Paixões são
labaredas emocionais, liberadas e/ou alimentadas pelo nosso ego, quando ele se
mostra delirante, orgulhoso, vaidoso ou... carente. Elas podem, então, nos cegar
e se tornam carcereiras de nosso orgulho, de nossas carências afetivas, de
nossa necessidade de fantasiar o real...
Irrompem em nós num exagero da vontade, do desejo... Nos incapacitam para “ver e ouvir” qualquer
argumento diferente do que desejamos. Já não conseguimos analisar com lógica e
liberdade ou sermos minimamente imparciais, por estarmos deslumbrados com o
ideal. Paixões marcam o adoecimento, ou o impedimento, do Amor, que se
transmutou em delírio e necessidade de posse.
Paixões são despertadas, e despertam, competição, dissidência.
Elas clamam que lutemos pelo que escolhemos, pelo que “possuímos”, pelo objeto que
“amamos” ou mitificamos – sejam esses afetos,
pessoas, animais, lugares, ideias, partidos, religiões, nações... Paixões são gritos, súplicas e
desafios do ego. O ego ainda não sabe
amar, ele só sabe se apaixonar!
E como “pegamos”, absorvemos, a energia das paixões à nossa
volta! Escolhemos um lado e nos entregamos aos delírios uns dos outros. Tão
intensas são as emoções que muitos ficamos “adictos” do “barato” que as paixões
despertam em nós, em nossos corpos: o físico febril, a agonia das emoções
exaltadas, os delírios da mente... Quando, afinal, o “fogo das paixões” esfria,
se apaga, ficamos assustados, deprimidos, vazios, achando a vida sem graça! Ou
saímos, desesperados, em busca de novas paixões que preencham nosso mundo! Tão
adoecidos estamos num mundo egoico de paixões que, se não estivermos febris e
apaixonados, pensamos estar sem amor!
Na verdade, somente quando nos desapaixonamos, podemos
realmente, ver, sentir, descobrir, escolher... e aprender a Amar. Somos ainda muito imaturos em nossa
afetividade. Perdemos, facilmente, a medida de nossos desejos e emoções, para
amar ou para detestar. Precisamos nos
afastar um pouco do tumulto das paixões, nos afastar daqueles apaixonados que
nos dominam e dos que queremos dominar.
Precisamos “dar um tempo” para ter um distanciamento, para poder o corpo
esfriar, para acalmar as emoções, para deixar a mente serenar... Precisamos
olhar para dentro e descobrir o que aquela paixão encobre, que necessidades afetivas
parece suprir, de que características como orgulho, vaidade, arrogância,
pretensão ... ela se alimenta e se retroalimenta. Somente eu posso analisar e
tirar o poder das paixões que tanto me inflamam, me enganam e acabam por tanto
me fazer sofrer. Paixão faz sofrer, porque não é Amor!
O Amor é de outro nível, de outra dimensão! O Amor aceita o
real, cresce na verdade, com simplicidade, livre, sem sustos, sem desenganos,
sem fim... O Amor jamais faz sofrer!