São marcas e
marcos deixados em nós durante nossa passagem
por esta vida. Algumas parecem até inatas, demonstradas pelas diferentes
características de temperamento que já trazemos ao nascer!
As cicatrizes deixadas em nosso
físico são mais visíveis: leves e superficiais ou profundas e perenes. Mas as
cicatrizes que trazemos em nossa dimensão psicológica/afetiva, talvez menos
visíveis, guardam também as marcas dolorosas que, muitas vezes, tentamos esconder
ou esquecer. São testemunhas
silenciosas (ou gritantes!) das dificuldades de nossa caminhada.
Os traumas pequenos
deixam regiões apenas melindradas, mas os traumas muito violentos, inesperados,
ou os traumas muito dolorosos e contínuos acabam por deixar vestígios mais profundos
e duradouros - eles nos deixam sequelas. Essas sequelas, sempre em silenciosa
prontidão, nos fazem reviver as dores e horrores do passado. Em nosso corpo
físico criam lesões, mutilações, inadequações... E em nossas dimensões interiores - também.
Trazemos, então, essas marcas profundas, aparentemente
adormecidas, escondidas dentro de nós. Podemos, inconscientemente, encobri-las nos deixando tomar por outros
sentimentos e comportamentos. É o modo que encontramos para lidar com a dor,
com nossa impotência ante algumas situações acima do nosso limite. Encobrimos a
Grande Dor com irritação, raiva, frieza, indiferença, sublimação,
arrogância... Mas não nos enganemos,
esses sentimentos aflorados são sequelas deixadas pelos grandes traumas.
Outras sequelas só precisam de “gatilhos” para que
descubramos o quanto aqueles traumas ainda estão vivos e atuantes. Algumas
músicas, cheiros, paladares, filmes, datas... toques de telefone na madrugada,
às vezes até a qualquer hora... pequenas ou grandes mentiras, traições,
hospitais, doenças, drogas/álcool, abandono, acidentes, humilhações... Qualquer menção ouvida ou sentida funciona
como uma “sirene” que detona reações em
cadeia, trazendo para o presente o nosso medo, horror, agonia, vergonha... a
nossa Dor. E se materializam em nosso corpo através de crises de suor, tremor,
interferindo em nosso funcionamento físico, causando muita agonia!
Cicatrizes e sequelas são testemunhas do nosso passado
doloroso. As cicatrizes físicas muitas
vezes podem ir esmaecendo ou nós nos adaptando. E as poderosas e maldosas
sequelas poderão ir perdendo o poder de nos fazer remoer as dores, nos paralisar
ou de nos dirigir. Mas precisamos ter consciência delas, entendê-las,
compartilhá-las até “banalizá-las”, tirar-lhes o poder de tanto nos
assombrar. Precisamos lidar com os
restos desse passado marcado, marcante, com coragem, honestidade, paciência e
boa vontade.
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