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domingo, 20 de fevereiro de 2022

HERÓIS DESPOJADOS


 

        Os Heróis fazem parte do imaginário de todos nós. Desde que nascemos, vamos criando nossos heróis em nossa imaginação e em nossa percepção física. São nossos heróis aqueles que nos acolhem, nos cuidam, nos salvam... Nós os vestimos de forma brilhante, poderosa, amorosa, quase mágica. Não têm falhas ou defeitos! Assim nossa percepção na infância os vê. São nossos pais, avós, irmãos mais velhos ou cuidadores... Até Papai Noel!

Mas o tempo, os limites da realidade humana, vão despojando-os aos nossos olhos das vestes brilhantes e, ao chegar à adolescência e idade adulta, ficamos zangados com nossos sonhos derrubados... Tornamo-nos críticos, muitas vezes agressivos e até irritados com nossos heróis! Nossa arrogância de jovens e fortes nos garante que seríamos melhores em nossos papéis.

 E o tempo continuando, nos traz desafios, dificuldades... dores e aprendizados em nossos novos papéis! Então, vamos amadurecendo, entendendo e perdoando a “traição” dos nossos “heróis decaídos”. Com mais tempo ainda, iremos resgatando os aspectos verdadeiramente heroicos deles dentro das suas próprias dificuldades humanas, pessoais.  Precisa-se de Tempo,  de Paciência, com o processo da vida, das descobertas, em cada um... 

No entanto, tristemente, nossa relação de amor/paixão com os Heróis que escolhemos para a Vida adulta, para criarmos e darmos continuidade à família, não teve, muitas vezes, esse tempo; não soubemos esperar! Escolhemos parceiros movidos por sonhos e fantasias, pelas virtudes e poderes super humanos que atendessem às nossas carências... E os Heróis/Heroínas não conseguiram atender nossos sonhos... Ficamos todos decepcionados em nossas expectativas infantis e reagimos como adolescentes zangados e magoados. Muitas vezes, não quisemos ou não soubemos esperar para amadurecer, para aprender o poder dos limites necessários na relação... Limites que nos dariam espaço para aprender a Ser e Pertencer, para aprender a ver nossa humanidade e a do Outro, para preservar a relação, para nos “desapaixonar” infantilmente, para nos perdoar, para nos aceitar e finalmente para Amar.

O tempo que tivemos para amadurecer em nossas outras relações familiares, na maioria das vezes, não nos demos nessa relação.  Despojamo-nos, uns aos outros, das vestes brilhantes, num processo cruel, de críticas, agressões maldosas e magoadas, que “puxavam” o que de pior havia em cada um!     Sem a espera de Tempo para amadurecer, não tivemos chance! Nosso mundo apressado e “fácil” nos ensinou a desistir e procurar novos Heróis... O desejo de construirmos algo sólido, duradouro e amoroso, uma Família, para darmos continuidade ao processo, viu-se truncado e feito em pedaços em novas ou várias novas tentativas de felicidade... Com tanta pressa e “facilidades “ aprendemos muito pouco e nos vemos colecionando e recolhendo as lembranças tristes de nossos Heróis Despojados, de sonhos desfeitos.  

          Mas Vida continua e ainda temos tempo de refletir sem amargura sobre o passado e, mais maduros, olharmos nossos atuais parceiros dentro dessa nova perspectiva – a realidade do que somos e o que podemos,  com Compreensão, Paciência, Compaixão e, finalmente, Amor!


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