As Cercas e
as Muralhas
Temos tantos medos! Na verdade,
temos sempre o medo da dor, o medo de sofrer. Mas a vida, o viver e o conviver,
nos fazem atravessar “campos minados”, campos de obstáculos e desafios que nos
ameaçam todo o tempo com possibilidades de sofrimento! Inseguros, estamos sempre assombrados pelo
medo do desamor, do “desvalor”, da rejeição, do abandono, das perdas... E, assustados e medrosos, reagimos procurando
nos defender.
Aprendemos a erguer nossas defesas,
cada vez mais sólidas, em resposta à nossas experiências “mal sucedidas”, às
desilusões, que acompanham as expectativas idealizadas, aos nossos confrontos
com o mundo, principalmente com nosso mundo afetivo. Ficamos com sequelas pelas dores passadas e
vamos nos congelando, hipnotizados, ante a possibilidade de dores futuras.
Tudo isso reforça em
nossa mente, em nosso ego vigilante e aguerrido, a necessidade de maiores
defesas. Assim, nossas pequenas cercas defensivas, vão com o tempo crescendo,
transformando-se em fortes muros e por fim em muralhas, que procuram nos
preservar de sofrer, mas acabam por nos aprisionar e isolar.
Defensivos, afastamos pessoas e situações de risco ao nosso
coração. Sem o exercício de amar, vamos esfriando, perdendo o jeito de estar
com entrega e calor e de nos enternecer. Vamos congelando nossa capacidade de
ousar amar, de sorrir, de abraçar...
Passamos a conviver com o máximo cuidado em não nos envolvermos
afetivamente, principalmente com aqueles que tanto queríamos amar, mas que,
acreditamos, representam risco de nos fazer sofrer.
Defensivos, com medo de arriscar em várias áreas de nossas
atividades, tornamo-nos invejosos dos que ousam, dos que fazem, dos que
tentam... Amarrados em nossas defesas, vamos nos tornando azedos, intolerantes,
críticos, arrogantes senhores de muito saber, mas de tão pouco sentir... E procuramos suprir ou nos anestesiar desse
vazio afetivo com coisas, com químicos, com riscos físicos, com muito “saberes”,
com assuntos do ego, com qualquer coisa que não ameace o “coração”!
Nossas relações, principalmente as mais significativas e
caras (companheiros, filhos, familiares, amigos...), por nos parecerem mais
ameaçadoras, com maior potencial de nos fazerem sofrer, ficam muitas vezes
blindadas por nossas defesas e tornam-se muito superficiais, sem verdadeira
intimidade afetiva. E, quando nossos medos e inseguranças se encontram com os
medos do outro, as defesas de ambos se fortalecem, se chocam, e uma grande distância
afetiva se estabelece, às vezes, para sempre...
Preciso entender os medos que me levaram a fugir,
criando tantas defesas. Quantas
expectativas irreais, quantas idealizações infantis, quanta falta de confiança
em mim mesma, no meu poder em minha própria vida, no valor da única/incrível
pessoa que sou... Quanta falta de
carinho, paciência, firmeza e honestidade na comunicação do meu amor, de quem
sou, do que posso ou não posso.
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