As surpresas, o inesperado, chegam junto com o instante, a
qualquer instante de nossa vida. Nós tememos as surpresas, boas ou más, na
medida em que nos roubam o conhecido, o estabelecido, aquilo a que estamos
acostumados.
Preferimos antegozar as lindas fantasias ou até mesmo
“sofrermos com segurança” e nos preocuparmos
com possíveis problemas do que enfrentarmos o inesperado. Na verdade,
sentimo-nos tão ameaçados pelo novo que preferimos nos preparar, até mesmo para
o pior. Preferimos preparar nossas defesas para o doloroso ou estarmos melhor preparados
para usufruir as boas novas.
O
Inesperado chega sacudindo-nos, tirando nosso “chão”, desequilibrando-nos.
Funciona como um tratamento de choque, obrigando-nos ao movimento. Apresenta-se
com variadas faces, obrigando-nos a despertar de várias formas, a nos
reorganizar ou às nossas relações.
São chegadas e
partidas inesperadas, desejadas ou não...
- são perdas
físicas/materiais, afetivas... são violências,
decepções, abandonos, doenças, morte...
- são
fatos/informações novas, imprevistos, derrubando nossas “certezas”...
- são até os ganhos,
nos assustando com prazer, mas assustando...
Diante do
Inesperado somos chamados a tomar decisões, modificar atitudes, antes
adiadas... Somos despertados para novas sensações, novas emoções, novos
sentimentos... Nossas velhas crenças/certezas são confrontadas e algumas
modificadas...
Levamos algum tempo para sair do assombro, deixar de negar e
poder assimilar os fatos inesperados. Tentamos nos agarrar ao passado conhecido
e “cômodo”. Perdemos a confiança no “processo natural” a que estávamos
acostumados, à ordem esperada por nós. Ficamos, durante um variado espaço de
tempo, inseguros, medrosos, vigilantes, à espreita, esperando, talvez, poder
desarmar o inesperado, as surpresas dolorosas, para que não nos machuquem ou
assustem tanto.
O
Inesperado é a carta nova no velho jogo da vida. Ele renova o jogo e a nós, os jogadores.
Ele nos obriga a rever posições, estratégias... Ele nos acorda, requer maior
disposição, mais alerta, mais alento...
E se os “coringas” nos trazem prazer, as “cartas ruins” nos exigem
empenho e criatividade para avançarmos.