QUANDO O REMORSO VOLTA ...

         O Remorso é a culpa eternizada. Ele revive a culpa e nos aprisiona no passado. Num replay doentio e destituído de valor,  somos fustigados pela lembrança de nossos erros e condenados a uma eterna agonia.  E, infelizmente, o remorso não modifica o passado, não nos faz crescer, nem nos “limpa” de nossos erros!

Tudo começa quando nós, humanos, falhamos. Falhamos por medo, por covardia, por cobiça,  por egoísmo, por não sabermos ou não conseguirmos fazer melhores escolhas para nós, para nossas relações mais queridas, para os que dependiam de nós.  Traímos, abandonamos, descuidamos, maltratamos, atropelamos...

Como centelhas divinas que somos, algo sempre nos sinalizava o erro. Sinais que não escutávamos, absorvidos pela força das razões do ego, pelos nossos desejos gritantes, pela preguiça, pela vaidade, pelo orgulho, pela inveja, pela raiva, por nossas carências...  Surdos à Voz Silenciosa, interior, embora sempre presente, nós arranjávamos explicações e até justificativas para nossos atos, ou minimizávamos as possíveis consequências de nossas escolhas.

          Mas, como a vida não corre em vão, somos aos poucos confrontados com nossos erros, amadurecemos e nos arrependemos. É um passo adiante no nosso caminhar. Precisamos, no entanto, aceitar e perdoar nossa humanidade imperfeita, aceitar que o passado não volta para retoques, que é preciso continuar no presente e buscar fazer melhor...O arrependimento é apenas o início da redenção, da libertação! Ele nos pede mudanças em desagravo às dores que causamos.

         E quando o Remorso, de repente e novamente, me assaltar preciso, com paciência, conversar comigo mesma sobre a aceitação/perdão do passado e ocupar-me com o presente.

         As lembranças dos erros sempre trarão muita dor, mas lembranças pertencem ao passado e a vida acontece hoje, no agora. Não é sadio ficar remoendo dores do passado. Elas me aprisionam, são inúteis e não fazem crescer. Sou responsável pelas minhas mudanças num presente mais amadurecido através dos erros. Não moro no Passado.

        A dor é inevitável, mas o sofrimento com o remorso é opcional! 

QUANDO A ESCURIDÃO NOS ENVOLVE...

           Luz abafada... Neblina densa, escura... Luz que precisa de Luz e não consegue romper a escuridão que a aprisiona... Agonia que entorpece o corpo e parece um amortecimento da vida física...  Cansaço, sem força, sem pressão, sem vontade, sem saída... Para não pensar, só resta acabar...  Mas os pensamentos insistem em voltar, massacrando, irritando, cansando, enlouquecendo..., embora nos chamem a lutar, a estar vivos... Enlouquecem tanto que, às vezes, quero “morrer ”para calá-los, para acabar!

Mas a Centelha Viva, sagrada, de Luz, em mim, luta, insiste em buscar um outro caminho para furar essa “noite escura” e se conectar com Sua Luz Original.  “Busca e acharás” É um grito de agonia que ecoa em mim, em busca dessa saída, dessa Luz... “Pedi e Recebereis” ...

Existem caminhos, atalhos, passagens, para sair dessa agonia de mim mesma! Algo vivo, que necessita de atenção, cuidados... uma criança, um velho, alguém que chora, um bichinho, uma plantinha... Algo/alguém vivo, que precisa da minha atenção, da minha luz, tão acobertada pela agonia! Sorrir para alguém, abraçar quem chora, cuidar de um bichinho, molhar uma plantinha, compartilhar... Devagar, parece tão pouco, mas é o caminho: ocupar-me, com simplicidade, para ter novos pensamentos, novos ganhos, para conseguir orar, para chegar à beleza do mundo de Deus, tão simples...

         É um paradoxo: desse doar é que cresce a minha força, desse desvio de atenção, é que encontro a saída para a liberdade! Ocupada, sinto minha pequena centelha sendo iluminada pela luz de um Sol Maior, sinto a neblina ir dissipando-se. É um encontro mágico, sagrado, da minha Pequena Centelha viva com a Vida criada pela Usina de Luz que nos abastece de força, de alegria, de propósito para viver...

Sempre que minha luz amortecer, que a neblina ameaçar me envolver, já sei o caminho para um viver melhor e maior! Doando-me, vou ao encontro do outro, dos outros, porque neles também habita Tua Luz! Juntos, unindo nossas forças, cuidando uns dos outros, estaremos sempre em Contacto Contigo e salvos...    

Já se disse “É dando que se recebe a alegria de viver!. 

SOBERBA INTELECTUAL

        Como crescemos e somos avaliados num mundo materialista, quantitativo, competitivo e tecnológico, buscamos, mais e mais, acumular conhecimentos e técnicas. Somos rotulados por graus, etiquetados como aprendizes, mestres, doutores nos vários setores de nossa vida (religiosa, acadêmica, profissional...) Isso influencia nossa personalidade, nossa vida social e reforça a hierarquia baseada não só no dinheiro, aparência, poder e status, mas também em títulos acadêmicos, técnicos, religiosos e intelectuais. Avaliamos pessoas e situações a partir de nossa “altura “ e, por tudo isso, desenvolvemos, muitas vezes, um orgulho, uma  Soberba Intelectual.

         No entanto, não somos seres apenas mentais. A extrema valorização, e sua busca constante, de nosso desenvolvimento mental/intelectual acarreta possíveis distorções em nossos outros níveis, principalmente no emocional, no caráter e em nossas relações.

        Comparações, competições desde a infância, escolas (e famílias) que apregoam e buscam formar vencedores baseadas no saber intelectual, acabam por massacrar-nos emocionalmente. Alimenta-se a soberba, a vaidade, a arrogância, em desequilíbrio com nossos aspectos afetivos e de valores éticos, determinando uma infantilidade emocional e uma subnutrição espiritual. Tudo isso esconde o grande medo de falhar, a necessidade constante de se superar, e aos outros, a angústia dessa eterna comparação onde não devo me deixar superar, a frieza e o distanciamento dos “menos dotados”... Tudo que a soberba traz.

         Esse mundo tão intelectualizado, asséptico e técnico, onde somos os melhores, não nos faz felizes em nossas relações afetivas com “seres humanos normais”. O orgulho nos mantém distanciados dos outros, afastados do que somos e podemos como seres, também, afetivos e espirituais. Ele nos blinda, isola e encarcera numa auto imagem incompleta e distorcida, nos mantendo no auto engano.

 Precisamos descer de nosso pedestal intelectual e chegar ao “espírito” do que sabemos. Precisamos humanizar e vivenciar o que aprendemos. Precisamos abrir espaços para sermos aprendizes na dimensão dos sentimentos e da espiritualidade. Precisamos observar, descobrir e valorizar os aspectos afetivos e a sabedoria dos mais simples...