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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O PESO DE NOSSOS ERROS


         O peso de nossas falhas se faz sentir dolorosamente em nossos corações, quando finalmente conseguimos enxergá-las.
A princípio, na luta por nosso espaço, nosso poder, nossos gozos, nossos apegos, nossas paixões... não reconhecemos muitas de nossas atitudes como falhas. Nós buscamos (e achamos!) explicações, desculpas e justificativas para nosso egoísmo, nossa covardia, ao procurarmos nos defender de possíveis perdas, ao fugirmos de assumir as conseqüências de nossos atos, ao lutarmos, atacando, para tentar suprir nossas carências. E para isso mentimos, escondemos, nos escondemos, invadimos, seduzimos, nos deixamos seduzir, manipulamos, fingimos, negamos... Tantas vezes atropelamos ou nos omitimos para nos resguardar de perdas ou para obter ganhos, mesmo causando dores e danos.

            Num processo de crescimento e amadurecimento, finalmente conseguimos “ver”, entender, as verdadeiras faces de nossos atos, sem os mascarar ou justificar. Falhamos e nossos erros causaram confusão, raiva, dor, sofrimento, nas pessoas, mesmo nas mais queridas! Essa visão clara e honesta traz a culpa, a vergonha e a humilhação por não termos sido melhores. Hoje entendo que ficar remoendo esses sentimentos dolorosos e negativos me mantém refém do meu orgulho, da minha arrogância, da minha prepotência, por achar que eu era melhor, que sabia mais, que não iria errar. Talvez outros poderiam ser perdoados, eu não!

            O peso dessa luta interna se traduz em muita dor. Posso ficar aprisionada nessa dor como auto punição, remoendo um remorso eterno ou posso ser sinalizada por ela para rever meus erros, descobrindo meu real tamanho, aprendendo a ser humilde, a aceitar o que fiz e o que fui (e aceitar não é gostar!), aprendendo a não julgar e condenar tão facilmente as pessoas, aprendendo a usar o reconhecimento dos erros e o arrependimento como base segura e honesta para um caminhar melhor pela vida.

            E a dor real de magoar as pessoas, queridas ou não?
É triste saber que nem toda minha dor pode corrigir o passado! A dor existirá sempre que lembrar desse passado. Ela faz parte da vida, das perdas e danos, mas pode me ensinar a transformá-los em algum crescimento. O peso dessas dores será um eterno alerta para o meu atual caminhar!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DISTRAÍDOS !


          Somos seres distraídos de nós mesmos! Estamos de passagem num Mundo que nos mantém distraídos, talvez para não nos perder. Esse Mundo cuidou de nós, investiu em nós suas verdades, idéias, técnicas, regras... e acredita que, se somos parte dele,  devemos ser conduzidos e condicionados por ele para pensar, sentir e agir. Enfim, ele dita o que podemos/devemos e o que não podemos/não devemos... ser e/ou fazer.

            Tentando manter nosso interesse e atenção, o Mundo nos acena com promessas de prazeres físicos/materiais -  sabores, cheiros, cores, valores/dinheiro, viagens, sexo, esportes... Promessas de outros prazeres - de homens e mulheres de sucesso, vencedores, de preferência jovens, bonitos, ricos, fortes, eternos...
            O Mundo também nos distrai criando necessidades estéticas, necessidades de novidades tecnológicas... Ele nos envolve em confrontos/disputas de opiniões, em esportes, política, trabalho... em jogos de poder, jogos de guerra – pessoais ou entre nações.

            Somos ainda distraídos e manipulados pela mídia (jornais, filmes, novelas, TV, internet, etc), pela quantidade cada vez maior( e desencontrada) de informações de todo tipo, pelos jogos e por relações virtuais, pelas “revelações e promessas religiosas de salvação”  cada vez mais abundantes e disputadas...

            E o Mundo nos mantém ligados a ele, com “ameaças/promessas” de perder ou ganhar segurança, amor e aprovação! Ele me diz como devo ser para ser aceito, amado, aprovado e valorizado!

            Mas, afinal, o Mundo nos distrai de que/ De quem?
De nós mesmos! De mim, de minha Consciência, de um chamado maior/melhor dessa minha dimensão interior que pode me dizer quem realmente Sou, o que realmente penso, sinto, posso... Que tem o poder de me fazer feliz! O Mundo me distrai e não me deixa ouvir o que me chama, impede a escuta desse chamado, dessa con/vocação primeira, primordial, principal – Cuidar do Ser que sou!

            Na verdade, como é difícil estar comigo em meio a tanta distração, em meio a tantas “obrigações mundanas”!
Como me ouvir/olhar para me descobrir, me conhecer, poder me aceitar, me respeitar, me responsabilizar pelo meu caminhar, pelo meu florescer, pelo meu libertar?

            Preciso estar atento para inverter esse movimento que me leva e me aprisiona lá fora, nas distrações de fora. Preciso lembrar que o Mundo, aparentemente tão concreto e real, é Maia, é ilusão. Ele é o que passa, o que um dia morre e acaba, ele é tudo que vou deixar para trás. Preciso trazer-Me para Mim! Preciso de vontade, de boa vontade, paciência, ternura, entusiasmo, perseverança... para iniciar e dar continuidade a esse cuidar amoroso que cria intimidade comigo mesma, que me faz confiante em mim, nas minhas possibilidades de tornar-me feliz.

            Nasci para Ser. Nasci para, cada vez mais, libertar e enriquecer o Ser  que Sou! Para oferecer ao Mundo tudo que Sou, tudo que posso Ser a cada momento, em vez de copiá-lo, contestá-lo ou cobrá-lo...

O poder está em mim! Só não posso é me deixar distrair!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O INESPERADO


            As surpresas, o inesperado, chegam junto com o instante, a qualquer instante de nossa vida. Nós tememos as surpresas, boas ou más, na medida em que nos roubam o conhecido, o estabelecido, aquilo a que estamos acostumados.
Preferimos antegozar as lindas fantasias ou até mesmo “sofrermos com segurança” e nos preocuparmos com possíveis problemas do que enfrentarmos o inesperado. Na verdade, sentimo-nos tão ameaçados pelo novo que preferimos nos preparar, até mesmo para o pior. Preferimos preparar nossas defesas para o doloroso ou estarmos melhor preparados para usufruir as boas novas.

            O Inesperado chega sacudindo-nos, tirando nosso “chão”, desequilibrando-nos. Funciona como um tratamento de choque, obrigando-nos ao movimento. Apresenta-se com variadas faces, obrigando-nos a despertar de várias formas, a nos reorganizar ou às nossas relações.
 São chegadas e partidas inesperadas, desejadas ou não...
 - são perdas físicas/materiais, afetivas...  são violências, decepções, abandonos, doenças, morte...
 - são fatos/informações novas, imprevistos, derrubando nossas “certezas”...
 - são até os ganhos, nos assustando com prazer, mas assustando...
           
            Diante do Inesperado somos chamados a tomar decisões, modificar atitudes, antes adiadas... Somos despertados para novas sensações, novas emoções, novos sentimentos... Nossas velhas crenças/certezas são confrontadas e algumas modificadas...
Levamos algum tempo para sair do assombro, deixar de negar e poder assimilar os fatos inesperados. Tentamos nos agarrar ao passado conhecido e “cômodo”. Perdemos a confiança no “processo natural” a que estávamos acostumados, à ordem esperada por nós. Ficamos, durante um variado espaço de tempo, inseguros, medrosos, vigilantes, à espreita, esperando, talvez, poder desarmar o inesperado, as surpresas dolorosas, para que não nos machuquem ou assustem tanto.

            O Inesperado é a carta nova no velho jogo da vida. Ele renova o jogo e a nós, os jogadores. Ele nos obriga a rever posições, estratégias... Ele nos acorda, requer maior disposição, mais alerta, mais alento...  E se os “coringas” nos trazem prazer, as “cartas ruins” nos exigem empenho e criatividade para avançarmos.

domingo, 13 de outubro de 2013

JUSTIÇA


           A Justiça é, também, uma das necessidades mais altas do Ser Humano.
É uma necessidade de nossa dimensão espiritual, de nossa alma! Minha Consciência Espiritual me sinaliza que quero, que preciso, trazer a Justiça à minha vida, agir com Justiça, para sentir-me bem, sentir-me serena e em paz. É uma necessidade de nutrição interna.

            No entanto, nossa consciência egóica, ensinada e condicionada pelo mundo a ser competitiva, defensiva, reativa, voltada para julgar, comparar, condenar, “dar o troco”, castigar... entende e busca, desta forma, orientar a justiça dos homens (e a minha) – “Olho por olho”. Esse senso duro, aguerrido, arrogante, é conseqüência de uma visão idealizada que pretende que sejamos todos iguais, comparados por nossas próprias medidas, que sejamos credores e devedores em um mundo dos homens, ainda tão falho e primário.

            Dessa forma, todo o tempo nos comparamos. Comparamos nossas oportunidades, nossas perdas e nossas vidas, querendo fazer justiça ou esperando receber justiça e, quando não, nós nos lamuriamos, cheios de autocomiseração, pedindo atenção e piedade, lamentando sermos vítimas de injustiça num mundo cruel. Algumas vezes aí ficamos, encalhados, sem nos responsabilizar por nós mesmos, repetindo inutilmente: Isto não é justo!
Disse Alguém Amoroso e Justo: “Que te importa o que dou aos outros?
Não te dei o justo que me pediste?”

            O mundo dos homens ainda não é justo! Torna-se fútil esperar justiça de fora, deixar-me revoltar e arrasar por suas maldades e injustiças. Isso acaba por justificar a revanche, a vingança, o ódio... “Quero justiça!”
“Bem feito!” . “Não é a injustiça que conta; é o que você pode fazer a respeito.”

            Na verdade, só devo “ouvir”, estar atento, à minha Consciência Espiritual que me aponta o que é justo, como agir com justiça.
Nem sempre podemos “entender” a Justiça Divina! Ficamos confusos, querendo entendê-la sob nossas medidas, sob nossa ótica egóica. Isso porque nos falta uma visão maior, faltam-nos dados maiores, mais abrangentes, para poder entender. Mas eu posso, sim, num ato de fé, coerente com minha certeza num Poder Perfeito de Sabedoria e Amor, aceitar (mesmo às vezes sem gostar) suas determinações em minha vida, em nossas vidas, e acreditar em Sua Justiça, sem cobrá-Lo pelo que não entendo.

            A Justiça pela qual ansiamos, aquela que nos nutre, satisfaz e conforta é aquela que conseguimos vivenciar e exercer, sem nos deixar paralisar pelas justiças ou injustiças do Outro. Essa Justiça, inspirada pela minha Consciência Espiritual, quando eu a pratico, é que me satisfaz e inunda de Alegria, de Coragem, de Verdade, de Serenidade.


terça-feira, 8 de outubro de 2013

A VOLTA


          “Não chore nas despedidas! Elas são necessárias para que possamos nos encontrar outra vez! R.Bac Mas nós choramos, porque algumas são “sem volta” (pelo menos por aqui). Outras, são o desfecho de dolorosos processos que culminam em crises e afinal – despedidas! Essas nos machucam, embora ainda guardemos, escondidas, a esperança da Volta.

Casais, amantes, pais/filhos... relações onde nos perdemos uns dos outros pelo caminho: Onde foi? Como foi? Nós nos amávamos tanto! Mas o medo de perder aquele que era o objeto” do meu amor tudo complicou! E as tentativas de controlar o que me “pertencia”, que me era tão querido? Tateando, brigando, mentindo... Inseguros, cada vez mais amedrontados, horrorizados, fomos vendo a distância aumentando, nos separando, até uma crise maior, até a despedida! Agora, só a dor da separação, do vínculo partido...

 No vazio, na saudade com a falta de quem amamos, refazemos mentalmente, obsessivamente, o caminho percorrido durante a tentativa fracassada de salvar, guardar, resguardar, o “objeto” de amor. “Eu podia, eu queria, eu devia”... mudar o outro para salvá-lo e ao nosso amor, assim acreditava. Fracassei! Fui incompetente em meus papéis?

Em meio a essa dor maior, confusos, nos vemos divididos por uma sensação de alívio desconcertante e cheia de culpa! A distância que tanto machuca, permite também dar “um tempo” na agonia do impasse na relação. E ainda nos sentimos invadidos pela esperança e pelo desejo de uma volta, de um recomeço! E esse desejo se distorce e se transforma em expectativa, em ansiedade, em medo: Será? Como será? E se...?

“E quando vem a volta...” vemos reacender em nós a possibilidade de dias melhores, da volta dos “bons tempos”, mas também o medo de novamente tudo falhar. Na alegria medrosa do reencontro, fazemos concessões exageradas, promessas de mudanças... Desejos de agradar, que infelizmente vão se esvaindo na desatenção do dia a dia, na volta do controle, na volta das manipulações/cobranças, na volta à mesma “velha família”, à mesma “velha relação”, aos mesmos velhos hábitos, às mesmas crenças em como desempenhar nossos papéis. E tudo isso sob a pressão insuportável de nossas expectativas! Amar é sofrer?! Assim, é!

Hoje, vejo com ternura, tristeza e compaixão, a alegria ansiosa e inocente das pessoas sofridas e amorosas que se lançam com paixão e coragem ao resgate de suas relações afetivas apostando na volta, mas infelizmente num jogo onde as cartas continuam marcadas, onde elas não têm chance de sucesso. As crises voltarão, se repetirão, até a despedida final, já então sem desejo ou esperança de volta ou se conformarão com uma relação pouco afetiva onde já desistiram um do outro e ali, amargurados, desacreditados do amor, se deixam ficar – encalhados.

“Insanidade é fazermos as mesmas coisas e esperarmos resultados diferentes”. Passamos pela vida tantas vezes nessa dolorosa insanidade, até percebermos que só modificando a nós mesmos na relação poderemos obter resultados que nos satisfaçam! Só entendendo que as pessoas não são objetos e não nos pertencem, por mais que as amemos. Só entendendo que elas são o que são e não o que queríamos que fossem! Só entendendo que estamos todos de passagem uns pelos outros e o que cabe a mim é respeitar o caminhar do outro e garantir o respeito ao meu caminhar!

Voltar ao convívio de quem amo é uma escolha minha! É minha responsabilidade cuidar de mim nessa volta, cuidar para que essa relação seja, no mínimo, honesta da minha parte e confortável para mim, que eu sinta que vale a pena, para que eu não vá cobrar do outro as minhas expectativas frustradas!
Não quero voltar buscando um passado que não deu certo!
Quero voltar para aprender a amar com alegria, parceria, liberdade, verdade, respeito...! Voltar, assim, “é certo para os que se amam...”
Amar, assim, não é sofrer! Amar, assim, é muito bom!


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A CASA DA INFÃNCIA



As casas da minha infância... Preciso revisitá-las, trazer as lembranças daquilo que vi apenas com os olhos de criança, muitas tão guardadas, algumas já esquecidas. Quero revê-las hoje, com olhar de adulto, olhos mais vividos, olhos que podem ir re-significando essas lembranças.

Elas eram assim... As famílias maiores – pais, filhos, avós, irmãos, às vezes tios e primos, agregados e empregados muito “antigos”, que  atravessavam gerações, memórias vivas das histórias da Família, mesmo as mais secretas!  As vidas eram mais misturadas, com muito menos “privacidade”, mas nem por isso com menos incríveis e tolos segredos – de família e em família.  Ciúmes, vaidades, invejas, disputas pelo poder, articulações políticas e tolices humanas entre os adultos, ainda que quase sempre desapercebidas pelas crianças. 
A autoridade dos avós, clara ou subtendida, exercida ou lembrada através da obediência ou do respeito dos nossos pais. O avô austero, a avó carinhosa, matriarca sutil, definindo caminhos, sendo sempre ouvida pelos filhos... (nem sempre obedecida, mas certamente ouvida com respeito e paciência).
Os pais ainda jovens, trabalhando, fazendo passeios nas férias, em fins de semana, visitas aos parentes, estudando conosco, lendo histórias... nos tempos incríveis, anteriores ao domínio da televisão!
Tios ou primos que eventualmente passavam tempos em nossa casa (por motivos segredados que não nos deixavam ouvir) e isso era sempre uma festa para as crianças.
Vizinhos que se tornavam quase parentes, parceiros de conversas de fim de dia nas calçadas...
Casas com quintais, cães, gatos, galinheiros... Grandes quintais (ainda maiores na nossa percepção infantil) que foram diminuindo conforme crescemos e a cada mudança, até se transformarem em pequenas áreas de concreto! Quintais de muitas brincadeiras, algumas perigosas, outras “licenciosas”. Quintais de sonhos e fantasias compartilhados, de brigas e “alianças políticas” infantis.

Hoje percebo como a comunicação entre os adultos era tantas vezes velada, cheia de olhares, de subentendidos interditos a nós, crianças. Os desentendimentos eram acobertados pelo “bem da família” e minimizados para as crianças.  Os mais velhos davam instruções contínuas para nos orientarem, inclusive sobre os pensamentos e sentimentos que poderíamos ou deveríamos ter! Éramos cuidados, mas não éramos ouvidos!  As casas de nossa infância foram escolas em tempo integral onde aprendemos e exercitamos como deveríamos ser e estar.

Revisitá-las me traz tantas lembranças! Algumas muito doídas pela  impotência da criança ante o mundo adulto, pelos fatos duros da vida ou pela saudade, mas outras muito doces, coloridas pela magia natural de nossa infância.  Gosto de revê-las com um novo entendimento que a maturidade me trouxe.
Gosto de rever as figuras que as povoaram (heróis ou bandidos), e poder colori-los de verdade e humanidade. Gosto de entender os padrões de hierarquia, de comunicação, os acertos e erros, as crenças que dirigiam aquelas pessoas tão importantes do meu passado para, hoje, poder mais livremente fazer minhas próprias escolhas em minhas atuais famílias.


            A casa de minha infância foi meu berço, meu ninho. O que permanece mais forte foi a acolhida, os laços fortes (de sangue ou não) que foram se estabelecendo no convívio com sustos, perdas, medos, sonhos, brigas, desejos, alegrias, decepções... Permanece a percepção do amor sempre presente e a vontade de que tudo desse certo, porque queríamos tanto ser felizes!