As dores são
sinais! São sinalizações que recebemos de nossos vários corpos, avisos de que
algo não está bem conosco. Elas nos chamam para uma escuta mais atenta e
cuidadosa de nós mesmos. Não devemos ignorá-las, anulá-las, desligá-las, antes
de lhes perguntarmos onde dói, por que dói, quando dói, quanto dói... Preste atenção, porque elas, às vezes, só
sussurram, manhosas, contínuas, quase “invisíveis”. Doem, e nós nem as
detectamos objetivamente, claramente. Doem, e nos levam a um estado de
desconforto, confusão, insatisfação... Custamos a perceber porque estamos
condicionados a olhar para fora, para os outros, para o mundo, a querer
consertar ou culpar os outros pelas nossas dores.
Somos filhos de um tempo
imediatista, apressado, de desatenção conosco. Nesse modelo objetivo,
superficial, racional, nosso corpo físico é mais facilmente percebido e, para
suas dores e mazelas, queremos soluções rápidas, químicas de preferência, que
nos livrem da dor, do sintoma que nos avisa que algo vai mal. Nosso modelo é de
suprimir sintomas!...
Em nossos outros níveis, racional, psicológico
e emocional, níveis mais sutis, também as dores nos sinalizam desarmonia nas
crenças aprendidas, no pensar, no sentir, no demonstrar... As dores de viver um
sistema de crenças egoísta, materialista, competitivo, que nos leva a sempre
disputar e tão pouco a amar! No entanto, apenas colocamos nossas máscaras
sociais, ignoramos nossos sentimentos e possibilidades, numa tentativa
constante e agoniada de nos adequarmos ao que esperam de nós em papéis irreais
e ideais, numa tentativa desesperada e constante de buscar sucesso, aceitação...
Também para as dores nesses níveis, somos orientados ao uso de químicos, cada
vez mais potentes, lícitos ou ilícitos... E, se a dor insistir ou crescer, use
mais, cada vez mais... Ou procuramos distrairmo-nos da dor com a busca
incessante de coisas, prazeres, poder, disputas, aparências, opulências... Não
pensamos em ouvir o que essas dores nos sinalizam, queremos apenas apagá-las!
Mas “ sentimentos (dores), ilhados, amordaçados, voltam sempre a incomodar...”
Talvez não tenhamos ainda percebido
que a origem de todas as dores refletidas em nós está nesse constante estado de
desatenção e incompreensão de como somos movidos e sufocados por nosso ego
e pela subnutrição amorosa conosco mesmo.
Precisamos de atenção, interesse, respeito, aceitação, gentileza, carinho,
paciência... com a criatura única que somos. Isto é o que pode nos nutrir e
iniciar a cura de nossas dores. É responsabilidade de cada um de nós “escutar”
nossos desconfortos, nossos sentimentos de inadequação, de vazio, nossas dores!
Não há remédios externos que possam, realmente e continuamente, nos aliviar. A
cura vem de dentro, do nosso nível interior...
Compartilhar nossas incertezas,
nossas surpresas, nossos sentimentos, nossas dores tão humanas, nos consola,
nos ajuda a descobrir, entender e a aceitar a origem de nossas dores. Ajuda a
encorajar e a superar as questões internas, que atribuíamos a fatores externos.
Compartilhar favorece a nutrição de “amor” que desce de nossa dimensão
espiritual a todo o nosso Ser. A cura de nossas dores se inicia aí, em cada um
de nós. É responsabilidade de cada um de nós.
Escutar-me, cuidar de mim, para
melhor Ser e Estar. Nascemos para isso!