Os pais nos “fazem”, nos criam, orientam, dão diretrizes,
regras, nos encaminham... mas são os avós que cuidam da nossa “arte
final”. Eles que humanizam, arredondam, amaciam... todo o
trabalho, toda a obra, toda a “criação” dos pais. E isso em meio a algumas lutas, discussões
sobre mando, comando e território; em
meio a palpites não solicitados, a regras algumas vezes transgredidas, em meio
a uma cumplicidade e uma aliança
indestrutível e inesquecível, de puro amor e ternura, entre avós e netos.
Os pais têm o poder, o saber, as regras, as teorias, aquela
responsabilidade visceral, que advém do sangue ou do seu papel. Precisam ser
firmes, tentando superar as próprias incertezas e o medo de falhar. Os avós, já amaciados pela própria vida,
pelos seus acertos e desacertos, usam agora de mais liberdade para ousar e
relaxar, com uma “não responsabilidade” temperada pela sabedoria e pura
ternura.
Hoje, numa modernidade cheia de teorias e correrias, tristes
são as gerações criadas desde muito cedo por babás eletrônicas (ou não), em
estabelecimentos, que ajudam a desenvolver suas aptidões sociais e
intelectuais, em ambientes assépticos, retos, sem curvas, sem colo, muito vigiados
para maior segurança, mas distantes do aconchego, das cantigas, do convívio dos
avós, já dispensáveis e logo dispensados.
Mas foi nesses colos que ouvimos histórias e adormecemos,
aquecidos e embalados, por modinhas antigas, que hoje as crianças só podem
aprender pelos celulares! Nossos avós cuidavam dos pequenos machucados,
consolavam nossas pequenas crises, serviam de anteparo nas crises maiores entre
nossos pais ou com o mundo adulto.
Os avós, outrora eles também pais sisudos e atarefados, são
agora seres doces, que adoçam as vidas dos netos, porque já descobriram a
riqueza de ouvir suas perguntas, suas observações, seus sentimentos e emoções,
seus “dramas” e suas pequenas mentiras e fantasias... Podem ouvir seu universo único e maravilhoso, sem a
preocupação e agonia de cobrar... Podem
satisfazer suas pequenas vontades ( doces proibidos, comidinhas especiais,
fogueirinhas e “maria preta”, sentar no volante do carro...) São disponíveis
para levar para aulas, fazer parte do seu dia, hoje tão corrido, para curtir
seu desabrochar...
Na adolescência, quando ninguém nos entendia, quando os pais
amedrontados, gritavam, discutiam, tentavam impor regras, ainda mais rígidas e
mais desobedecidas, eram os avós que nos acolhiam, nos ouviam e explicavam
melhor as atitudes de nossos pais ante seus medos da vida. Eram eles um
elemento de equilíbrio e serenidade na família em crise. E, no confuso mundo
das transformações familiares e sociais, é a eles delegada, muitas vezes, a
responsabilidade de acumular papéis e criar os netos!
Para sempre o olhar e o amor de nossos avós nos
acompanharam, querendo ainda ajudar e fazer parte de nossas vidas, embora, por
conta da própria vida, fossem ficando cada vez mais de longe. Até o fim eles
nos acolhem, esperam o melhor de nós e para nós, sempre disfarçando um temor e
uma dor pelas dores que certamente enfrentaremos na vida.
Nossos avós, aqueceram e coloriram nossas vidas com carinho, com os valores, com os momentos vividos e compartilhados, embora na juventude tenham até nos parecidos “caretas” e fora de moda. Mais tarde, conforme amadurecemos, mais os entendemos, mais os valorizamos, mais saudades nos trazem... Eles para sempre nos acompanham, impressos em nossas lembranças, em nossas vidas, em nossas almas.
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