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sexta-feira, 1 de junho de 2018

ASSÉDIO CONSENTIDO



        O assédio se caracteriza pela tentativa de usar o Outro para satisfação das próprias necessidades, desejos, carências. É diferente da agressão de ocasionais investidas  covardes e oportunistas, porque o assédio é de uma ação continuada, insistente. No entanto, o que os iguala é o egoísmo, o total desrespeito ao Outro, no uso e abuso de suas carências físicas, psicológicas, emocionais.  Ele pode acontecer em qualquer relação: de trabalho, familiar, etc. O assediador explora buscando vantagens materiais (sexo, dinheiro, trabalho...) ou psicológicas (delegando responsabilidades, “alugando” o emocional do outro, seus medos e fantasias, suas crenças limitadoras...) Para isso ele adula, manipula, mente, se insinua, oprime, amedronta,  insiste...

         Toda  essa ação nos indigna, nos queixamos, nos magoamos, brigamos, ofendemos e, às vezes, até denunciamos, mas precisamos antes, honestamente, reconhecê-la em cada uma de nossas relações e entender qual nosso papel.  Cabem perguntas a nós mesmos:                   Que atitudes minhas configuram meu consentimento  aos insistentes assédios que sofro, principalmente em família, mesmo “por amor”?  Por que permiti, ou ainda permito, essas formas de assédio comigo? O que quero ou espero “ganhar” em troca? Às vezes mudo até de abusador, mas permaneço vítima, abusada e assediada! 

           Por que? É o medo de enfrentar reações e precisar sair de nossa zona de “desconforto” já conhecida? É o medo de perder o controle sobre o Outro, controle que, na verdade, nunca tivemos? É o medo da rejeição, de ser abandonado, de ser preterido, de ser menos valorizado e amado? É uma culpa absurda por não ser tão boa e perfeita quanto acreditava que devia ser? É o medo de descobrir quem sou, de ousar ver até onde posso ir?   

         Como é difícil cortar abusos, não me deixar assediar, estabelecer limites aos outros e ao mundo, quando ainda me vejo tão carente e dependente de aprovação e de amor ! Mas permanecer vítima não nos traz ganhos, só sacrifícios, humilhação, raiva, vergonha, auto rejeição, auto imagem baixa... Olhar para nós mesmos, reconhecer  nossas motivações, nossos medos, nossa inércia, nossas crenças limitadoras, nossos sentimentos e nossas  atitudes de cumplicidade, nos tornará Conscientes de que somos os únicos responsáveis por nós mesmos, pelo modo como nos tratam, pelo modo como nos relacionamos conosco mesmos e com os outros. A cada situação de assédio ou abuso reconhecido, não vou culpar o assediador!  Eu é que preciso cuidar de mim!  Um dia de cada vez, com paciência, firmeza e carinho, iremos construindo a Coragem para mudar!

          Em tempo, também cabe a pergunta: Sou só assediado ou também sou um assediador em outras relações?



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