A linguagem da família é a da instrução, da cobrança e da mentira.
Em nome do amor, entendemos que é nosso dever orientar a todos quanto ao que nos parece certo e melhor. Para isso, usaram conosco e usamos com os outros, a instrução contínua. Através do tempo, das idades, do grau de parentesco, instruímos e palpitamos sobre quaisquer assuntos, porque “sabemos o que é melhor” para quem amamos. Acreditamos que devemos estar atentos uns aos outros, querendo consertar o que estiver errado, tentando evitar quaisquer desvios de pensamentos, sentimentos e comportamentos, mostrando sempre que temos razão. Não nos revelamos intimamente e a comunicação fica a serviço do controle e da competição (quem é o melhor ou o pior?). Todos nos defendemos (“tudo que você revelar poderá ser usado contra você” – e será, na primeira oportunidade) porque temos muito medo de sermos rejeitados, menosprezados, abandonados, de falharmos em nossa missão de cuidarmos uns dos outros.
Infelizmente, usando esse modo de comunicação, a instrução contínua, “queimamos nosso filme”, fugimos de conversar uns com os outros, só ouvimos para poder corrigir ou rebater, discutimos, acabamos por nos comunicar apenas superficialmente ou silenciar, desistir...
Na verdade, de tanto orientarmos, instruirmos, falarmos, perdemos a capacidade de Ouvir. E é preciso ouvir realmente, com abertura, disponibilidade e coração para poder saber um pouquinho daqueles que dizemos Amar. Sabemos quem queríamos que eles fossem, o modo que seria o melhor... mas, quem são eles? E o que eles sabem de nós?
A comunicação está distorcida, adoecida... Precisávamos ter honestidade e coragem para Nos Revelar e amor, carinho e respeito para Ouvir!
Também em conseqüência da crença de que, por amor, temos o poder e o dever de direcionar os outros, muito nos aplicamos e desvelamos, deixando de viver nossas próprias vidas para cuidar da dos outros. Porque estamos atentos ao grau do que esperamos sempre receber em troca (atenção, aceitação, gratidão) e mais atentos ainda ao que não estamos recebendo, passamos a utilizar, mais e mais, como forma de comunicação, a Cobrança: sutil, delicada ou agressiva, lamuriosa, mas irritando, magoando, afastando...Em nome do que é justo, certo, do que nos é devido, tornamo-nos “muito chatos”, sempre irritados e irritantes, teimosos, rabugentos, desconfortáveis, até insuportáveis! E nossos amores passam a fugir de nós; mesmo quando ainda nos amam procuram guardar distância.
Ainda nessa visão distorcida de ter que controlar, por amor, aqueles que “possuímos”, adotamos também a Mentira em suas inúmeras facetas ao nos comunicarmos em família. São segredos, mentiras, omissões, manipulações que usamos em menor ou maior grau justificados em “não querer” magoar, quando, na verdade, estamos tirando aos outros o direito de decisão e escolha por medo que talvez decidissem e escolhessem diferente do que desejássemos. Tentar direcionar e conduzir as pessoas que acreditamos amar, decidindo o melhor para elas através da Mentira é profundamente desrespeitoso e gera ansiedade, medo, desconfiança, insegurança...
Acredito hoje que ainda posso (Eu) buscar fazer diferente nas minhas relações; cuidar que as novas fujam a esse modelo distorcido e destrutivo. E as antigas, já tão desgastadas? Posso fazer a minha parte, buscando, um dia de cada vez, falar menos, instruir menos e ouvir mais, confiar mais na capacidade dos outros, “Viver minha vida e deixar que os outros vivam a suas”; ser mais assertiva, serena e firme, com menos discursos, comparações e discussões; aprender a ser leal às minhas verdades para ser honesta e verdadeira com os outros.
“Que comece por mim” porque quando EU mudo, algo muda nas minhas relações, familiares ou não.
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