Quando, finalmente, chegamos a um Grupo de apoio, estávamos,
na verdade, chegando de uma longa e
terrível caminhada! Caminhada de muita luta em defesa do que acreditávamos ser
nosso papel na vida uns dos outros: pais que deveriam ser perfeitos em conduzir
filhos, filhos que deveriam atender às expectativas dos pais e ser dóceis
repetidores de seus modelos familiares, companheiros e amantes que deveriam
fazer a eterna satisfação e felicidade
de seus pares... E ainda, atender às
expectativas de nós mesmos, e de todos, para sermos valorizados e amados. Se
falhássemos era a derrota, a vergonha, a culpa... Era, também, a uma caminhada
que se transformara numa luta mortal com as dependências físicas, emocionais e
mentais que nos obcecavam e acorrentavam.
Quanta dor nessa luta ao tentarmos o impossível: Ser livres e
ao mesmo tempo atender (e controlar) os desejos e fantasias uns dos outros.
Usamos de todas as armas – cobranças, concessões absurdas, mentiras, manipulações,
agressões de todo tipo, punições, auto punições... O cansaço e o desespero nos levaram a
desequilíbrios em todos os nossos níveis, inclusive a fugas químicas, e daí a
dependências físicas, emocionais e mentais ainda maiores... Lutando por buscar
fora de nós e/ou nos outros, o prazer, o sentido de nossas vidas e nossa
felicidade, tínhamos, na verdade, perdido o controle de nós mesmos! Éramos uma nave à deriva, descontrolada, desnutrida,
humilhada, desesperançada... Querendo ser livres, amados e amantes, nos vimos prisioneiros
numa luta sem fim...
Então, um dia, pela Graça de Deus, e com nosso orgulho
“amaciado” pela dor, chegamos a um Grupo de Mútua Ajuda de 12 Passos. Lá, fomos
acolhidos e recebemos carinho, respeito, valorização. Pudemos “baixar a guarda”, depor armas,
porque estávamos entre iguais, em dor e propósito. Pudemos ouvir, então, que
não éramos incompetentes na vida, mas sim impotentes para enfrentar a doença
química ou para modificar as pessoas. E toda nossa atenção e cuidado,
deveríamos ter com a única pessoa sobre qual tínhamos poder e responsabilidade – nós mesmos. Era uma
mudança radical de foco! Em vez de tentar ser aceito e controlar o de fora, deveríamos
ter uma nova escuta e um atento olhar interior – Primeiro EU! Tudo era novo e precisamos de Mente e Coração
Abertos para apreciar aquele banquete libertador que nos era oferecido!
Esse era um banquete espiritual! Um Poder Superior de Pura
Sabedoria e Amor se fazia presente entre nós na compaixão, na honestidade, no
respeito, na cooperação, gentileza, na aceitação, na paciência, na alegria... E
a cada reunião éramos assim nutridos em nossa dimensão espiritual! E a cada
reunião fomos aprendendo a conhecer nosso ego mal ensinado, para poder ir
educando-o à luz da espiritualidade, para poder ir libertando-nos das cadeias
do orgulho, da raiva, do ressentimento ... Para irmos transformando toda nossa dolorosa humilhação
em serena humildade...
Foi assim quando eu cheguei! É assim, ainda, UM Dia de Cada Vez!.
Caminhamos, em eterna recuperação e libertação de nós mesmos, num maravilhoso
processo, rumo ao melhor!
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