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terça-feira, 25 de agosto de 2020

O MEU LIMITE IV

 

        Acreditava que não devia haver limites para minha força, para o meu amor, para as virtudes... e que não havia espaço e perdão para minhas fraquezas e erros. Era uma visão idealizada, tola, irreal, do que eu podia, e isso me levava, muitas vezes, à humilhação de eu não ser quem  devia ser ou à conformação e à “tolerância desculpada” de que “é assim mesmo”, “somos todos assim” !

        Acreditava que não deveria haver limites e espaços em minhas relações mais queridas. “Amar é misturar!” e tentar modificar, tentar salvar quem amava. Isso me levava à exaustão e a ser controladora, invasiva, irritante... E me levava, também, com tristeza e frustração, ao esgotamento das minhas relações!

        Hoje, já começo a aceitar que preciso olhar com realismo o que sou e o que posso, só por hoje ou no passado. Quais são as minhas forças (físicas, emocionais, mentais) nesse momento? O que ainda acredito ser possível nessa relação? Entendi, finalmente e totalmente, que sou impotente para modificar e salvar o Outro? Entendi que Posso e Devo estabelecer espaços e limites entre nós, para nos resguardarmos e nos respeitarmos, para preservarmos o Amor?  Ou ainda tento estabelecer limites, tomar atitudes que entendo serem necessárias e exigem um desgaste emocional imenso, mas com o intuito de atingir e modificar o Outro? (colhendo frustrações e desalento...)

         Em meio a tantas considerações, se impõe a pergunta principal: Qual é o meu limite ? Em meio a tudo que estou aprendendo sobre como me comportar nas relações, como guardar espaços, como não facilitar, não invadir e não tentar controlar... preciso estar em contato comigo para me perguntar: Qual é o meu limite? O que Posso, só por hoje? O que devo nem sempre é o que eu posso! Muitas vezes pode não ser o ideal, ou o mais certo, mas é o que Posso!

        Olhar para mim, aceitar o que sou/fui e o que posso/pude, é aprender a ser humilde, ser honesta, a ser respeitosa comigo e me dá forças pra continuar, para me perdoar, para ir melhorando em minhas relações comigo mesma e com quem amo.

         Acredito ser tudo Um dia de cada vez, sem tentar “apressar o rio”, sem desistir de mim mesma, atenta ao meu propósito real e individual, de caminharmos juntos e amorosos, cada vez mais livres

 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Olhar e Não Ver, Escutar, Mas Não Ouvir.....

 

          Hoje descubro, cada vez mais, o quanto não vi nem ouvi as pessoas que mais amava/amo.             Distraída pelo seu modo, sua aparência(muito cuidada ou relaxada), por suas palavras, suas opiniões e atitudes ( ternas ou agressivas)... Eu me relacionei com eles na superfície, achando que, realmente, eu os via e ouvia! Acho que, tristemente, é  assim mesmo! Olhando e escutando-os no desempenho de seus papéis em minha vida, eu me contentava e respondia de dentro do meu próprio papel. E juntos boiávamos, surfávamos, nadávamos, na superfície de nossas vidas, enfrentando mares calmos ou ressacas, o que viesse...

           Aprendemos a ser cuidadosos, não mergulhávamos em nós mesmos, nem nos outros. Não mergulhávamos em nossos sentimentos mais profundos, apenas nos defendíamos... No entanto, esses sentimentos estavam muitas vezes gritando nos “não ditos”, nas atitudes incompreensíveis e contraditórias... Quanta angústia  e confusão, quanto disfarce de medo, de raiva, de menos valia... Mas, então, eu não via, não ouvia seus gritos abafados e disfarçados, só reagia...

           Quanta “falação”, quanta “enganação”, quanta “falsidade”, quantas mentiras e manipulações, para tentar demonstrar poder, valorização, para esconder muito medo de ser “menos”, de não ser amado, para se enquadrar no esperado...  E eu só me irritava, me magoava, e reagia...

           Amei muito, amei tanto, mas hoje vejo que foi tão pouco, porque amei sempre na superfície. E na superfície nós só nos apegamos, julgamos, nos enganamos, cobramos...

           Hoje penso naqueles que amei e amo, mas que, medrosa e distraída, não mergulhei nas possibilidades de nosso amor. Hoje entendo que amar requer a coragem e o cuidado de uma outra escuta, que me leve a Ouvir o que não está explícito. Amar requer uma atenção curiosa e amorosa, requer Ver o que o outro não ousa, verdadeiramente, demonstrar. Mas acho que para isso, Amar requer antes um mergulho em mim, para melhor me “Ver e Ouvir”, e, então, sensibilizada, poder, realmente, chegar a quem amo.

 

terça-feira, 11 de agosto de 2020

CRENÇAS QUE APRISIONAM

 

           Desde que nascemos fomos “adestrados” a acreditar e pensar conforme as crenças, as certezas, os costumes e as tradições, de nossa família e de nossa cultura. Não cogitávamos de pensar diferente sobre as “verdades” que nos eram impostas, ainda que por amor, ainda que para o nosso bem. Quando tentávamos, éramos criticados, rejeitados e até castigados por deslealdade à família... Pensar e ser diferente chocava a Família e a expunha à vergonha por não ter sabido “educar”.

          Famílias muito rígidas em suas crenças, quando as transformam em dogmas, cobravam mais rigidamente de seus membros. E aquele que fosse naturalmente rígido e levasse tudo muito a sério, estava fadado à dor extrema e a uma imaturidade emocional e mental, porque a vida é movimento e exige flexibilidade e escolhas.

          A Família quer o melhor para seus membros, quer perfeição nos papéis que lhes atribuem, ainda que baseados em impossibilidades. A Família acredita que pode, e deve, modificar uns aos outros pelo bem comum. Acredita que pais, mães, irmãos... têm a tarefa sagrada de modificá-los, torná-los vencedores, perfeitos em seus papéis na vida e fazê-los felizes, sob o ponto de vista de suas crenças!!! É uma missão impossível, mas não se sabe!!! E tentamos, tentamos, e tentamos, mudando estratégias de controle, deixando de viver para tentar controlar e os “salvar”...  Muitos morrem tentando!

Outros deprimem, se revoltam, se quebram, se anestesiam com químicos, ou adoecem, sem vida, tentando se adaptar aos papéis, às expectativas que lhes são cobrados. Sentem-se menos, sentem-se desleais, inadequados, rejeitados, fracassados...

Como sair dessa prisão que faz tanto sofrer a todos? Como fazer diferente? Como deixar cada um viver sua própria vida, aprender com suas próprias experiências?  Como desligar desse apego, desses dogmas, que em nome do Amor estão nos infelicitando tanto?      Posso? Devo? Preciso ouvir que posso de outras pessoas que estejam vivendo esse mesmo impasse interior e familiar, preciso compartilhar em grupos de mútua ajuda,  ouvir e dizer das minhas dúvidas e dores, que são as mesmas! Preciso trocar as dúvidas por novas descobertas, para me confortar e ir descobrindo meu caminho, respeitando minhas possibilidades, aprendendo a me ouvir e a respeitar os outros.

        As Crenças são nosso primeiro chão. Elas nos dão segurança, mas também podem nos blindar, como as muralhas de um castelo, que nos defendem, mas também aprisionam. Crescer e ser adulto nos leva a transpor essas muralhas e refletir sobre nossos papéis, nossas possibilidades, nossa realidade, nossa responsabilidade conosco e com os outros.