Naquele
momento, eu só queria parar, sentar-me bem escondidinha e chorar... Poder liberar águas represadas por um sem número
de diques, sempre tentando conter prantos e me isolar no seco, em seco. Tive a impressão que, se deixasse rompê-los,
eu iria vazar, sangrar, até me acabar... Era muito pranto! De onde vêm tantos
prantos!? “Me” encastelei, muitas vezes
e muito tempo, em meu mundo, na minha dor. Será ela a maior, a mais diferente?
Alguém me entenderia? Como deixar ver a dor dos abandonos, das rejeições, da
vergonha de sentir-se incompreendida, preterida? Ah, esse meu orgulho que me isola, me priva
de compartilhar minhas dores, minhas confusões, minhas reflexões... E hoje, sufocada,
preciso apenas chorar...
Nesse momento, tão doída e frágil,
gritam em mim anseios de carinho, de braços e abraços me acolhendo. Eu queria um sorriso para me receber...
Queria sentir um toque leve, suave, de simpatia... E um abraço longo, gostoso,
protetor... Um sorriso e uma palavra paciente, tolerante e bem humorada com
minhas distrações, meus erros e confusões.... Um sorriso cúmplice e orgulhoso
com meus acertos e minhas pequenas conquistas... Um cuidado de tentar tirar
pequenos empecilhos ao meu caminhar... A lembrança de dizer que ama, que sente
falta da minha companhia... O cuidado de evitar cobrar, criticar, ironizar...
Apenas me aceitar!
Precisamos de todas essas formas de
carinho como uma plantinha necessita de solo, sol e água . Carinho é como o sol
doce e morno de meia estação, é como uma manta macia que nos envolve e faz o
caminho valer a pena, mesmo nos momentos de muita dor. Carinho é como a água
que nos nutre e dá força para prosseguir. Carinho nos dá o equilíbrio de um
solo seguro para seguir.
Na verdade, sob a armadura que nos
defende para lidar com o mundo, escondemos muitas dessas nossas carências,
dessas “securas” de afeto, de atenção, de carinho. Tão defendidos e distantes,
temos muita dificuldade de dar e até de receber o carinho que tanto desejamos e
precisamos. Ficamos sem graça, medrosos, desconfiados, escondendo nosso anseio.
Precisamos de coragem para chegar, para ousar, para dar, para vivenciar o
carinho, abrindo assim a possibilidade de, talvez, recebê-lo. Mas, inseguros e
frágeis, fica ainda muito difícil buscarmos
abrigo e conforto no outro!
Nesses momentos de fragilidade, quando fica
evidente a força dessa carência afetiva, é preciso atentar que tudo começa em nós mesmos! O carinho do mundo é um presente a mais, que
receberemos (ou não!), mas a primeira fonte de todo o carinho que preciso está
na relação comigo mesma. Todas as
formas de carinho, cuidado e atenção que busco no outro, preciso, antes, trazer
para o trato constante comigo. Nesse momento, me ouço, me acolho, choro e me consolo, me aceito com muito carinho...
Então, sorrio confiante, confortada e fortalecida. Depois, levanto e caminho...
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