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sábado, 23 de abril de 2016

O PODER DO GRUPO FAMILIAR



O poder equivocado

            De tudo que refletimos sobre o poder dos grupos, resta um olhar aprofundado sobre o Grupo Familiar, nosso “primeiro e virginal abrigo”. A Família nos acolheu, quando sem sua força e amor sequer poderíamos sobreviver. Ela nos ensinou como ser para pertencer à família e ao mundo a que chegamos. Criou em nós um conjunto de crenças/”verdades” pelo qual passamos a nos ver, a ver os outros, a interagir com o mundo. Passou para nós um conjunto de valores, aqueles que a Família acreditava serem os melhores. “Quem somos?” O que é Deus? Como desempenhar nossos papéis? O que é o Bem? E o Mal? O que é ser bom? E ser Mau?... O que vale realmente? Dinheiro, Poder, Status... ou Verdade, Generosidade, Respeito...    A Família tudo nos deu, ela nos defende e nos ama, mas ela espera lealdade e obediência!

            Seu poder é imenso, para o Bem ou para o Mal, libertando ou aprisionando!  Só não é total, porque cada um de nós, Centelhas Únicas de um Poder Maior, traz e mantém o poder de fazer escolhas, mesmo que inconscientes, mesmo que interiores. Mas o poder da família certamente influencia e coage muitas de nossas escolhas.  Ela acredita que precisa manter a coesão do grupo, proteger cada um de nós, resguardar seus valores, sua própria identidade familiar. Mas, “por amor” e equivocada, ela tem expectativas irreais, idealizadas, sobre cada um, que ela considera uma “parte” da família. E isso tem um custo imenso (físico, afetivo, psicológico), maior ainda para alguns que para outros.

 Para conseguir sucesso em nos direcionar, a Família acredita que tem o poder, e até o dever, de nos modificar. Para garantir sua  coesão, ela acaba, muitas vezes, por ignorar nossa individualidade e nos sufocar. Os laços de amor vão-se apertando, engrossando e se transformam em nós que nos aprisionam, principalmente àqueles que, rigidamente, tentam seguir na “missão impossível” de atender às expectativas de papéis idealizados ou àqueles que, também creem ser seu dever submeter os outros aos modelos que lhe foram impostos pelo grupo.

Cada um sente-se dividido entre a lealdade às regras e expectativas da família e às suas próprias possibilidades, anseios e dificuldades. Ainda querendo acertar e ter aprovação, aprisionamos nossos sentimentos de ansiedade, frustração, raiva, mágoa, culpa, vergonha, ressentimento... sob nossas máscaras sociais de “tudo bem”! Tentamos, inutilmente, controlar uns aos outros (aos “errados”) por todos os meios: concessões exageradas, cobranças, agressões, silêncios, manipulações, omissões, mentiras...  E quanto mais tentamos nos enquadrar ou enquadrar uns aos outros para nos manter unidos, mais nos afastamos! Tanta luta, tanto vazio de alegria, nos levam a buscar fora o que nos possa aliviar, fazer escapar da dor, nos distrair ou dar prazer físico, sensorial, mental... E, quando Dor é maior, exageramos na fuga, nos anestesiamos mais e mais (com químicos ou não)...  Adoecemos, perdemos o rumo, já temos em risco a própria vida física, mental, social, espiritual...

Ainda mais assustado, o grupo sente-se ameaçado de perda. A Família, que é naturalmente inquieta na sua preocupação com todos, alarma-se e aumentam os mecanismos de coerção, para defesa do indivíduo e do grupo. Aumenta a tentativa de controle e as frustrações resultantes levam a mais luta com acusações ainda mais duras de culpas, desculpas, vergonhas, agonias...  A Família está se estilhaçando em dor! Uns fogem, outros resistem, insistem... Do desespero à desesperança, alguns até morrem...  Tudo que a família sabia foi feito. E agora?  É um momento de impasse!  Algo tem que mudar, mas o quê? Quem?  Quem muda?

Continua – O poder de cada um

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