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sábado, 28 de janeiro de 2017

A DOR DA IMPOTÊNCIA




          Assistir a  dor de nossos filhos/netos é uma agonia, sem anestesia, que  nos atinge através de nossa impotência ante o sofrimento de quem tanto amamos. E essa agonia traz ainda uma culpa, absurda, mas tão real, por não termos o poder de aliviá-los ou por não termos conseguido evitá-la.  Ainda acreditamos que temos o poder, e até o dever, de não deixarmos nossos filhos/netos  errarem, fazerem suas escolhas “equivocadas” e colherem os frutos amargos de suas experiências!

            Quantas vezes temos que assistir seus sustos, seus medos, suas desilusões, seus desencantos, suas perdas... Sabemos que “faz parte” do descobrir, do crescer, do se libertar, do viver... mas como dói vê-los sofrer! 

            Desde a infância, as primeiras frustrações, as primeiras “derrotas”, a primeira vez em que se viram preteridos, “perdedores” em um mundo cruel de constantes competições. Como dói assistir o olhar confuso e magoado de uma criança decepcionada! Como dói assistir a agonia deles, já adolescentes, quando insistiram em caminhos perigosos e se viram perdidos, sem saber voltar... E como dói, também, assistir a dor e o medo de seus pais, os nossos filhos, quando se vêm impotentes com seus próprios filhos...

            Na juventude e até mesmo na maturidade, quando começam a colher os frutos amargos de suas inexperientes escolhas, é muito doído ver seu olhar magoado, confuso, sem entender como tantas “certezas” puderam dar tanto errado... E eles, tentando ser fortes, disfarçando a dor, a “humilhação” de um jogo perdido, onde haviam apostado todas as suas fichas, as suas certezas, suas teimosias, suas esperanças... Meu Deus, como dói!  Mas nos orgulhamos, apesar de tanta dor, ao vê-los demonstrando força e buscando continuar, mesmo em meio a tanta decepção.  

            E nos momentos das dores extremas, quando nossos filhos/netos, vivem o horror de perderem seus próprios filhos para a “morte” ou o pavor ao vê-los ameaçados pelos descaminhos da vida, só podemos estar juntos, acolhendo, consolando, assistindo impotentes, essas dores maiores...

            Minha mãe, já bem idosa, dizia: É muito triste ver os filhos ficarem velhos! Eu sorria, mas ela tinha razão. Viver muito é passar por nossas próprias dores, dificuldades e erros e ainda assistir as de nossos filhos/netos, das nossas pessoas mais queridas. Não podemos evitar as dores de quem amamos. A nós, resta o consolo de que estão vivos e crescendo e a necessidade de nos fortalecermos cada vez mais, para podermos estar sempre juntos, disponíveis, amando-os...  O Amor trança uma rede que nos embala e sustenta. Os laços que nos unem transmitem força e confiança e nossas lágrimas, contidas ou choradas, nos consolam... É assim que, unidos, vamos superando dores e obstáculos e vamos caminhando...  


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

DISTÂNCIAS II




          Em nossas andanças pela Grande e Eterna Vida, chegamos e partimos muitas vezes, criando aproximações e distanciamentos... Existem muitos tipos de distâncias... Distâncias físicas, distâncias afetivas, distâncias intelectuais, distâncias espirituais, distâncias de energia, distâncias de dimensões... Todas são muito dolorosas porque nos fazem sentir separados de quem amamos e ainda só sabemos amar de modo muito apegado, sob todos esses aspectos. Embora estejamos apenas de passagem nesse mundo, ele nos parece tão material, que, talvez por isso, queiramos tocar, falar, abraçar, beijar, segurar... aqueles que nos são mais queridos. Queremos proximidade com quem amamos!  


 A distância, qualquer distância, nos tortura sempre que nos lembramos dela a nos separar. Perguntas sem respostas ficam rodando, em turbilhão, em nossa cabeça.  Onde estão?  Como estão?  O que fazem? Quais suas novas amizades e ocupações? Estão bem, são felizes? Sentem também nossa falta, sentem também saudade?  O Amor quer sempre saber mais! 


De novo, a todo momento, remoemos essas questões:  Onde está você? Como está? Como te achar?  Como receber notícias?   Tentamos pessoas conhecidas, internet...  E quando a distância que nos separa envolve outras dimensões? Procuramos mensageiros, comunicações mediúnicas, transcomunicações... Oramos, buscamos em sonhos, em devaneios... Onde? Como podemos receber notícias de quem amamos, de quem nos perdemos, seja nessa mesma dimensão ou em qualquer outra?  Onde estão meus amores? A Vida, a “morte”, quaisquer circunstâncias, nos afastaram e agora só resta a dor, a ânsia, para, ao menos, saber notícias... 


Separados por qualquer distância, bate uma amarga tristeza pelo que deixamos de aproveitar, não importando o tempo em que estivemos juntos. Sempre parecerá que foi pouco!  Choramos pelos momentos perdidos com afazeres do dia a dia, com discussões, com cobranças, com mágoas, com silêncios... Quanta vida, “quanto amor desperdiçado!”...



Na saudade tão doída do passado e nas incertezas de um reencontro futuro, eu me dividia entre o desejo de ficar e o medo de seguir para o desconhecido... Eu me dividia entre a paralização na dor e a culpa do prosseguir sem o outro...


A vida, eterna e em constante transformação, nos traz encontros e desencontros, aproximações e distâncias. Estamos sendo levados a aceitar as novas circunstâncias, a desapegar, a aprender um novo modo de amar, além do tempo e do espaço. E todo aprendizado cobra seu preço em confusão e dor.  Temos agora novos questionamentos: Estaremos, realmente, distantes ou só a crença arraigada no espaço/tempo parece nos separar? Quando acredito e entendo que a Vida acontece Aqui/Agora para Todos/Tudo, quando me entrego cada vez mais a esse pensamento, sinto-me mais próxima de quem eu achava distante.  

              Hoje, mesmo com muita dificuldade, ainda com muita dor, busco superar as “distâncias” de quem amo, encontrando-os no Agora.  No Agora,”vejo-os”, converso com eles, rio, choro, até brinco, até chego a “tocá-los”, a “acariciá-los”...   Sinto-os comigo, participando de meus momentos, de minha vida! Estou aprendendo a pensá-los e senti-los no Aqui/Agora, sem as distorções do tempo e do espaço, sem aprisioná-los no meu passado... Estou tentando aprender a amá-los de forma mais livre, sem apego, sem distâncias...  Procuro sempre me lembrar que “Longe é um lugar que não existe” e  que “O Amor é uma ponte para o sempre”

sábado, 14 de janeiro de 2017

EM BUSCA DA BELEZA




          Será que acreditamos que ainda existem “flores”, que ainda existe Beleza em nosso mundo? E que a Beleza se expressa nas coisas, nas pessoas, em nossos pensamentos, sentimentos e atitudes?     Será que sabemos que a Beleza é uma das necessidades mais altas e pungentes do ser humano?  E é por isso que precisamos, desesperadamente, buscar as “flores”, a Beleza, em tudo e todos que nos cercam...

            Hoje, muitas e tantas vezes, nos vemos cercados e aprisionados por uma neblina ameaçadora e escura ou num deserto frio e árido ou em meio a raios destruidores que a tudo e todos atingem ou em meio a trovões e gritarias que nos confundem e amedrontam. O mundo (nações, povos, famílias...) parece estar sob ataque! Sob a ameaça da cobiça, do feio, da força, do deboche... Sob ataque do mal! E todos se defendem e todos atacam!  Em nosso medo, em nossa pretensão e prepotência queremos derrubar o mal e os maldosos/errados. Na verdade, só vemos o mal lá fora, porque o que é ruim parece estar sempre nos Outros! Tomamos partidos, vigiamos, julgamos e perseguimos os “Outros”. “Nos nomeamos” juízes, nos sentimos “donos da verdade”, investigadores do mal e justiceiros no mundo que nos cerca.,  Só que, para isso, precisamos ficar ligados, focados, todo o tempo, na feiura do mal! 

Ficamos, assim, desnutridos de nossas necessidades mais altas de Beleza, Amor..., Sentimos nosso mundo interior ficando cada vez mais escuro, deserto, sem cor, sem bondade, sem alegria espontânea, sem gostosura, sem doçura, sem vida... E tornamo-nos, cada vez mais, duros, secos, agressivos, aguerridos, desconfiados, impacientes.... Não nos permitimos ternura, abertura de coração, um olhar diferente para o mundo...

Hoje, sinto que preciso dar um basta nesse olhar exagerado, doentio e destrutivo para o mal. Ele existe, mas não pode me possuir e aprisionar. Basta de procurar saber do mal, basta de notícias que nos trazem sobre o mal e os maldosos... Notícias constantes, ao vivo, em tempo real, numa “overdose” doentia que nos envenena dia a dia.

 Entendo e sinto que preciso buscar o verde, as cores, as flores, as muitas formas da Beleza em coisas, em situações e em pessoas, que me cercam. Preciso buscar notícias de generosidade e dos generosos, da verdade e dos honestos... Preciso saber dos solidários, dos compassivos, dos otimistas, dos corajosos, dos amorosos... Preciso manter meu coração aberto para o potencial do Bem em cada um, mesmo quando ainda muito encoberto. Preciso decidir ver a Beleza que existe, mesmo escondida, nas sujas e tristes paisagens urbanas. Preciso buscar as estrelas, até esquecidas num céu tão pouco visto, em vez de me ligar no lixo das ruas. Preciso ver e experimentar a Beleza da compaixão, do bom humor e tolerância com as pequenas fraquezas humanas, com estranhos e com os muito íntimos. Preciso me nutrir com a Beleza expressada nos valores espirituais de que todos somos portadores.      Há que ser uma busca paciente e perseverante, com a grande  dificuldade de quem já está condicionado à feiura do mal existente no mundo. Mas vale a pena, mesmo com recaídas!

 Precisamos da beleza das “flores”! Só assim poderemos também florir como pessoas, só assim poderemos dar bons e saborosos frutos, só assim poderemos ser felizes. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

OS SAPATOS DE MEUS PAIS




          Iniciei minha vida e minha caminhada aqui com os sapatos que me deram; os sapatos escolhidos para mim pelo cuidado e pelo carinho de meus pais. Com a inocência da infância, eu os aceitava e eles até me pareciam ser os melhores, os mais perfeitos, pois foram escolhidos por “meus heróis”, por aqueles que tudo sabiam.  

Mas o passar do tempo vai empurrando-nos, inexoravelmente, para fora, para o mundo e seus desafios. Na juventude e na mocidade, os sapatos de meus pais começaram a me parecer sem graça, sem estilo, envelhecidos... Aqueles sapatos já me apertavam os pés, impediam-me de correr, de caminhar sobre novos terrenos, de ousar e de arriscar. Abandonei-os e escolhi modelos novos que eram fortes, que me levariam por onde eu quisesse... Seriam os melhores! Afinal, eu sabia tudo! Julgava e criticava quaisquer outros modelos e caminhantes... Eu podia, eu sabia...

E fui caminhando... As pedras dos caminhos escolhidos, com o tempo e com os tropeços, foram desgastando meus lindos e arrogantes sapatos, que antes me pareceram perfeitos para qualquer caminhada. Agora já se revelavam rotos e furados pelos tropeços em erros e perdas... Mas foram ficando maiores, mais largos, tornando-se mais flexíveis e maleáveis...

Eu me vejo hoje recordando dos velhos modelos de sapato que eu rebarbara, modelos deixados, generosamente, para mim, pela vivência dos mais vividos. Hoje me vejo calçando-os, ainda que com a marca de meus pés.  Hoje posso sentir a ansiedade, o medo, a tristeza de meus pais, quando me recusei a aceitar suas experiências e caminhar com eles. Posso entender o chamado ansioso àqueles que amamos, porque hoje tento, também, oferecê-los aos mais jovens e eles, também, os recusam...

A generosidade, a compaixão, o Amor, fazem com que queiramos aplainar o caminho uns dos outros; faz com que ofereçamos calçados adequados aos caminhos desse mundo tão difícil, mas uma necessidade maior nos faz recusar a vivência dos mais antigos. Acredito que seja porque precisamos experimentar a vida com nossos próprios gostos e sabores, precisamos moldar nossos próprios calçados.

Hoje revejo na lembrança minha mãe ralhando, lutando com a filha teimosa... Recordo avós e tios que ajudaram a me criar, recordo suas lutas tentando, eles também, me calçar e proteger... Recordo seus chamados, agoniados, zangados, frustrados... Hoje vejo meu pai com o sorriso paciente do muito idoso, que sabe das coisas além do que elas aparentam...  Às vezes ainda teimo como menina, mas logo a memória dos meus tropeços se faz presente e busco “calçar seus calçados”. A maioria deles já foi aqui deixada. Outros, ainda aqui presentes, todos generosos, ainda oferecendo sua sabedoria, tantas vezes ironizada. Mas tenho aprendido, com a humildade que a vida traz, a julgar menos, a aceitar a recusa dos mais jovens e a valorizar, a aproveitar e a honrar, cada vez mais, as marcas dos sapatos de cada um, as marcas dos sapatos de meus pais.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

MENTES DESGOVERNADAS




           Ainda somos muito conduzidos por nossas mentes e elas costumam, muitas vezes, caminhar soltas, sem comando, dominantes, dominando, desviadas, desvairadas... 

            Mentes sem comando podem nos arrastar ao passado, aprisionando-nos em doces e alegres memórias, para logo depois nos atirar na saudade, na dor do que já passou, daquilo que não volta mais. Também nos fazem reviver o horror dos momentos das  perdas de pessoas muito queridas, o horror de situações limites a que fomos submetidos, nos fazem reviver a agonia lenta e tão doída  de relações fracassadas e o confronto contínuo com nossos erros passados. Nossas mentes, quando assim desgovernadas, nos puxam, arrastam e seguram num redemoinho de dores, tristezas, remorsos... Reféns de um passado que não podemos refazer, modificar... só nos resta chorar e sofrer!

            Mentes desgovernadas também nos empurram para o futuro, quase sempre um futuro sombrio, amedrontador. E passamos a viver em uma agonia contínua sob o chicote do medo. “Viajamos” pelo terror da violência urbana, pelo medo das doenças, das guerras, dos maus e dos loucos, sem sentir que vamos, nós mesmos, também, enlouquecendo...  E tentamos nos proteger do mal desse futuro criado em nossas mentes condicionadas e retroalimentadas pela cultura e pela mídia, com rezas, escapulários, medalhas, patuás... Nossas mentes soltas e amedrontadas nos tornam sistemáticos, com “tiques e tok”, com superstições, mandingas...

            Não podemos nos entregar, aceitar, ficar reféns de nossas mentes desgovernadas. Somos senhores de nós mesmos a partir de um nível mental superior à nossa mente egóica condicionada. Existe em nós um nível que observa nossa mente, reconhece seu  descontrole e pode redirecioná-la. Pode retirá-la do passado e do futuro e trazê-la para o presente, ocupá-la no Agora. A nós cabe, pacientemente, infinitas vezes se preciso, com firmeza, trazer nosso pensamento, teimoso e descontrolado, para o Aqui/Agora, para o que acontece no momento! Ocupemo-nos! No Agora está o nosso poder!  

            Somos seres complexos, de muitas dimensões. São nossas dimensões superiores que podem acolher, entender e redirecionar nossos níveis físicos e mentais. E quando estiver muito difícil retomar o controle de nossas mentes confusas, resta-nos, através da oração, uma ligação direta com um Poder Superior de  Nossa Origem, em busca dessa força interior. Repetimo-nos nessas reflexões, porque repetimos no frenesi de nossos dias e em nossas noites insones a agonia de nossas mentes desgovernadas.