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sexta-feira, 29 de junho de 2018

ELE VAI VOLTAR !



           Quem está voltando? De onde? Por que se foi? Quanta dor até a separação!  Quantos desacertos até esse desfecho tão doído, mas que se fez finalmente necessário! De onde ele chega? Do mundo, da rua, de uma clínica? Não importa! Todos (familiares e adictos) temos agora a oportunidade de um Novo começo!! Não um recomeço, não uma relação “requentada”, sem gosto, viciada...!
           Quando ele se foi, quando nos separamos, após tanta luta, tanto desencontro, tanto desespero, vivemos sentimentos intensamente  confusos e contraditórios: alívio, descanso, porque já não aguentávamos mais e muita culpa por tudo ser dessa forma, por nossa incompetência em não conseguirmos “salvar” o adicto. E agora, um sonho, transformado em expectativa agoniada de que, agora, modificado pela dor, ele ficará “curado”!
           Um tempo se passou e agora ele vai voltar! Os sentimentos parecem ainda mais intensos e confusos! Alegria por rever quem amamos, mas abafada, até fisicamente, pelas terríveis lembranças de um passado amargo, pela amargura dos ideais perdidos... e pelo medo, que antecipa problemas, de vê-lo recair em velhos padrões.  E se...
            Hoje vejo que cabe mais uma pergunta. Para onde ele está voltando? Para quem ele está voltando? Tão perturbada eu estava, focando desesperada nas mudanças do Outro, que não percebia o quanto também fazíamos parte daquela relação. Ele estava voltando para aquela mesma velha família, aquela mesma relação com crenças, emoções e  comportamentos iguais e tão disfuncionais?   Será que já percebi que é muito difícil alguém mudar sozinho, quando tudo à sua volta permanece igual? Percebi que enquanto o observo, mesmo disfarçadamente, jogo toda uma expectativa angustiante sobre ele? Percebi que ele é uma pessoa com dificuldades e desafios próprios, que precisa descobrir sua própria força, que precisa amadurecer, crescer...? Que não pode ser diminuído por facilitações, humilhado por manipulações..?. Que precisa da força amorosa de uma relação gentil, honesta, respeitosa?
          Será que estou pronta para essa nova relação? Toda a dor o desafios que enfrentamos pode ter nos preparado para uma nova fase de amadurecimento. Preciso aprender a amar com respeito – a mim e a ele.  A Amar sem segurar, sem prender. Quero ter uma parceria saudável, refletir minha auto responsabilidade – cuidar de mim - e deixar que ele aprenda a se cuidar!.  
          Aprender  a amar de modo mais respeitoso e maduro é muito difícil! Afinal aprendemos a amar possessivamente ou dependentes uns dos outros e a não nos responsabilizarmos por nós mesmos.  Precisamos -Todos- de apoio nesse aprendizado. Precisamos buscar esse aprendizado nos grupos daqueles que também buscam Ser com Verdade e Amar sem medo.


sexta-feira, 22 de junho de 2018

OS AVÓS



           Os pais nos “fazem”, nos criam, orientam, dão diretrizes, regras, nos encaminham... mas são os avós que cuidam da nossa “arte final”.  Eles que  humanizam, arredondam, amaciam... todo o trabalho, toda a obra, toda a “criação” dos pais.  E isso em meio a algumas lutas, discussões sobre mando, comando e território;  em meio a palpites não solicitados, a regras algumas vezes transgredidas, em meio a uma cumplicidade e uma  aliança indestrutível e inesquecível, de puro amor e ternura, entre avós e netos.


           Os pais têm o poder, o saber, as regras, as teorias, aquela responsabilidade visceral, que advém do sangue ou do seu papel. Precisam ser firmes, tentando superar as próprias incertezas e o medo de falhar.  Os avós, já amaciados pela própria vida, pelos seus acertos e desacertos, usam agora de mais liberdade para ousar e relaxar, com uma “não responsabilidade” temperada pela sabedoria e pura ternura.


           Hoje, numa modernidade cheia de teorias e correrias, tristes são as gerações criadas desde muito cedo por babás eletrônicas (ou não), em estabelecimentos, que ajudam a desenvolver suas aptidões sociais e intelectuais, em ambientes assépticos, retos, sem curvas, sem colo, muito vigiados para maior segurança, mas distantes do aconchego, das cantigas, do convívio dos avós, já dispensáveis  e logo dispensados. 


           Mas foi nesses colos que ouvimos histórias e adormecemos, aquecidos e embalados, por modinhas antigas, que hoje as crianças só podem aprender pelos celulares! Nossos avós cuidavam dos pequenos machucados, consolavam nossas pequenas crises, serviam de anteparo nas crises maiores entre nossos pais ou com o mundo adulto.


           Os avós, outrora eles também pais sisudos e atarefados, são agora seres doces, que adoçam as vidas dos netos, porque já descobriram a riqueza de ouvir suas perguntas, suas observações, seus sentimentos e emoções, seus “dramas” e suas pequenas mentiras e fantasias... Podem  ouvir seu universo único e maravilhoso, sem a preocupação e agonia de cobrar...  Podem satisfazer suas pequenas vontades ( doces proibidos, comidinhas especiais, fogueirinhas e “maria preta”, sentar no volante do carro...) São disponíveis para levar para aulas, fazer parte do seu dia, hoje tão corrido, para curtir seu desabrochar...


           Na adolescência, quando ninguém nos entendia, quando os pais amedrontados, gritavam, discutiam, tentavam impor regras, ainda mais rígidas e mais desobedecidas, eram os avós que nos acolhiam, nos ouviam e explicavam melhor as atitudes de nossos pais ante seus medos da vida. Eram eles um elemento de equilíbrio e serenidade na família em crise. E, no confuso mundo das transformações familiares e sociais, é a eles delegada, muitas vezes, a responsabilidade de acumular papéis e criar os netos! 


            Para sempre o olhar e o amor de nossos avós nos acompanharam, querendo ainda ajudar e fazer parte de nossas vidas, embora, por conta da própria vida, fossem ficando cada vez mais de longe. Até o fim eles nos acolhem, esperam o melhor de nós e para nós, sempre disfarçando um temor e uma dor pelas dores que certamente enfrentaremos na vida.

            Nossos avós, aqueceram e coloriram nossas vidas com  carinho, com os valores, com os momentos vividos e compartilhados, embora na juventude tenham até nos parecidos “caretas” e fora de moda.  Mais tarde, conforme amadurecemos, mais os entendemos, mais os valorizamos, mais saudades nos trazem... Eles para sempre nos acompanham, impressos em nossas lembranças, em nossas vidas, em nossas almas.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

A DOR QUE NÃO ACABA



          Ela não acaba.  A perda passou, mas a dor não acabou!  Às vezes pensamos que, finalmente, passou, adormeceu! Então, com o mesmo cuidado que temos para não acordar uma criancinha de sono muito leve, ficamos muito cuidadosos e com atenção para não acordar essa Dor.  Silêncio! Procuramos distrações, para não despertar essa dor que não acaba. Atenção para não lembrar, não relembrar, porque, se essa dor acordar, liberamos, num grito rascante, todo o horror que está abafado, contido, sufocado, dentro de nós.

            E é tão frágil esse “equilíbrio” a que nos impomos! Num repente, uma música, um doce, uma comidinha, um filme...  Um texto ou uma história compartilhada, logo tão reconhecida, quaisquer  detalhes do dia, acordam a agonia dessa Dor dentro de nós! Sobrevêm, gritando, as boas lembranças do que ficou perdido, atropeladas pela mágoa das lembranças ruins, dos momentos mais difíceis.  Somos subjugados pelas recordações, pela nostalgia e pela tristeza, na melhor das hipóteses, mas, sobretudo, pela mágoa, pela raiva, pelas culpas, pelo ressentimento com a vida, pelo antigo desespero! Como tudo revive tão forte!

           Pensei que havia superado questões de merecimento, castigo, comparações de destino... Questões de fracasso, da vida, de Deus, mas nesses momentos de “rasteira” dessa Dor, tudo volta de forma revolta, confusa, e apenas muito, muito, doída! Racionalmente já entendi, aceitei, continuei... Mas em meu coração preciso de mais tempo, na verdade de um tempo que parece não tem fim.
Hoje, nesse momento em que algo me arremessou ao passado e à Dor, precisei parar e chorar. Depois, conversei com minha dor, nós nos explicamos, e aos poucos fomos  aquietando-nos, pelo menos até um novo momento de caída no passado, até uma nova “mordida” nesse nervo, para sempre exposto, em minha alma. 

Mas estou aprendendo. Volte para o Agora! Ocupe-se com o Agora!  Segure-se em Deus, porque Ele vive no Agora! E então, mais sacudida e renovada, viva melhor esse Agora. É o que podemos!