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sexta-feira, 27 de julho de 2018

A PRISÃO QUÍMICA



            Acreditamos que nascemos para sermos “felizes”. E assim  entendemos que precisamos viver sem dor, sempre gratificados com alegrias, cuidados e protegidos pela vida, valorizados e amados pelo mundo...  Mas não é fácil ser feliz, porque o mundo parece não colaborar! Acreditamos (nosso Ego ) que devemos  lutar cada vez mais por parecer, por ter, por suplantar, por sermos os escolhidos, os admirados e amados, por vencer... E nos apegamos a coisas e pessoas(coisas queridas) porque acreditamos que farão o nosso mundo feliz e que temos o poder de fazê-los felizes... Sufocamos emoções e sentimentos que não favoreçam nossa luta; subordinamos a Justiça e a Verdade aos objetivos de nossa cruzada pela felicidade e justificamos nossos comportamentos pela própria  busca !  Tudo para sermos felizes...  No entanto, nessa luta a que nosso ego arrogante e teimoso, cada vez mais, se aplica, nos sentimos vazios de nós mesmos e distantes daqueles por quem tanto ansiamos! A Dor, que tanto tememos, nos ronda e abraça...
            Também acreditamos que é desse mundo egóico, dono das possibilidades da nossa felicidade, que certamente virão as soluções. Desse mundo material e tão poderoso, desse mundo moderno, científico, tecnológico, químico, virão as distrações que darão um Up nesse vazio e as anestesias que disfarçam qualquer desconforto e dor. “Tomei doril e a dor sumiu!”.  Distraídos, apressados, práticos, inconscientes de nós mesmos, nos deixamos, todos, atrair pela armadilha da facilidade química, que não ouve o que grita a nossa dor, que atropela nosso equilíbrio físico, que não respeita nossa dimensão dos sentimentos e desconhece nossas necessidades maiores de seres espirituais. A cada dia estamos mais atraídos pelas distrações e valores do mundo, mais distantes de nós mesmos, fascinados e aprisionados pela fantasia tecnológica e/ou química. Grande parte de todos nós continuará assim, levemente anestesiados, empobrecidos de todas suas melhores possibilidades, querendo apenas ser “normais” e seguir o rebanho...
          Em outros, quando a dor da vida grita mais forte porque seu ego mais rigidamente quis acertar ou contestar, porque mais continuadamente e com mais agonia buscaram o alívio prometido pelos químicos, a armadilha vai-se fechando e, assustados e desesperados, caem num poço escuro, escorregadio, que os leva cada vez mais fundo, aprisionados em si mesmos, acorrentados na dor que grita, compulsivamente, por socorro químico ao corpo físico, em desequilíbrio, de células já distorcidas em seu metabolismo, e em uma aliança mortal com a mente sem comando, fora de controle, obsessiva... Como num carrossel desgovernado, aqueles que os amam se agarram a eles na tentativa de resgatá-los, mas também são sugados nesse vórtice que a todos aprisiona e enlouquece.
          E nós, que tanto queríamos ser livres e felizes, estamos agora presos num calabouço, escuro, frio, açoitados, torturados, em gritos mudos, nos debatendo, agressivos ou largados, sem mais acreditar, desorientados, desvalorizados, desamados...   Talvez, apenas e ainda, nos reste a esperança da Graça, do socorro, de um Poder Maior que nos mostre uma saída.
         A prisão química, assim, pode se revelar a mais perversa e traiçoeira armadilha que o mundo hoje oferece ao nosso ego.  No entanto, o terror e o horror dessa experiência talvez tenham o poder de, em algum momento, quebrar a rigidez orgulhosa, teimosa e arrogante de nosso ego e  nos preparar para seguir adiante, já mais humildes, em busca da sonhada liberdade   – indo  Para Além do Ego!

sexta-feira, 20 de julho de 2018

EGOÍSMO II



             Egoísmo é fazermos escolhas e tomarmos atitudes levando em consideração, apenas, os desejos e necessidades do nosso ego. É queremos ser felizes a qualquer preço!  Com a desculpa que preciso defender o que é “meu” e tudo que preciso para atender às minhas necessidades materiais, afetivas, intelectuais...  avanço sobre o espaço e as necessidades dos outros! Egoísmo é cuidar de mim, sem respeitar os outros..
            Meu ego defensivo grita que sou dona do meu destino e do meu corpo, sem respeitar se meu caminhar atropela outras pessoas, sem atentar que, em meu corpo (quando mulher), por força da natureza, outra vida está sendo gerada, outra vida depende de mim.
            Meu ego orgulhoso, vaidoso e medroso defende minha necessidade de valorização através da comparação, da disputa e da superioridade aos outros. Egoísmo é precisar ter mais, mais e mais, mesmo à custa do que resta de menos para os outros.
            Meu ego, com medo de ser menos, defende meu  gosto e minha  necessidade de Poder e Comando, submetendo os que estão mais vulneráveis, mesmo quando pareço defendê-los, mantendo-os frágeis e dependentes, podendo assim, eu mesma, parecer mais forte.
            Meu ego, que me cega, aceita explorar o trabalho e a justa retribuição aos mais fracos, fazendo-me sentir  ainda “generosa” por lhes estar dando trabalho! Meu ego abusa dos que me amam, dos carentes e dependentes do meu afeto, em nome do amor e para encobrir  minhas inseguranças...
            Meu ego, que rejeita diferenças e diferentes para melhor se defender, magoa, humilha, ignora, se afasta, discrimina...
Meu ego defende os meus desejos e, ante minha carência afetiva, que acredita tudo justificar, vai à luta pelo “amor”, passando por cima dos sentimentos e vidas de pessoas ou de famílias que estejam em seu caminho. Nosso ego não acredita em respeito ou renúncia pelos outros!
            Egoístas, não queremos ser maus, não queremos humilhar, explorar, prejudicar ninguém, apenas pensamos que vale tudo para nos fazer “felizes”!  Na maioria das vezes nem notamos que estamos atropelando os valores éticos que admiramos.  Ainda acreditamos que somos justos, generosos, humanos... mas, na verdade,  estamos perdendo a noção desses valores num mundo tão egóico, onde a luta e a defesa tudo justificam.   
            Como diziam os antigos: Ele não queria o ser mau, mas botou fogo na casa do vizinho, porque precisava fritar um ovo!
            Não posso modificar o egoísmo do mundo nem julgar ou modificar  os outros, mas posso estar atenta a mim mesma, revendo minhas atitudes passadas  e buscando superar  meu egoísmo a cada dia, atenta às minhas atitudes em cada situação, tentando pensar, sentir e agir com valores de respeito e compaixão.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

PARCEIROS E ADVERSÁRIOS



            Num mundo de egos em eternas disputas, de toda ordem, vale analisar nossas parcerias.  Nesses “jogos” na vida, vale a nossa individualidade, mas estamos atuando, também, sempre em grupo, sempre com companhias...  Escolhemos algumas e as outras, a própria Vida nos trouxe! E nesse “jogo” estamos numa eterna troca de “passes” com os parceiros, familiares ou não.
            Recebemos “bolas” redondinhas, sob medida para nossos braços e corações! É tão gostoso trocar “passes” com parceiros que nos respeitam, que estão atentos aos nossos gostos e possibilidades, que sorriem, que nos estimulam nos desafios e, sempre com gentileza e carinho, que choram conosco  nas derrotas e  curtem conosco as vitórias... Com eles, nos acomodamos e desfrutamos o que a vida nos oferece.
            Mas essa “partida” tem um propósito maior que o mero e alegre desfrute do jogo!   Somos desafiados por situações difíceis ante adversários vários, próximos ou distantes, que em nada nos facilitam o jogo. Éramos parceiros e muitas vezes nos  transformamos em adversários! Agora eles nos mandam  “bolas tortas”, quadradas, enviesadas, em jogadas traiçoeiras... Outras vezes, nos deixam jogando sozinhos, preferindo outros parceiros... E choramos por que “não devia ser assim”!  Ficamos muito magoados, zangados, ressentidos...  Não queremos mais jogar com eles! Queremos expulsá-los desse jogo da nossa vida.
            Mas não somos os donos da bola e nesse jogo, são esses parceiros/adversários que mais podem nos ensinar a “jogar”.  Esquecemos que essa passagem  deve ser apenas um treino para futuros jogos, cada vez mais importantes e mais amistosos! Precisamos estar atentos para a possibilidade de rasteiras, de traiçoeiros dribles, de jogadas agressivas, de fim de jogo... Precisamos entender as características de parceiros e adversários para aproveitar o jogo. Estabelecendo nossos limites a cada jogada, com uma boa visão dos diferentes jogadores, poderemos explorar possibilidades e prosseguir – curtindo o jogo.  Afinal, jogar sozinhos é mais fácil ,embora mais triste e jogar em equipe é mais difícil, mas pode nos enriquecer e trazer muita alegria... A bola está rolando a cada dia. Cabe a cada um de nós aproveitar!