O poder
equivocado
De tudo que refletimos sobre o poder
dos grupos, resta um olhar aprofundado sobre o Grupo Familiar, nosso “primeiro
e virginal abrigo”. A Família nos acolheu, quando sem sua força e amor sequer
poderíamos sobreviver. Ela nos ensinou como ser para pertencer à família e ao
mundo a que chegamos. Criou em nós um conjunto de crenças/”verdades” pelo qual
passamos a nos ver, a ver os outros, a interagir com o mundo. Passou para nós
um conjunto de valores, aqueles que a Família acreditava serem os melhores.
“Quem somos?” O que é Deus? Como desempenhar nossos papéis? O que é o Bem? E o
Mal? O que é ser bom? E ser Mau?... O que vale realmente? Dinheiro, Poder,
Status... ou Verdade, Generosidade, Respeito... A Família tudo nos deu, ela nos defende e
nos ama, mas ela espera lealdade e obediência!
Seu poder é imenso, para o Bem ou
para o Mal, libertando ou aprisionando! Só não é total, porque cada um de nós,
Centelhas Únicas de um Poder Maior, traz e mantém o poder de fazer escolhas,
mesmo que inconscientes, mesmo que interiores. Mas o poder da família certamente
influencia e coage muitas de nossas escolhas.
Ela acredita que precisa manter a coesão do grupo, proteger cada um de
nós, resguardar seus valores, sua própria identidade familiar. Mas, “por amor”
e equivocada, ela tem expectativas irreais, idealizadas, sobre cada um, que ela
considera uma “parte” da família. E isso tem um custo imenso (físico, afetivo,
psicológico), maior ainda para alguns que para outros.
Para conseguir sucesso
em nos direcionar, a Família acredita que tem o poder, e até o dever, de nos
modificar. Para garantir sua coesão, ela
acaba, muitas vezes, por ignorar nossa individualidade e nos sufocar. Os laços
de amor vão-se apertando, engrossando e se transformam em nós que nos
aprisionam, principalmente àqueles que, rigidamente, tentam seguir na “missão
impossível” de atender às expectativas de papéis idealizados ou àqueles que,
também creem ser seu dever submeter os outros aos modelos que lhe foram
impostos pelo grupo.
Cada um sente-se dividido entre a lealdade às regras e
expectativas da família e às suas próprias possibilidades, anseios e
dificuldades. Ainda querendo acertar e ter aprovação, aprisionamos nossos
sentimentos de ansiedade, frustração, raiva, mágoa, culpa, vergonha,
ressentimento... sob nossas máscaras sociais de “tudo bem”! Tentamos,
inutilmente, controlar uns aos outros (aos “errados”) por todos os meios:
concessões exageradas, cobranças, agressões, silêncios, manipulações, omissões,
mentiras... E quanto mais tentamos nos
enquadrar ou enquadrar uns aos outros para nos manter unidos, mais nos
afastamos! Tanta luta, tanto vazio de alegria, nos levam a buscar fora o que
nos possa aliviar, fazer escapar da dor, nos distrair ou dar prazer físico,
sensorial, mental... E, quando Dor é maior, exageramos na fuga, nos
anestesiamos mais e mais (com químicos ou não)... Adoecemos, perdemos o rumo, já temos em risco
a própria vida física, mental, social, espiritual...
Ainda mais assustado, o grupo sente-se ameaçado de perda. A
Família, que é naturalmente inquieta na sua preocupação com todos, alarma-se e
aumentam os mecanismos de coerção, para defesa do indivíduo e do grupo. Aumenta
a tentativa de controle e as frustrações resultantes levam a mais luta com
acusações ainda mais duras de culpas, desculpas, vergonhas, agonias... A Família está se estilhaçando em dor! Uns
fogem, outros resistem, insistem... Do desespero à desesperança, alguns até
morrem... Tudo que a família sabia foi
feito. E agora? É um momento de
impasse! Algo tem que mudar, mas o quê?
Quem? Quem muda?
Continua – O poder de cada um
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