Eles nasceram de nós,
nasceram em nossas vidas... Nós os cuidamos, nós os amamos... Nós os
apresentamos às pessoas, ao mundo, à Vida... Nós lhes ensinamos o que sabíamos
do Viver e da Vida. Nós os conduzimos, orientamos, demos-lhes diretrizes... O
que acontecesse, nós estávamos ali para abraçá-los, acolhê-los, consolá-los...
Mas muito pouco os ouvimos, porque tínhamos tanto a informar! Eles eram nossos
! (nós acreditávamos) – nossa responsabilidade, nossos amores...
Mas eles cresceram! E cada vez ficou mais claro que
não eram nossos! Cada vez ficou mais claro que muito pouco nós sabíamos,
realmente, quem eles eram sob as vestes de “nossos” filhos! E eles também muito
pouco sabiam de nós, escondidos que permanecemos sob nossos papéis de pais e orientadores.
E então, me assusto e me arrependo de tão
pouco saber e de tão pouco me revelar, porque agora eles cresceram! Saíram de casa, distanciaram-se do meu olhar
amoroso, sempre inquieto e intrometido... Estão agora fazendo suas escolhas,
desenvolvendo crenças e opiniões próprias, às vezes tão diferentes das minhas!
Formaram suas próprias
famílias e entregam-se a elas, priorizam suas questões, como antes nós nos
entregávamos a eles e também os priorizávamos.
Então
às vezes, de novo, me assusto quando descubro meu colo vazio! Será que os
perdi? Será que perdi toda a importância em suas vidas? Será que acabou todo
aquele nosso amor?
Procuro entender que nossos papéis na vida uns dos
outros são dinâmicos – eles mudam conforme mudam as fases de nossa vida. O Amor
não muda – ele amadurece, conforme amadurecemos! Aquele amor de total doação
com imposição, precisa se adaptar com respeito às novas fases de nossas vidas e
se transformar em amor parceiro, amor que ouve, amor de trocas espontâneas, que
tenta não invadir, que respeita quem eles são e quem somos.
Nossos papéis vão mudando:
pais de filhos pequenos, pais de adolescentes, pais de filhos adultos, pais de
filhos com seus próprios filhos... ( Preciso tanto estar me lembrando disso!!!)
Não adianta chorar as lembranças do tempo em que
dependiam e precisavam de nossa proteção!
Os passeios, as férias, os tombos, as febres, o estudo, as broncas, os
carinhos, o “papel principal” no filme de suas vidas... Eles aprenderam, e de
alguma forma aproveitam, tudo que lhes proporcionamos com nossos acertos e,
também, com os nossos erros. Nós não fomos descartados de suas vidas. Estamos
todos, pais e filhos, impregnados, internalizados, na vida uns dos outros.
Cumprimos nosso papel na primeira fase da história de cada um deles... Agora é
uma nova fase e precisamos nos adaptar a ela, porque continuamos a amá-los.
Quando doer a distância, quando bater a saudade,
quando gritar o silêncio da falta de notícias, de ouvir suas vozes tão
queridas, quando a cada ficar imensa de tão vazia... preciso apenas agradecer
toda a vida que temos e tivemos e me lembrar – eles cresceram!