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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

DESVAIROS


         Mente correndo solta, sem brida, sem freio...  Mente dominada pelo absurdo, pelas possibilidades mais terríveis, que nos aprisionam como “certezas”:  desastres, traições, abandonos... Mente invadida pela ameaça dos fracassos (materiais, intelectuais, afetivos...), pelas doenças, pela morte... Mente dominada pelo Medo! Mente prisioneira do passado que valida as possibilidades mais terríveis no Futuro... Mente acuada por premonições, pela lembrança de casos, acasos, coincidências ameaçadoras...

            Assim pode ficar nossa mente quando dominada pelos muitos medos, quando resolvemos viajar pelo escuro do futuro: “e se...?”   E, desenfreada, nos leva a buscar alívio e escape no sono alienante, nos químicos, na morte... Ou nos paralisa, e nos leva ao pânico, à somatização, às doenças... Ou ainda nos submete e escraviza com superstições que nos deem a ilusão de segurança: rezas, patuás, rituais...

            O corpo, encharcado da adrenalina liberada pelo medo gerado por nossa mente desvairada, descompassado, em desequilíbrio, necessita desesperadamente de movimento para tentar drená-la!   É preciso, então, andar, correr, falar, brigar, argumentar, chorar, suplicar... “Ah, eu não posso parar. Se eu paro eu penso...”  O Sistema está em colapso! Está fora de controle! Perdemos o controle de nós mesmos!  A mente/ego está numa corrida desvairada e nós, submetidos ao absurdo, sem saber como parar!
            Só uma dimensão acima, superior ao corpo e à mente, poderá nos devolver a sanidade, a tranquilidade. Só essa dimensão, espiritual, poderá sossegar-nos, desligar-nos, ensinar-nos a prestar atenção ao momento, até poder  redirecionar nossa mente.  Preciso experimentar, sentir e acreditar, no poder dessa Dimensão,  sintonizada com um Poder Maior. É de lá que vem a força e serenidade para retomar as rédeas de mim. Sem luta, docemente, pacientemente, sinto a Suave Presença me acolhendo, cuidando de mim, dos meus desvairos, trazendo-me para a realidade do Momento, para a Vida...

            “Pedi e Recebereis” nos foi prometido e, através da Oração, conforme nos foi sugerido, Soltamo-nos e Entregamo-nos a esse Poder de Amor Maior.  E Ele nos traz para o Presente, para o Aqui e Agora, para a Serenidade!

domingo, 16 de agosto de 2015

DESEJOS


           Nossos desejos nascem e existem para além do Presente. Vivem em nosso imaginário como sonhos bons, metas de sucesso ou ainda para nos livrar de perdas. São anseios humanos,  projeções de ideias da mente/ego, baseados naquilo que acreditamos ser o melhor para nós e para quem amamos. É ainda muito difícil deixarmos de desejar, deixarmos de projetar para adiante nosso medo de perdas e a alegria dos ganhos. Distraídos que somos do Aqui/Agora, nos vemos atraídos, arrastados e aprisionados por nossos desejos, que vivem no futuro.

            As crenças que impulsionam nossos desejos quase sempre são baseadas na necessidade de sermos possuidores e acumuladores de bens materiais, de sermos vencedores em quaisquer jogos/disputas ( inclusive as afetivas), na “certeza” de sermos responsáveis pela felicidade de quem amamos, na vaidade de sermos reconhecidos e aplaudidos por nossas performances...Também acreditamos num Deus poderoso e bondoso que pode nos livrar de qualquer mal e do pesadelo das perdas, por nosso “merecimento”. Um Deus que pode nos garantir a concretização de nossos desejos mais caros e “importantes”, também por nosso merecimento e por Sua Graça.

            Em nosso anseio e pressa por respostas aos desejos, facilmente desenvolvemos expectativas. Tentamos controlar situações e pessoas tentando ajustá-los à essas expectativas, dando orientações, cobrando, manipulando, vigiando... E jogamos,  de forma cruel, desrespeitosa  e insensível, todo o peso de nossa ansiedade naqueles que amamos.  Expectantes, vivemos então em estado de vigilância e luta, encharcados de adrenalina, que muitas vezes parece nos viciar e nos leva a perder a capacidade de estarmos serenos para realmente desfrutar nossas relações. Buscamos também pressionar e orientar Deus para nos atender  com rezas, promessas, barganhas, cobranças... Os sonhos, assim, se transformam em pura ansiedade e angústia, para nós e para aqueles que são alvo de nossos anseios.. Tornamo-nos prisioneiros da agonia de querer ver nossos desejos realizados!

            Mas podemos substituir expectativas por Esperança! É só transformar as crenças do ego em um poder superior que existe para satisfazer nossos desejos, na crença em um Poder Maior,  Superior em Sabedoria, Amoroso, Cuidadoso... Poder Maior que tem uma Visão Maior, que entende o que desejamos, mas sabe o que mais precisamos e respeita nossos ritmos e desafios no caminhar... É transformar a crença de que somos responsáveis pelo destino dos outros, pelo entendimento que todos temos um caminho próprio, com ganhos e dificuldades.  Acreditando assim, confiando, podemos entregar nossos desejos a esse Poder e experimentarmos a doçura, a certeza e a paz de esperar o melhor, no tempo e com a sabedoria de Deus. Isto é Esperança, a espera mansa, paciente, humilde e confiante nas decisões de Deus para nossos humanos desejos. 

            Confiantes, com Esperança, vamos aprendendo a nos desapegar da expectativa dessas projeções futuras, buscando o exercício de Soltar-nos e Entregar-nos a esse Deus Amoroso de Sabedoria, cultivando sua Presença e Força em cada momento do Presente.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

NÃO APRESSE O RIO...


          Não chore pelas ondas desorientadas a se debaterem entre elas e a se quebrarem nas pedras...  Não maldiga os ventos fortes que as impulsionam, irritam, encrespam, desorientam... Nem as poderosas correntes que as carregam para longe, que as misturam com outras águas... Nem a poluição que as tornam imundas, as  contaminam  e as desfiguram...  Nem o sol que as evapora, parecendo fazê-las acabar, ir para o alto, morrer... Nem as chuvas que as trazem de volta para novos desafios... Afinal, tudo tem um propósito, um bom propósito!

            Nós somos água, nós somos como as ondas... Centelhas individualizadas da mesma Energia Divina, gotas do mesmo Oceano.  Cada um de nós, amigos e inimigos, bons e maus, “certos e errados” e até mesmo aqueles que mais amamos, somos únicas e particulares gotas divinas a caminho do Oceano!  Podemos parecer tão diferentes ! Alguns, num estágio momentâneo de aparente paralisia como as geleiras e os lagos “fechados e imutáveis”. Outros, em pântanos estagnados, poluídos, outros ainda em um caminhar preguiçoso dos rios de planície, que parecem “fugir do mar”. E ainda os que se atiram em cascatas e corredeiras correndo céleres para o mar, onde se transformam em ondas, ainda a procura do Oceano!

            Todos estamos a caminho, com a mesma meta, intuída, ainda que muitas vezes inconsciente, buscando nosso destino/origem... Cada um em um tempo, com um estilo, com talentos e dificuldades próprios. Podemos demorar a entender, a aceitar... mas nada nos impedirá a chegada, a união, a reunião!

            As dores, os medos, os desafios do percurso nos maltratam, mas nos depuram, lapidam, nos fazem mais límpidos, nos iluminam, nos impulsionam  para a beleza e grandeza de um Oceano de Luz, agora apenas sonhado.  Nesse processo, tudo conspira e nos inspira a seguir.

            Por isso, não culpe, não despreze, não se desespere. Não apresse o rio! Suas águas, todas as águas, até as que já evaporaram, sempre voltam... como tempestade, chuva, chuvisco, para mais uma vez caminhar buscando o Oceano. Todos fazemos parte de um propósito Maior.  Respeite cada gotinha de Deus que encontre, amada ou não, já mais límpida ou ainda muito poluída.  Cada um, qualquer um, é um vaso ainda frágil, cheio de medos, dores, alegrias, sonhos, decepções, acertos e desacertos, claros e sombras... Cada um de nós é uma promessa e uma certeza de Deus, no tempo de Deus.

 Somos apenas como ondas confusas a se debaterem procurando o Oceano, porque ainda não sabemos que já somos parte do Oceano!!!

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

CICATRIZES E SEQUELAS


           São marcas e marcos deixados em nós durante nossa passagem  por esta vida. Algumas parecem até inatas, demonstradas pelas diferentes características de temperamento que já trazemos ao nascer!

            As cicatrizes deixadas em nosso físico são mais visíveis: leves e superficiais ou profundas e perenes. Mas as cicatrizes que trazemos em nossa dimensão psicológica/afetiva, talvez menos visíveis, guardam também as marcas dolorosas que, muitas vezes, tentamos esconder ou esquecer.   São testemunhas silenciosas (ou gritantes!) das dificuldades de nossa caminhada.

 Os traumas pequenos deixam regiões apenas melindradas, mas os traumas muito violentos, inesperados, ou os traumas muito dolorosos e contínuos acabam por deixar vestígios mais profundos e duradouros  - eles nos deixam sequelas.  Essas sequelas, sempre em silenciosa prontidão, nos fazem reviver as dores e horrores do passado. Em nosso corpo físico criam lesões, mutilações, inadequações...  E em nossas dimensões interiores - também.

Trazemos, então, essas marcas profundas, aparentemente adormecidas, escondidas dentro de nós. Podemos, inconscientemente, encobri-las nos deixando tomar por outros sentimentos e comportamentos. É o modo que encontramos para lidar com a dor, com nossa impotência ante algumas situações acima do nosso limite. Encobrimos a Grande Dor com irritação, raiva, frieza, indiferença, sublimação, arrogância...   Mas não nos enganemos, esses sentimentos aflorados são sequelas deixadas pelos grandes traumas.

Outras sequelas só precisam de “gatilhos” para que descubramos o quanto aqueles traumas ainda estão vivos e atuantes. Algumas músicas, cheiros, paladares, filmes, datas... toques de telefone na madrugada, às vezes até a qualquer hora... pequenas ou grandes mentiras, traições, hospitais, doenças, drogas/álcool, abandono, acidentes, humilhações...   Qualquer menção ouvida ou sentida funciona como  uma “sirene” que detona reações em cadeia, trazendo para o presente o nosso medo, horror, agonia, vergonha... a nossa Dor. E se materializam em nosso corpo através de crises de suor, tremor, interferindo em nosso funcionamento físico, causando muita agonia!

Cicatrizes e sequelas são testemunhas do nosso passado doloroso.   As cicatrizes físicas muitas vezes podem ir esmaecendo ou nós nos adaptando. E as poderosas e maldosas sequelas poderão ir perdendo o poder de nos fazer remoer as dores, nos paralisar ou de nos dirigir. Mas precisamos ter consciência delas, entendê-las, compartilhá-las até “banalizá-las”, tirar-lhes o poder de tanto nos assombrar.  Precisamos lidar com os restos desse passado marcado, marcante, com coragem, honestidade, paciência e boa vontade.