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quarta-feira, 4 de maio de 2016

DEFESAS AFETIVAS



As Cercas e as Muralhas


           Temos tantos medos! Na verdade, temos sempre o medo da dor, o medo de sofrer. Mas a vida, o viver e o conviver, nos fazem atravessar “campos minados”, campos de obstáculos e desafios que nos ameaçam todo o tempo com possibilidades de sofrimento!  Inseguros, estamos sempre assombrados pelo medo do desamor, do “desvalor”, da rejeição, do abandono, das perdas... E, assustados e medrosos, reagimos procurando nos defender.


            Aprendemos a erguer nossas defesas, cada vez mais sólidas, em resposta à nossas experiências “mal sucedidas”, às desilusões, que acompanham as expectativas idealizadas, aos nossos confrontos com o mundo, principalmente com nosso mundo afetivo.  Ficamos com sequelas pelas dores passadas e vamos nos congelando, hipnotizados, ante a possibilidade de dores futuras. 


 Tudo isso reforça em nossa mente, em nosso ego vigilante e aguerrido, a necessidade de maiores defesas. Assim, nossas pequenas cercas defensivas, vão com o tempo crescendo, transformando-se em fortes muros e por fim em muralhas, que procuram nos preservar de sofrer, mas acabam por nos aprisionar e isolar.


Defensivos, afastamos pessoas e situações de risco ao nosso coração. Sem o exercício de amar, vamos esfriando, perdendo o jeito de estar com entrega e calor e de nos enternecer. Vamos congelando nossa capacidade de ousar amar, de sorrir, de abraçar...  Passamos a conviver com o máximo cuidado em não nos envolvermos afetivamente, principalmente com aqueles que tanto queríamos amar, mas que, acreditamos, representam risco de nos fazer sofrer.


Defensivos, com medo de arriscar em várias áreas de nossas atividades, tornamo-nos invejosos dos que ousam, dos que fazem, dos que tentam... Amarrados em nossas defesas, vamos nos tornando azedos, intolerantes, críticos, arrogantes senhores de muito saber, mas de tão pouco sentir...  E procuramos suprir ou nos anestesiar desse vazio afetivo com coisas, com químicos, com riscos físicos, com muito “saberes”, com assuntos do ego, com qualquer coisa que não ameace o “coração”!


Nossas relações, principalmente as mais significativas e caras (companheiros, filhos, familiares, amigos...), por nos parecerem mais ameaçadoras, com maior potencial de nos fazerem sofrer, ficam muitas vezes blindadas por nossas defesas e tornam-se muito superficiais, sem verdadeira intimidade afetiva. E, quando nossos medos e inseguranças se encontram com os medos do outro, as defesas de ambos se fortalecem, se chocam, e uma grande distância afetiva se estabelece, às vezes, para sempre...


Preciso entender os medos que me levaram a fugir, criando  tantas defesas. Quantas expectativas irreais, quantas idealizações infantis, quanta falta de confiança em mim mesma, no meu poder em minha própria vida, no valor da única/incrível pessoa que sou... Quanta  falta de carinho, paciência, firmeza e honestidade na comunicação do meu amor, de quem sou, do que posso ou não posso.

            Só quando ouvirmos o silêncio gritar forte dentro das nossas relações mais queridas poderemos atentar para a realidade de onde nos encarceramos e sentir até que ponto nos isolamos.  Todo esse processo se fez aos poucos. Agora, só eu mesma poderei ir “tirando uma pedra” de cada vez dessas muralhas que me afastaram de uma vida afetiva mais plena. Só eu mesma poderei ir sinalizando que estou aqui, que estou mais disponível, mais amigável, mais amorosa... deixando contudo, sempre, a pequena e importante cerca que demarca o respeito ao meu espaço, à minha individualidade e ao espaço e individualidade do outro. Cabe a mim  a atenção constante para não permitir que essas necessárias pequenas cercas se transformem nas frias muralhas do silêncio e do desamor! 

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