Pesquisar este blog

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

SERENIDADE




            Serenidade é um estado de tranquilidade e temperança interior. Ela acontece na aceitação do momento, no desligamento do caos exterior e traz um profundo sentimento de suficiência interior.

            Acredito que são raros esses momentos, porque somos subjugados por nossa mente fervilhante, sempre corrida e atarefada com muitas possibilidades, distraída pelos inúmeros incentivos e desafios do mundo exterior. Nossa mente fica saltitando entre “problemas” antigos, novos e futuros, voltada às lembranças do passado (boas e más), aos afazeres do “daqui a pouco”, às ameaças do desconhecido, aos impasses presentes e remoendo amores, dissabores, simpatias, antipatias...   Enfim, nossa mente pensante é corrente, correndo e nos levando a sentir e viver também correndo, em turbilhão ...  “O pensamento parece uma coisa a toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar...”

            Corremos, voamos...  Atrás da paz e da felicidade, um “pote de ouro”, sempre mais adiante...  E, no entanto, a Serenidade, que pode contê-las, está na Aceitação e no silêncio simples e delicado do Agora. Temos tanta dificuldade de a desfrutarmos, porque estamos sempre muito envolvidos com lutas, disputas, procuras... Para alcançá-la, só quando paramos, simplificamos, descomplicamos, aceitamos...

            Às vezes, por ironia, quando nos sentimos tranquilos e serenos  algo acontece e grita dentro de nós! Está muito esquisito! Não estamos acostumados a essa tranquilidade interior, à Serenidade!  E até nos perguntamos : O que está acontecendo comigo? Será que estou meio sem vida? Será que deprimi?  Será que desisti de correr, de lutar... de viver?  

Parece impossível e controverso :  a alegria de viver e o estado de serenidade!  Mas ela vai se revelando possível num processo de desentulho, de desconstrução dos hábitos arraigados de anseios, julgamentos, preocupações, necessidades de ter, parecer, sobrepujar, num exercício de Aceitação do momento, do que posso ou não posso modificar em cada situação e na certeza de que há um propósito maior em tudo, mesmo que a minha, ainda pequena, percepção humana não possa tudo alcançar.

            Às vezes, sinto e desfruto dessa Serenidade. Acredito que se perseverar, abandonando corridas e lutas tolas e inglórias, me entregando ao amor de um Poder Maior em cada Agora, poderei conseguir, cada vez mais, o milagre de ser/estar Viva e Serena. 

domingo, 25 de outubro de 2015

O QUE ME ENCANTA ...




          “Encantar” é diferente de gostar!  É mais intenso... e mais suave!  O que me encanta é o que me enternece, o que expande meu peito em pura emoção!  É também o que me sacode, me acorda, me entusiasma, o que primeiro me paralisa... e então, me move!

            Tantas pequeninas “coisas” ou mágicos momentos me encantam!  Quase sempre são inesperados, me surpreendem em pura gostosura.  Às vezes, é um livro, uma história, a história de uma vida ...  Outras, é uma música, uma dança, um determinado momento, a atitude de uma pessoa, os trejeitos de uma pessoa, a curiosidade cheia de espanto de uma criança, o sorriso cansado de um velho, a graça de um filhote... Também, a natureza:  o vento, violento ou suave, a terra molhada, o verde e o feitio tão personalizado das árvores... A água: em riachos mimosos, em cascatas alegres, em rios largos e preguiçosos, no mar que bate e assusta, na serenidade estranha do poderoso oceano... Os dias ensolarados e mornos de meia estação, as noites prateadas, suaves, de brisas leves...  Algumas lembranças doces e gostosas, que não perdem o frescor e a capacidade de me encantar...  Algumas fantasias... 

            O que me encanta, parece  transbordar de mim e logo quero compartilhar!  Mas, que decepção! Que frustração!   O que me encanta, não encanta na mesma intensidade aos outros!  Somos diferentes e únicos e esses momentos tão intensos me sinalizam e confrontam exatamente com essa unicidade. Não consigo transmitir exatamente o que me encanta! São, então, alguns instantes de solidão e isolamento!  Mas são amenizados, um pouco, pelos aspectos mais gerais de nossa humanidade, que anseia por beleza e alegria. E é isso que, afinal, nos aproxima, que nos faz sentir mais consolados, acolhidos, entendidos...

            Fico pensando agora se estou me permitindo esses momentos de encantamento. Será que estou aberta e atenta a tudo que me envolve e traz a possibilidade de me encantar ? Acredito que estamos nos deixando levar para apenas ver, ouvir e participar de um mundo de violência, maldade, cinismo, corrupção...  Um mundo muito feio e que nos mantém em desânimo e em desencanto! 

            Somos seres originários da Luz. Preciso buscar a beleza, alegria, o Amor, que estão a minha volta, para que me levem a sintonizar com minha  Origem... É isso é que me encanta e é isso  que me impulsiona adiante.  

terça-feira, 20 de outubro de 2015

E EU ACREDITEI !...



           Somos responsáveis pelo que acreditamos. Somos responsáveis pelas crenças que mantemos em nossa vida adulta.  Algumas são tão naturalmente arraigadas, que nem notamos que são apenas crenças – parecem a nós que são certezas, verdades inquestionáveis.  Na verdade, elas nos foram passadas/ensinadas desde sempre e nós as assimilamos como “o chão e o céu” do nosso mundo.

            Outras crenças, vamos adquirindo em resposta a desafios enfrentados em nossas vivências. São filhas de experiências, boas ou más. Essas crenças são mais novas, maleáveis. Ainda assim,  foram influenciadas pelas crenças primeiras, primárias, familiares.

            Como adultos, precisamos aprender a questionar a lógica e a veracidade de todas nossas crenças para as irmos, se e quando necessário, revalidando-as, remodelando-as ou, até mesmo, abandonando-as.  Em nossas relações afetivas, no entanto, nossas crenças parecem desafiar nossa capacidade de analisar, de rever conceitos, quando se apresentam  questões de confiar ou desconfiar uns nos outros. Preferimos manter nosso mundo de “certezas”! Parece, a princípio, ser mais cômodo, mais seguro... 

Então, jamais acreditar ?   Jamais voltar a acreditar? Atenção!  Pessoas são únicas, não podem ser generalizadas! Pessoas estão “em processo”, pessoas até mudam (não demais, nem muito rápido), mas mudam!          
                                                                  
 Ou, sempre acreditar! Para sempre acreditar? Mas acreditar no quê? Que as pessoas não deveriam mentir, trair, decepcionar...? Que deveriam ser justas, verdadeiras...?  Atenção!  Pessoas falham!

            Sou responsável pelo que eu acredito, só por hoje!  Os outros não podem ser responsabilizados pelas minhas escolhas e “certezas”!  Se eu decidir escolher me resguardar neuroticamente de desenganos, fechando-me ao mundo e às pessoas, sempre  desacreditando, a responsabilidade é minha!  Se, ao contrário, eu decidir acreditar num mundo ideal, irreal, de pessoas ideais e irreais... a responsabilidade também é minha!

Num mundo real, preciso conviver ( e até acreditar) nas pessoas, principalmente nas pessoas que mais amo, mas ATENTA às suas possibilidades, às suas dificuldades , às suas falhas de caráter, à sua humanidade ainda tão primária!  Preciso acreditar no que ela, só por hoje, consegue ser e não no que ela devia ser, e  não no que eu queria acreditar que ela fosse. 

            A partir daí, posso ter atitudes até amorosas, mas também firmes, coerentes e assertivas.  Esperar de “ peito aberto” e com inocência que as pessoas sejam como prometem ou como eu desejava que fossem, só nos leva a frustrações, decepções, mágoas e muita raiva.   E então acusamos , jogamos culpa e nos achamos com o direito de, ressentidos, “dar o troco”. Não posso me entregar à delírios de amor cego e apaixonado, nem à fantasia de eu ser generosa e sublime, acima desse mundo. Quando eu o faço, acabo por me queixar, magoada e assombrada: “E eu acreditei!...”                                              

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

EM OFF ...




          Quando nos comunicamos, podemos fazê-lo em “OFF”  ou, diretamente, “ON  LINE”. Infelizmente, nossas próprias dificuldades nos levam a preferir, quase sempre, a comunicação em OFF. É uma forma de dizer, de chegar ao outro, de um modo tortuoso, subterrâneo, escondido, indireto, através de comentários lançados a muitos, lançados ao vento, que se distorcem antes de chegarem  à pessoa certa ou que se perdem para sempre, desconhecidos dos interessados.

            Quase sempre são reclamações, lamentos, acusações, julgamentos, críticas ácidas/ironias...  Todas sem dar chance de defesa a quem são dirigidas. Representam tudo que condenamos, tudo que nos incomoda nos outros, mas que não lhes dizemos.   Em OFF, reclamamos (ou até mesmo, raramente, elogiamos) dos governos, das empresas, de conhecidos, de familiares e até mesmo dos nossos amores mais próximos.  Em OFF, desabafamos nossas frustrações e zangas, enganando a nós mesmos que estamos  tomando uma atitude! Falamos, falamos, buscando aliança e a compreensão  de terceiros.  Depois, muitas vezes, ainda  sobrevém um sentimento incômodo e insistente de culpa e desonestidade com o alvo distante de nossas acusações.

            Comunicações em OFF não têm eficácia, nada trazem de positivo, porque se perdem em descaminhos. Quando chegam a seu destino real já se perverteram em maledicência, em “fofoca”... Só servem para retroalimentar raivas, mágoas.  Perderam a força que poderiam ter como franqueza, sinceridade, verdade! Apenas demonstram nossa dificuldade de sermos honestos, de reconhecer ( e dizer) as qualidades e defeitos do Outro.  Demonstram o nosso medo de desagradar, medo de dar o direito de resposta, de defesa, de discordar... mesmo sem brigar. 

            “A Verdade vos libertará!”   Mas como temos medo de dizer ou ouvir a Verdade! Como nos escondemos e arranjamos explicações que justifiquem nos comunicarmos em OFF!  Mesmo reconhecendo  que não nos cabe julgar e condenar, ainda assim, queremos comentar, socializar, os erros e defeitos dos outros.   !  “Onde não cabe o elogio, cabe o silêncio!”  Mas como é difícil optar pelo silêncio!!!

Se ainda temos tanta dificuldade em ser diretos e verdadeiros, ainda assim, podemos  evitar nos “aliviar” em OFF, exercitando o “ficar calados”. Isso cria uma pressão interior pela Verdade para, finalmente, conseguirmos nos colocar em ON, com delicadeza, firmeza, eficiência e assertividade. Nesse momento podemos, verdadeiramente, entender e sentir como a Verdade nos libertará! 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

MUDANDO O FOCO


           Coisas acontecem em nossa casa, na família, na cidade, no mundo, e logo tendemos a cobrar, julgar, culpar e condenar uns aos outros!  Logo teorizamos sobre governos, povos, pessoas, amigos e familiares ... sempre sobre os outros!  E esse olhar crítico só nos traz azedume, raiva, irritação, frustração, indignação. Só nos mantém em estado constante defensivo/agressivo, prontos para a luta.

             Afinal, quem são esses Outros, tão errados, tão equivocados? Na verdade, não sei! Só sei como deveriam ser,  segundo a minha ótica!  Eu luto, me indigno, critico, condeno... mas eles não mudam! Apenas se fazem de surdos ou se defendem e contra atacam! Nada muda!

 Acho, às vezes, que estou olhando para o lado errado! Melhor será mudar o foco do meu olhar!   Já foi sugerido: “Não julgueis!”  Vou tentar me colocar no lugar dos outros e, mudando a direção do meu olhar, examinar como Eu penso, sinto e ajo em cada questão.       Melhor será deixar de teorizar e acusar, perguntando-me como Eu posso, efetivamente, ajudar, fazer a minha parte, nesse momento, nessa situação. Talvez, nesse instante, nessa questão, não me ocorra nenhuma possibilidade de atuar. Talvez só consiga me comover, me emocionar, me apaziguar... Isso efetivamente, objetivamente, eu posso! Isso, efetivamente, passa por mim, de modo positivo e amoroso, antes de ir para os outros. Isso, efetivamente, não irá provocar defesas, reações, jogo de culpas e desculpas, paralização e omissão. Isso, objetivamente, me dá um tempo para entender as razões e dificuldades dos Outros e poder “chegar junto”, não com as minhas soluções, mas com boa vontade e disponibilidade. Talvez até possa, efetivamente, materialmente e afetivamente, ajudar pessoas próximas ou distantes.

            Trazer o olhar para mim, mudando o foco de minha atenção, muda tudo para mim. A partir de meu olhar interiorizado, entendo e sinto melhor minha humanidade e chego, então, melhor à humanidade das pessoas e do mundo.

domingo, 4 de outubro de 2015

DORES DO ORGULHO


           Eu não merecia isso! É um queixume, muitas vezes silencioso, doído, interior...   Eu merecia mais! Lamúria magoada, abafada, do meu orgulho ferido pelo fato de não ter sido  reconhecido o meu valor especial, meu esforço especial, meu modo especial de um ser especial!  Como dói sermos tratados como “todos” ou menos que outros! Orgulhosos, ficamos com a “pele” muito fina, sentimo-nos facilmente melindrados por não recebermos uma atenção especial!  Como dói ter que aceitar os outros, as coisas do jeito dos outros...  Queria do meu jeito! Ele era o melhor e foi preterido!      

 Não percebia, mas era muito prepotente, ainda que só no pensar e sentir. Muitas vezes, não demonstramos nosso orgulho, nossa vaidade, prepotência, arrogância... Muitas vezes não exigimos (quando não podemos) obediência, concordância, aplausos, valorização, mas ficamos muito irritados, profundamente ofendidos, por não recebê-los, mesmo quando sob uma máscara de indiferença.

            Acreditarmo-nos e sentirmo-nos mais, e especiais. Sermos tratados como “qualquer outro”, nos igualar, faz-nos sentir vitimados pela falta de atenção, justiça, valorização e amor que não recebemos dos homens e de Deus, pelo menos na medida em que achamos merecer. Vítimas, estamos sempre nos comparando e nos sentindo prejudicados, não adivinhados e não atendidos em nossos desejos mais íntimos, em nossas relações mais queridas.  Vítimas apaixonadas, sofremos as dores do ciúme da atenção, amor e valor que outros podem estar recebendo tanto ou mais do que nós!

            Essas dores do orgulho que nos vitimam, acabam por nos isolar e magoados, irritados, zangados, tornamo-nos muitas vezes grosseiros, porque “não estão sabendo me amar e valorizar como eu queria e merecia”!   Orgulhosos, escondemos nossas dores de todos que “não saberiam nos entender” e os culpamos por ingratidão, mediocridade ou indiferença.  Ficamos presos num círculo de mágoas, raivas, frustrações, esperando que os outros mudem ou que se submetam às nossas opiniões, ideias, escolhas, ao nosso jeito ou reconheçam o quanto merecemos porque somos “especiais”.

            Só nos libertaremos quando aceitarmos, com Humildade e Simplicidade, que somos tão especiais quanto quaisquer outros. Que eles podem ter opiniões e escolhas diferentes, sem que isso seja falta de afeto e respeito por nós.


Precisamos passar a limpo nossa história e rever nossas percepções equivocadas de vítimas orgulhosas em nossas relações. Lembranças com esse peso nos mantém predispostos a eternizar essas dores teimosas. Precisamos ter atenção com nossos melindres! Não somos mais, nem somos menos! Apenas somos! Não compliquemos!!!