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sábado, 29 de abril de 2017

REBELDIAS



           Todos precisamos de uma dose de rebeldia para não nos tornarmos meros repetidores das gerações passadas, para podermos avaliar com independência as regras e circunstâncias novas que nos são impostas pela sociedade e pela vida. 

Mas para alguns de nós, a rebeldia é contínua, é um traço de caráter, uma característica dentre outras do “temperamento” que trazemos em nós. É um estado interior de prontidão para a contestação, para confrontos eternos contra pessoas, ideias, regras... É um estado que nos mantém em tensão e atenção desconfiada para a luta e o revide, procurando falhas a contestar ou consertar. E, de rebeldes, passam à revolta: mal humorados, irônicos, azedos, amargos, beligerantes...   
 
Esses rebeldes não precisam ter “uma causa”! Qualquer imposição ou direção diferente do que desejam já os incita à contestação. A rebeldia inata revela rigidez, pouca flexibilidade para a escuta, para o diálogo, transita pouco na diferença dos que lhe são “adversos”. Eles discutem ou se fecham e se calam! Só relaxam com seus “iguais”! São “defensores” de muitas causas, porque defesas pressupõem luta com os “outros lados”. Jamais ouvem com abertura opções transformadoras; eles se opõem e partem para a “luta contra”. E a rebeldia não precisa ser, necessariamente, agressiva ou ruidosa. Muitas vezes ela é silenciosa, fechada, teimosa... 

Mesmo quando não é um traço de caráter inato, a rebeldia pode se revelar na adolescência, numa fase de nosso ciclo vital. O rebelde, então, não é sem causa. Embora ele não saiba, sua “causa” é a necessidade natural de romper, mudar, ir ao desconhecido... Torna-se, então, durante essa fase, revoltado. A revolta pode ser, também, circunstancial quando traduz indignação ante abusos nas relações, quaisquer tipos de relações, e nos leva então a sermos assertivos, firmes na medida que pudermos, na defesa de nossos limites. 

Mas, a rebeldia sistemática contra pessoas, sistemas, grupos (familiares, profissionais, políticos, religiosos...) revela, ou encobre, orgulho, vaidade, pretensão, raiva, mágoa, dores escondidas... O que fazer com os rebeldes? Não podemos modificá-los! Podemos ouvi-los com mente aberta, sem tentar convencê-los, sem revidar, sem nos deixar arrastar para a luta deles, para poder, com calma, firmeza e gentileza, resguardar nosso espaço.

E o que posso fazer com a minha rebeldia ? Em nosso processo de auto descoberta, fica a pergunta: Sou um rebelde inato, sou um adolescente atrasado, um revoltado sempre irritado ou apenas me rebelo com situações, mas buscando sempre soluções interiores e, no mundo, fazendo a minha parte.

           Os Grandes Mestres que por aqui passaram, que tiveram o poder de transformar homens e culturas, não demonstraram rebeldia revoltada, não conclamaram à luta contra o mal estabelecido – apenas demonstraram firmeza e não submissão. A força que usaram foi a de vivenciar com honestidade, pelo exemplo, as novas ideias e buscar um compartilhar aberto e respeitoso, aonde estivessem e com quem estivessem. 


domingo, 23 de abril de 2017

MARÉ BAIXA




           Tudo é energia no universo, inclusive nós!  Tudo pulsa, tudo se movimenta, demonstrando Vida, inclusive nós!  Nesse pulsar constante, às vezes, nos sentimos em baixa, como em “slow motion”, É como uma maré estranha, que parece nos arrastar e sugar para uma zona de calmaria, malévola, sem vida, namorando a morte. Perdemos a pressão interna, que nos impulsiona e nos descobrimos num estado de depressão!

            Todos os nossos níveis de energia estão atingidos e refletem essa falta de pressão para viver. Nosso corpo físico fica muito cansado. Parece estar se arrastando para qualquer tarefa ou movimento. Nada consegue nos motivar, nem mesmo as coisas mais prazerosas. Tudo parece complicado e distante. “Nada vale a pena, porque a alma está pequena!”. Estamos sem vontade e sem jeito para sorrir. Olhamos em volta e tudo parece errado, feio, sem solução... Sentimo-nos incompetentes (ou impotentes) para esse mundo tão torto! 

            Já ficamos revoltados, indignados, conosco mesmos e com os outros, com a vida e até com Deus!  E o quanto já  nos desgastamos nesse lutar constante!. Depois, sobreveio uma grande tristeza, um desejo intenso de chorar por todos, chorar por tudo ser do jeito que é! Todos os desejos utópicos, todas as expectativas a curtíssimo prazo,,, Todos goraram e geraram esses sentimentos, que se voltam contra nós, sugando nossas energias. Agora, só essa maligna calmaria...

            Mas um Poder Maior me sussurra: Calma, paciência, aceitação! Não se culpe, não culpe o mundo! Culpar é “lutar contra”! Afinal, foram as essas lutas, internas e externas, que nos levaram a essa fase de desgaste e “maré baixa”!   No fluxo da Vida nada se perde, tudo muda e tudo se transforma...  Fazemos parte desse fluxo. A maré que hoje está baixa, certamente, mudará. Esse movimento constante que, fisicamente, move oceanos, também atua em nós, que somos água, que fazemos parte desse oceano e de um Oceano Maior de Pura Energia. Nesse fluir, com altos e baixos, dores e alegrias, vamos reciclando nossos pensamentos, descobrindo sentimentos, modificando atitudes.

            Não brigue com a eventual paralisia de sua água! É preciso acolhê-la, não sufocá-la, não escondê-la com químicos ou quaisquer outras formas de escapar. Acolher com carinho seus momentos de euforia ou agonia. Eles são picos de sentimentos que preciso entender, mas não me deixar aprisionar por eles. É buscar o equilíbrio interior, transformando aos poucos nossos excessos emocionais. Não devo remoer pensamentos e sentimentos de tristeza e desânimo, deixando-me contaminar por calúnias, maledicência, notícias de maldade e violência, corrupção, guerras... O Amor e a Bondade que nos criaram, que estão em nós, existem e precisamos nos nutrir deles!

            Maré Alta ou maré Baixa, elas existem em nós! Fazem parte no nosso caminhar e, em seu constante alternar, elas demonstram o eterno processo da Vida.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

“ESCUTANDO” SENTIMENTOS




          Nossos sentimentos e emoções foram detonados, em passados próximos ou muito longínquos, por experiências, boas ou ruins, e principalmente pelas crenças aprendidas, formadoras dos pensamentos que a seguiram (a mente egóica). Tudo isso nos leva a reagir emocionalmente às pessoas e às circunstâncias à nossa volta. Nossa mente também pretende decidir o que podemos ou devemos sentir e o que podemos ou devemos demonstrar !!! Ficando sob esse controle do ego, acabamos muitas vezes perdendo contato nossos sentimentos, com nosso mundo interior afetivo. Mas ele está ali, poderoso, nos pressionando de forma consciente e inconsciente. No processo libertador do auto conhecimento, com a mente aberta, acabamos por entender como nos deixamos limitar e decidimos modificar nosso modo de acreditar, pensar, agir e sentir

            Tentamos agora manter a Mente Aberta e Coração Aberto, porque queremos fazer novas e melhores escolhas. Queremos deixar para trás os preconceitos aprendidos e nosso sempre presente orgulho, pleno de pretensões, prepotência, arrogância, teimosia, presunção, falta de limites, comparações e competições, numa constante necessidade de ser mais, parecer mais... Agora já sabemos que tudo isso nos amarra à luta por poder e status. Agora já sabemos que queremos Ser simples, iguais, solidários e livres! Achamos que já superamos, porque agora já sabemos... mas, entre o saber e o realmente Sentir, existe um longo caminho a ser descoberto e libertado. Aquelas características, sentimentos e emoções antigos, aprisionados pelo ego, disfarçados até de nós mesmos por nossas negações e nossas máscaras sociais, estão ali e voltam a incomodar conforme somos confrontados pelas situações novas. 

            Esse é momento para “escutar” a nós mesmos e questionar. Por que qualquer tipo de desaprovação, ainda, nos atinge tanto? Por que, ainda, nos sentimos fracassados e desvalorizados quando somos “derrotados” em qualquer tipo de comparação? Por que, ainda, ficamos invejosos e despeitados com quem “ganhou” de nós? Por que, ainda, ficamos com tanta raiva por termos falhado, por não termos sido perfeitos? Por que, ainda, tanta ansiedade em jamais falhar? Por que, ainda, nos sentimos melindrados quando não somos compreendidos, valorizados ou incensados? Por que ainda...  Esses são sinais, muitas vezes fracos, mas desconfortáveis, que nos sinalizam impasses, ainda a libertar. 

            O caminho é esse! Atenção e Escuta cuidadosa, gentil e honesta com nosso mundo interior, com nossos sentimentos. O que, ainda, me incomoda nas situações? E não importa o Outro e suas atitudes! Preciso me descobrir e cuidar é de mim! É importante reafirmar para mim que, ainda, estou a caminho. Ainda é a palavra que nos dá a promessa de continuidade no processo, sem humilhação e sustos com as dificuldades, mas com perseverança e  a alegria das descobertas de sentimentos antes tão negados e escondidos. 

            Só por hoje e a cada dia, podemos continuar a descobrir e a nos liberar do orgulho disfarçado, esse auto engano de que sou mais, mereço mais!  Podemos, assim, caminhar com mais  tranquilidade, sem a arrogância antes negada, que nos impedia de ser simples. E quando estiver muito difícil, temos um Poder Superior Amoroso a quem, com Simplicidade e Humildade, poderemos sempre recorrer. Estando fazendo a nossa parte, pedimos a esse Poder que nos ajude a remover estas nossas imperfeições ( 7º Passo) e, um dia de cada vez, certamente, seremos fortalecidos, renovados e atendidos...

terça-feira, 11 de abril de 2017

O TEMPO NÃO CORRE EM VÃO




           O tempo não para! Na sua sucessão de “agoras”, ele traz alegrias e agonias. No dia a dia, ele vai nos carregando de situação em situação, como num parque de diversões, onde somos levados a altos e baixos de pura emoção: desafios, coragem, medos, risos, sustos, alívios... Acho que é para nos manter espertos, ativos, vivos...

            Em momentos de agonia, parece que se arrasta, não passa! Doenças, perdas muito queridas, desilusões, crises afetivas e materiais, fracassos... Nesses momentos de desespero e até de desesperança ele se arrasta! Em contra partida, ele parece voar levando a infância de nossos filhos para o mundo adulto e corroendo nossa força, vitalidade e viço em direção à velhice!

            Mas em sua marcha contínua, também nos traz ganhos e alegrias. Traz o desafio de novas fases de vida, com novos papéis, com descobertas, novas crenças, com novas visões, modificadas pela experiência. Traz ilusões ainda não desmanchadas, traz esperanças renovadas e novos encontros, novos amores.

            O tempo não corre em vão! Não há tempo perdido...Ele deixa marcado o caminho que nos viu andar, assistiu a vida nos sacudir com ganhos e perdas para melhor nos moldar. Mesmo nos mais jovens e imaturos, podemos observar as mudanças, pequenas que sejam, em suas ideias, comportamentos e atitudes. É importante cuidar que os espelhos não tragam apenas o reflexo de alguém cansado, abatido, amargurado, consigo mesmo e com o mundo tão adoecido. Preciso buscar as boas marcas que o tempo tem deixado em mim. Marcas de maior compreensão, paciência, humildade e tolerância com as minhas dificuldades e com as dos outros. O tempo que tira a “inocência” e o brilho  do olhar de nossas fantasias, ainda assim pode trazer um sorriso suave e sereno da aceitação madura do processo da vida.

            O tempo não corre em vão! Ele nos proporciona transformações. Na natureza, à qual pertencemos, ele nos oferece o espetáculo perene das mudanças das estações. Ele nos traz a certeza que, mesmo depois de um outono triste e de um inverno cheio de interiorização, sempre podemos esperar a doce promessa da primavera e a alegria pujante de um verão de sol. É assim! O processo se repete e acrescenta, também em nós! O tempo, a vida, jamais corre em vão! 



quarta-feira, 5 de abril de 2017

OS FILHOS




         Sempre admirados pelo mistério que todos somos, olhamos para nossos filhos, questionando: Quem são? De onde vieram? Porque vieram parar aqui, conosco? A quem “puxaram”?  Às vezes tão parecidos, ou tão diferentes, de nós! E mesmo quando fisicamente parecidos, conosco ou com os irmãos, são tão únicos, tão diferentes entre si! Ainda que estejamos unidos por laços tão intensos, eles se mostram ora mais agarrados, devotados, ternos, parceiros, gaiatos, cuidadosos, sérios, rígidos, confiantes, confiáveis... ora mais rebeldes, desligados, depressivos, exultantes, “secos”...  Cada um trouxe um temperamento! De onde vieram?  Que bobagem acharmos que são nossos e que sabemos tudo deles!  Quem são eles?

            Estabelecemos relações intensas, com doação total, mas teimamos em esquecer que são únicos, que crescerão, que necessitarão, cada vez mais, de espaço e liberdade para voarem para longe de nós, para poderem curtir a vida a seu modo, errando. aprendendo, crescendo! Quando os recebemos, doces “pacotinhos de gente”, tão frágeis e dependentes, nós os amamos, e ainda mais, esquecemos que não são nossos! Estão tão pertinho, tão juntinho de nós, tão engraçadinhos, que fica difícil entendermos que são outras pessoas, que forjarão outras histórias, outros destinos.  Não queremos ver e sofrer com suas “dores de crescimento”. Para acalmar nossos medos e nossos corações agoniados, tentamos fazer com que sejam seguros “repetidores” da experiência dos mais velhos. Mas, para nosso desespero, a vida os seduz e os empurra para seus desafios. Tudo que pudemos, de certo ou errado, passamos a eles, mas os resultados de suas escolhas são absolutamente particulares. Eles trazem uma bagagem e há um propósito sagrado para cada um deles. Afinal, esse é o sentido de estarmos aqui! .

            A natureza nos fez cuidadores e protetores de nossos filhos. O que nos une a eles é um instinto básico, de amor e responsabilidade, maior que nós mesmos, Fomos criados e cuidados com todo esse amor por nossos pais, mas são nossos filhos, o nosso amor maior! O fato de sermos “seres superiores e racionais” na Natureza, não muda esse instinto. Ele é pré-existente a nós e, se mantém para além do inicial sobreviver dos filhos.  Acrescentamos cuidados mais específicos, em tempo mais prolongado, para atender à sua especial capacidade racional/intelectual e para o desabrochar de suas complexas possibilidades de seres espirituais.  Nesse longo e difícil caminhar humano, contrariando o próprio instinto, sobrepondo-se a ele, alguns filhos foram abandonados, esquecidos, até brutalizados! No entanto, essa forma antinatural decorre de circunstâncias extremas  de graves desequilíbrios psicológicos e afetivos dos pais.

            Estamos aqui de passagem. Aqui, todos nos encontramos, certamente, como filhos e, às vezes, como pais de nossos filhos. Essa é uma grande oportunidade. Nesse especial encontro humano, acertamos e falhamos. Muitas vezes, confusos, culpados, amedrontados, até desesperados, quisemos, escapar de algo tão intenso e grande para nossa humanidade, ainda tão trôpega e frágil, como criar os filhos e cuidar dos velhos pais. Acredito que um Poder Maior de Puro Amor e Sabedoria apostou em nós ao decidir esse Encontro. Acho importante lembrar-me sempre que há nesse encontro um Propósito Maior, um Sentido Maior, do que nossos  transitórios laços e apegos físicos.