê-la atuando, serena, advogando o Amor, em mim e nas minhas relações.

            Essa Consciência Interior/Superior/Espiritual me traz para mim mesma. Ela me torna presente, ela é a Presença que pode me dar uma nova orientação. É uma maravilhosa voz silenciosa, suave, paciente, justa e honesta, que murmura em mim e para mim, chamando –me para um  viver mais amoroso.  Essa consciência possui valores que independem do tempo/espaço, das culturas, das religiões, das razões do ego. Essa voz imparcial e generosa me chama para a Justiça, à Firmeza, à Verdade... Ela me convoca suavemente à reconciliação, à compreensão, ao perdão... Ela também me leva ao reconhecimento dos meus erros, ao arrependimento, à mudança.

Hoje, mais atenta, começo a percebê-la de modo mais constante em meus dias. Ela tem me ensinado a reconhecer as “gritarias” do meu ego, mas sem brigar com ele! Ela me leva a conversar com ele, paciente, firme e amorosa, desarmando-o, educando-o e, espero, aos poucos, transformando-o.

A Consciência Espiritual é a suave voz de Deus em mim!

“ A alegria do Ser é a alegria de estar consciente!” Eckhart  Tolle       “O silêncio é a linguagem de Deus, tudo o mais é tradução malfeita!” Eckhar Tolle 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CULPA NO LUTO


         O luto sobrevém às perdas e é sempre tempo de confusão, desamparo e Dor.  “Perdemos” o que nos era amado e básico ou, ao menos, o que era conhecido e nos parecia muito importante...  Coisas, posições, expectativas, ilusões, pessoas/amores... Formavam o nosso mundo, bom ou mau.  Eram o nosso mundo.

          Precisamos de um tempo para buscar um novo equilíbrio, para podermos “digerir” a perda do que se foi, para “viver” essa dor. Dói tanto digerir as perdas! Mas, como se não fosse bastante, nosso ego inconformado, duro, insensível, nos cobra punitivamente. Ele nos enche de culpa por não termos sido perfeitos em nossas relações, principalmente as mais especiais. Ele nos culpa por termos permitido a vida prosseguir, levando nossos amores mais queridos, transformando tudo/todos em passado...

          É preciso atenção, cuidado e generosidade conosco mesmos nesses momentos de luto, de fragilidade emocional, para não sermos presas fáceis da culpa, tão enraizada em nós pela família, pela religião, pela cultura...pelo absurdo da crença na perfeição e da crença em nosso poder sobre as pessoas e seus destinos. De forma cruel, nos açoitamos e torturamos com pensamentos recorrentes trazidos pela culpa:  Por que falhei? Por que não fui diferente, por que não fui mais e melhor? Por que não cuidei mais, com mais gentileza e ternura? Por que não ouvi mais, com mais atenção e respeito? Por que não “enxerguei” mais, com mais sensibilidade? Por que não sorri mais, curti mais? Por que não amei ainda mais?  Como posso, agora, comer, sorrir, desfrutar prazeres... Como ter direito de viver e pensar em ser feliz?

            O luto então, e também, serve para atravessarmos a agonia desses questionamentos maldosos e absurdos, dessa culpa que aprendemos a nos impor.  Mas quaisquer travessias, mesmo as mais difíceis, têm um tempo para acabar. Não podemos ficar remoendo a culpa, tentando através dela manter o passado vivo. Querendo apagar o que fomos, ou o que não pudemos ser... Numa tentativa insana de reescrever a história, transformamos e eternizamos a dor em sofrimento, castigo e punição!

            O passado não volta! A perfeição, ainda, nos é impossível!  Forjamos nosso destino através de nossas escolhas e de como conseguimos vivê-las, nós e os outros. Fomos o que pudemos ser no passado.   Hoje, no presente, preciso ir transformando as culpas pelos meus erros( os reais e reconhecidos), em tristeza, em arrependimento e na responsabilidade em estar mais atenta para tentar fazer diferente, para mudar.

            A tristeza pelas perdas e a dor por nossas falhas nos acompanharão sempre. Elas estão impressas em nós e sempre que acionamos o gatilho das lembranças, sempre que voltamos a evocar esse passado, elas se fazem gritantemente presentes.  Mas, quanto menos o evocarmos, mais esmaecidas elas ficarão pelo processo de aceitação da vida com seus novos desafios, pela humilde compreensão de nossa humanidade e pelo perdão a nós mesmos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ROTINAS


         As rotinas, mesmo tão mal faladas, nos oferecem “zonas de conforto”. Elas nos oferecem uma sensação de previsibilidade, trazem uma ilusória, mas confortável, sensação de segurança.  E, na busca contínua de conforto e segurança, tendemos a criar e nos acomodar às rotinas em nossas vidas, individuais e de relação.  Culpamos o tempo, o trabalho, as necessidades afetivas, físicas e financeiras, os sistemas, os outros... Tudo é desculpa para estabelecermos nossas rotinas, desde o despertar até ao dormir, passando por eventuais momentos fora do usual que, mesmo assim, tentamos vivê-los criando novas e especiais rotinas. Aonde, com quem, de que modo, como... Situações novas, mesmo quando nos excitam, nos metem medo!

Tentamos transformar nossas relações mais queridas em doces rotinas, mas mesmo quando já azedaram ou amargaram, ainda assim, temos dificuldade de abandonar ou desistir da “segurança” dessas rotinas.  De modo ideal, queríamos manter nossos mundinhos rotineiros e previsíveis e nós, dormindo (em sonhos ou pesadelos) ou em “stand by” como tristes mortos/vivos.

Mas a vida não deixa! Estamos vivos para viver! Ela nos sacode (docemente ou não), ela nos empurra para acordarmos.  E tudo muda, se desarruma, nos desacomoda... Envelhecemos, nossos amigos (e até os inimigos!) também, novas pessoas chegam e outras se vão... Nossos amores mais queridos crescem, criam suas próprias rotinas, separadas das nossas... É tão doído sentir que já não fazemos parte do seu dia a dia! Agora somos visitas, intromissões, mesmo que queridas, em suas rotinas... 
 
Algumas vezes nos apaixonamos  por pessoas, por ideias, por atividades que nos fazem “perder a cabeça”, abandonarmos a segurança de nossas rotinas, e então ousamos viver o novo, o diferente! Sentimos medo, mas somos empurrados pela força de nossa paixão. Contudo, logo nos vemos estabelecendo rotinas no que era novo. Queremos ser livres, mas temos tanto medo! É tão desconfortável!  

            As rotinas nos tiram um pouco da alma, nos robotizam. É importante estarmos atentos: Até que ponto cada momento do meu dia e das minhas relações são dirigidos pelo automatismo das rotinas? Estou pensando/escolhendo, sentindo e fazendo “tudo sempre igual”?  Preciso libertar-me! Esta é uma luta perdida  com a impermanência na vida, com a mudança constante de tudo e todos!

domingo, 1 de fevereiro de 2015

DICOTOMIAS


           Somos fragmentos controversos de um Mistério Maior. Carregamos ainda sombras, mas em constante busca de um alvorecer de pura luz.

            Em nós ainda trazemos cascalhos duros, impiedosos, cortantes, desumanos, restolhos de lutas ancestrais pela sobrevivência – E os mantemos vivos nas lutas tão atuais pela sobrevivência de nossas ideias, de nossos haveres, de nossos poderes... Também para essas lutas sobrevivem em nós lodaçais escuros que nos tornam tantas vezes maldosos, manhosos, desonestos... E nessas lutas eternas, somos presas de medos atávicos, grudados, grudentos... medos da vida, do mundo , de nosso mal interior...

            Mas trazemos em nós, também e para sempre, uma vocação para a Luz! Começamos a ter nossos primeiros vislumbres de luz ao nos sentirmos tocados pela doçura do Amor – carinho, ternura, compaixão, aceitação, solidariedade, gentileza... Ficamos fascinados e desejando nos libertar das sombras para melhor desfrutarmos da alegria dessa Luz, para sermos felizes!

            Luz e sombra, dicotomia que ainda existe em mim, em ebulição, em busca de transformação. Tudo que ainda existe e o que já preexistia, tudo junto e misturado, confuso, me confundindo... Tudo e tanto que ainda nem sei, porque ainda não tenho todo o acesso necessário a meu interior, consciente e inconsciente.

            Não adianta querer, hoje, saber, entender, separar, decodificar todo o mistério que Sou e o que ainda estou. É melhor que a mim me baste saber que faço parte de uma Tapeçaria Luminosa, onde cada um de nós é um simples Ponto, mas temos o poder de autotransformação constante para irmo-nos adequando à Obra Prima Divina.

            Somos promessas de pura Luz, soldados/testemunhas do trajeto da Centelha Sagrada em direção à sua Matriz Divina!