O correr do tempo, com constantes amuos, pequenas e grandes
mágoas, filhas de eternas e tolas expectativas, vão, muitas vezes, nos isolando
uns dos outros, nos tornando aguerridos, defensivos afetivamente. No entanto,
aos poucos, nos sentimos carentes do
calor suave e maravilhoso da ternura e do carinho. E é na relação com as
pessoas mais especiais em nossa vida que essa carência se faz mais sentida e
doída. É um filho “difícil”, um irmão distante, pais idosos, tristes e
irritadiços e companheiros “cabreiros”, desconfiados, numa parceria amuada, até
já meio falida... Todos ficaram
distantes e ressentidos por muitos ditos e não ditos...
Foram algumas dessas pequenas ou grandes lutas, continuadas, que
nos distanciaram, azedando nosso amor e nos levando a uma divisão interior
entre o querer e o não querer mais a proximidade afetiva. Já não conseguimos
dar nem receber carinho daquela pessoa tão querida! Nossas relações ficaram
secas... Caminhamos juntos como retirantes em solo árido! É muito estranho e triste!
Podemos ficar analisando no resto
de nossas vidas em que pedaço do caminho nós perdemos o jeito de sermos
carinhosos uns com outros, mas então
descobriremos que essa secura foi apenas se instalando, enquanto nós,
atentos ao controle um do Outro, em cobrar e permitir demais, nem percebemos. Tento
analisar:
Dar carinhos foi ficando cada vez mais difícil por conta de
meu orgulho, de não querer ceder, de não querer parecer perder? De minha insegurança, do meu medo de parecer
boba e piegas... De minha vergonha, se não for aceita uma aproximação ? Da
raiva que alimento ao ficar revivendo ocasiões negativas? Da mágoa que mantenho
viva ao relembrar decepções? Do medo
de parecer frágil e deixar o outro abusar? Do ressentimento contínuo, nascido
de todo esse modo de pensar, sentir e agir?
E receber carinhos? Será que ainda sei? Será que ainda tenho abertura afetiva para
“essas bobagens”? Será que sinalizo essa abertura ao outro? Será que estou
muito desconfiada e insegura para aceitar seus carinhos? Será que mantenho
distância e aparento frieza como forma de me defender do “perigo” de demonstrar
e receber Amor nessas relações?
Mas,” Que falta que faz um carinho!
Que falta que faz um xodó”! O frio e a solidão que sentimos, vamos tentando,
muitas vezes, compensar com bichinhos e criancinhas, que nos amam, sem que
precisemos deles nos defender! Quero trazer mais carinho para minha vida? Então
acredito que preciso ousar mais, buscar mais coragem para reaprender a amar em
relações já tão ressecadas... Preciso ir
diluindo meus medos, meu orgulho, embora
respeitando meu tempo e meu espaço... Posso ir sinalizando meu aproximar
através de um tímido sorriso, um riso aberto, um toque ligeiro, um olhar
cúmplice e amigo, um ouvir com atenção, mais sorrisos... até que um dia,
talvez, um abraço, um afago, um carinho...
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