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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PRIMEIRO EU !




          Através da vida, vamos perdendo-nos de nós mesmos em nossas relações com os outros, sempre submetidos ao grupo, sempre em busca de sermos amados e valorizados. Para tanto, aprendemos que precisamos ceder sempre, renunciar, nos superar a qualquer preço, disfarçar e sufocar sentimentos, até negá-los a nós mesmos. Queremos mostrar que somos bons, cumpridores dos deveres que nos deram em nossos variados papéis, provar que merecemos o amor e o orgulho dos que nos cercam... Devemos exaltar, servir e amar o próximo (o Outro), sem jamais termos aprendido o que era esse sentimento amoroso por nós mesmos!

            Interagindo dessa forma em nossas relações, principalmente as familiares, tornamo-nos famintos de amor e esmolamos atenção. Estamos sempre esperando, esperando um troco, em troca do tanto que doamos ou do tanto que abrimos mão, deixando-nos sempre para depois... Em nosso mundo interior, esquecidos, preteridos por nós mesmos, vamos sufocando frustração, raiva, tristeza, mágoa, ressentimento... E são sentimentos, que de alguma forma, vão envenenando-nos e envenenando nossas relações. “Primeiro amar os outros” é uma crença equivocada, uma teorização a que nos obrigamos sem que, sequer, tenhamos experimentado esse sentimento, naturalmente, dentro de nós mesmos. Primeiro o outro – não funciona!

            No entanto, primeiro eu e “danem-se os outros”, também não funciona, porque precisamos estar com o Outro para trocar, interagir, para  amar... Primeiro eu, mas ignorando o outro, suas necessidades e sua humanidade, nos isola, torna nossa vida vazia, aguerrida, transformando o Outro em um objeto com o qual  competimos ou que usamos, exploramos, aprisionamos ou descartamos... Essas relações, marcadas pelo ego e sua disputas, não têm espaço para cuidados, ternura, amor.

            Primeiro Eu, com amor! Primeiro Eu é aprender a amar essa pessoa tão próxima, mas tão esquecida e desconhecida que sou eu mesma. Primeiro Eu é construir uma relação doce e amorosa comigo, até para poder saber e sentir, realmente, o que é esse sentimento. Amor é Respeito, é Atenção Generosa, é Paciência, é Aceitação... Primeiro Eu é, primeiro, aprender a Cuidar de Mim, a cada momento, dessa maneira gentil. É primeiro me ouvir, é priorizar minhas necessidades, meus anseios, é ser verdadeira comigo, é me aceitar...  É primeiro entender que a ordem natural é Amar o outro COMO a mim mesmo, com o mesmo amor que aprendi a me dedicar. Então, será só deixar transbordar esse amor para o Outro.

            No dia a dia, em nossas relações mais queridas, preciso estar Primeiro comigo, mas com abertura e sensibilidade para o Outro. Quando, eventualmente, decidir ceder, servir, cuidar das necessidades do Outro, que fique claro para mim -  Primeiro Eu me ouvi e Primeiro Eu decidi... Sendo assim, não cobrarei, não serei vítima, não ficarei esperando um troco... Sendo assim, poderemos nos amar... Primeiro Eu, para poder te amar melhor!
 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

VOZES AVOENGAS




         São as vozes dos que nos antecederam na família. Vozes dos nossos antepassados – dos pais, dos avós... Vozes dos que nos receberam, nos cuidaram, nos orientaram... Vozes que se repetiam em nossa infância através de “leis” familiares, através das lembranças ainda mais antigas, contadas e reforçadas em inúmeros exemplos, em estórias  ...   Vozes doces, vozes duras, vozes de cuidado e correção, vozes dos que se doaram, vozes que nos cobram eterna fidelidade e, insistentemente, se fazem ouvir nos momentos de escolhas, na moral, na religião, nas atitudes, nas relações...

            Na infância, foram as vozes dos mais velhos, mais fortes, dos mais importantes para nós.  Elas nos direcionaram como as margens de um arroio nascente, ainda indefeso, acompanhando-nos em nossa caminhada para águas mais longínquas, mais profundas... Eram vozes que, mesmo quando duras, nos ofereciam acolhida, proteção... Vozes que nos condicionaram e ajudaram a formar nossa autoimagem – depreciada ou valorizada!

            Na juventude nos rebelamos contra elas. Elas pareciam vozes  ultrapassadas, coercitivas... Queríamos confrontá-las, ignorá-las, abafá-las, com a arrogância dos que descartam o passado para, mais livremente,  gritarem  independência e poderem saciar a sede de novas experiências.

            No decorrer do tempo, já adultos, amadurecidos pelos sucessos e insucessos do caminho, começamos a nos permitir ouvi-las com mais isenção, reconhecendo, com humildade, o que elas nos traziam da sabedoria do que foi vivido, podendo entendê-las contextualizadas em seu tempo, atualizando-as, quando necessário, para nosso tempo presente.

            Ao envelhece, elas se tornam mais recorrentes, quase companheiras. Já não as julgamos para o bem ou para o mal, apenas as respeitamos por tudo que nos doaram. São as vozes que acompanharam desde nossa infância e dali por diante. São lembranças nossas, em nós, pedaços de nós.
            Vozes avoengas são as vozes do nosso chão, das nossas raízes familiares, das nossas tradições culturais.  Elas são uma base para crescermos, mas não podem nos tornar meros repetidores de outros tempos, de outras histórias ou seguidores de outras “verdades” e histórias que criaram para nós. Devem, sim, permanecer eternas quanto a seus conteúdos de valores éticos e pela  força do amor com que nos embalaram.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

FACILITAÇÕES E ACOMODAÇÕES




           Facilitações ou concessões exageradas e costumeiras são invasões, consentidas ou não, que fazemos na vida dos que amamos, no afã de protegê-los de dificuldades, acreditando ser esse o nosso dever e como prova de nosso amor.  Mas facilitamos, também, por muitas outras motivações e de muitas formas, conscientes ou não...

            Ao nos arvorarmos em cuidadores dos outros, quando nos tornamos o sustentáculo da família ou de qualquer outro grupo onde estivermos, tornamo-nos, também, os Controladores. Temos a pretensão de que sabemos mais, nos sacrificamos mais, somos mais generosos, somos melhores! Prepotentes, invadimos suas vidas, impedimos que façam suas próprias escolhas, tomem suas decisões, e se responsabilizem por elas. Inconscientes disso, acreditamos que somos movidos somente pelo amor, pelo dever, pela boa vontade.

            Nessa crença, também tentamos sempre atender às expectativas dos outros, ou mesmo superá-las. Desejamos demonstrar nosso amor e valor, aparecer bem, esperando merecer gratidão e reconhecimento. Afinal, estamos deixando de viver nossas vidas por eles...  Quando isso não acontece, ficamos naturalmente frustrados, magoados, irritados, ressentidos, pela ingratidão e pela humilhação de não sermos valorizados .

 Essa atitude de concessão, de facilitação exagerada e contínua, abre espaço na relação para uma acomodação, para o abuso e até ressentimento dos que são “favorecidos”( mas também invadidos) pelas facilitações! Uns tornam-se abusados, aproveitadores, insensíveis sugadores... Outros ficam ressentidos pelas invasões bem intencionadas, outros, ainda, acomodam-se e continuam a abrir mão de seu próprio caminhar.  Em Família, muitas vezes exercemos quaisquer desses papéis sem nos darmos conta disso. Aceitamos facilitações exageradas, nos acomodamos e achamos que “é assim”, é natural.  Ou costumamos justificar nossas invasões  pensando ou dizendo  que  “não nos custa nada” facilitarmos a vida de quem amamos. Na verdade, custa ao outro a oportunidade e o direito de enfrentar os desafios de sua caminhada. É um desrespeito, mesmo que esse outro, mal acostumado e amedrontado, peça pela facilitação.  Nossas relações assim distorcidas, adoecem, perdem o viço, tornam-se uma simbiose que nos impede e limita, a todos, de crescermos ao viver nossas próprias vidas . Ficamos eternamente inseguros e agarrados uns aos outros. 

Concessões carinhosas, gentis, amorosas, guardam como  sua principal característica é que são EVENTUAIS. São um mimo a quem amamos, são atitudes solidárias nos momentos especiais. Elas traduzem que estamos juntos e disponíveis, mas respeitando o caminhar uns dos outros.

Quando sentimos que já estamos presos nos laços dessas relações distorcidas, nesse jogo perverso de manipulações para dar e receber, nesse jogo de culpas, cobranças, justificativas, precisamos admitir e reconhecer que não estamos conseguindo viver nossa própria vida. Talvez nunca tenhamos aprendido isso, talvez tenhamos aprendido que amar é misturar e invadir. E como não aprendemos a cuidar de nós mesmos, nossa autoimagem, nossa autoestima, nossa auto responsabilidade, nosso auto respeito... precisam ser, pacientemente, construídos e cultivados. Só assim poderemos deixar que os outros aprendam a cuidar de si mesmos.  Um dia de cada vez, aprenderemos a caminhar e a amar sem necessidade de facilitações, sem abusos, sem acomodações, apenas exercitando o “Viva e Deixe Viver”!

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

NOSSA FÉ




            A Fé é a intensa força interior que colocamos em uma crença, em alguém, em algo, em algum Poder Maior, em um desejo, na vida... A Fé nos impulsiona para além de nós mesmos, do que podemos, do que achamos ser possível.

            Em que tipo de crença eu coloco a força de minha Fé? Na busca de ser feliz? No poder da força bruta? No poder do dinheiro? No poder da mente racional, do saber, da informação? No poder do mundo material?   

Ou coloco minha Fé no poder de alguma Força Maior, Espiritual, num Deus das religiões, rotulado e diferenciado pela  sua origem religiosa: Deus Poderoso, Justiceiro, Implacável, Duro... ou Deus Poderoso, Justo, que perdoa, Amoroso... Num Deus que espero atender meus pedidos e súplicas, um Deus para remover os obstáculos do meu caminho?   E se Ele não me atender? Perco a Fé, a crença nele? Ou aprendo a concebê-Lo de um modo diferente, com um propósito diferente para minha vida?

Minha Fé está na crença de uma passagem puramente material pelo mundo?  Ou está na crença de uma vida eterna, uma vida que antecede a mim e continua, mesmo depois que esse meu corpo material morrer?  Na crença em um Poder Criador Amoroso  de Sabedoria, que cuida de minha vida em contínua  evolução,  de acordo com os Seus bons propósitos?  Num Deus que sabe dos porquês que nela tanto me assustam e machucam...  

Minha Fé está na crença/certeza no poder de uma Energia Maior Amorosa e de Sabedoria, que não consigo explicar  ou entender racionalmente, porque essa energia de Deus é de uma natureza espiritual, que só pode ser  Sentida!   Nós a percebemos em nosso ser por inteiro, inundando nossa mente, nossas emoções,  nosso corpo físico...  Minha Fé está nesse Poder Criador  Amoroso que nos criou, que nos habita, que nos sustenta e, pacientemente, nos aguarda.  Minha Fé está nesse Poder que me impulsiona e me leva a remover os obstáculos de minhas montanhas interiores, que me leva a atravessar meus oceanos de medos, que traz Luz a meus porões escuros, que me leva a superar meu cansaço, minha fraqueza...

Fica a pergunta: onde estou depositando minha Fé? Se for apenas em objetivos materiais, mesmo que buscando ajuda de forças imateriais, terei, talvez, alguns retornos materiais, que em algum momento se acabarão e nada restará... Se depositar minha Fé na certeza de um Poder Espiritual, eterno, que me acolhe, cuida e me orienta, passarei por todos os meus momentos  fortalecido, consolado, encorajado, e, ao fim do trecho desse caminho menor, nada se acabará, seguirei melhor...

Somos livres para escolhermos onde colocaremos a nossa Fé. Somos livres e devemos ser flexíveis para irmos escolhendo e moldando nossas crenças, conforme as nossas novas experiências na vida vão ensinando-nos. Somos livres para escolhermos as crenças que respondem melhor à nossa ânsia de felicidade... Somos livres para, então, jogarmos nessas crenças a força imaterial de nossa Fé.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

OS IMPREVISTOS



            Poucas coisas têm o poder de nos desestabilizar tanto como as situações imprevistas.  Sentimo-nos mais confortáveis para lidar com a previsibilidade dos fatos em nossa vida. Reclamamos do tédio das rotinas, mas sentimo-nos mais seguros com o conhecido,   mais preparados para agir nas dificuldades previstas ou mais prontos para desfrutar , e até antegozar, o que de bom o dia nos traz. 

            Ao contrário, os imprevistos parecem nos dar uma “rasteira”, tirar nosso chão. Mesmo fatos inesperados prazerosos nos levam a ficar, a princípio, sem ação. Sá aos poucos conseguimos analisar  ou curtir melhor  toda a situação. 

            Mas são esses imprevistos, principalmente os desagradáveis e frustrantes, que nos convocam à “dançar”, a buscar um jogo de cintura para lidar com a vida. Eles nos tiram da inércia do conhecido, das atitudes condicionadas e das respostas repetidas. Não esperam nossas lástimas e irritações  e nos convocam a sermos criativos na busca de novas opções para nossos momentos,  para sempre seguirmos em frente.

            Alguns imprevistos em nossas vidas são tão drásticos e dolorosos e nos impactam de tal modo, que necessitamos de mais têmpera  e tempo para prosseguirmos. Quebram nossas certezas, nossas pretensões, nossos sonhos mais caros, nossa lógica racional... Eles acabam por redirecionar nossas vidas, nosso caminhar, nossas prioridades... tudo que em nós estava “previsto”, tudo que mantinha nosso cotidiano sempre igual.

            Embora “desconfortáveis”, os imprevistos de cada momento   fazem parte do próprio movimento da vida. Eles nos convocam e preparam para sermos mais flexíveis, mais criativos, mais humildes e mais simples...  Para estarmos prontos ou mais preparados, para as chamadas da vida.