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terça-feira, 29 de outubro de 2019

UM AMOR AMIGO



         Ainda nos entregamos, a princípio, a um amor de fantasia. Amores idealizados por nossas carências e por nossas crenças. Amores totais, amores perfeitos, amores eternos a que nos apegamos possessivamente: meus filhos adorados, meus pais tão queridos, meus companheiros apaixonados, meus familiares, meus amigos... Queremos segurar, prender, não perder! 
        Temos ciúme, amamos com um eterno medo de perder, porque “não podemos viver sem eles”! Queremos, então, dirigir, controlar... Criticamos, cobramos, ficamos agressivos, impacientes, até grosseiros, com aqueles que tanto amamos, e eles também conosco!  Com o tempo, já não nos escutamos! Cada vez menos nos abraçamos! Defensivos, magoados, já não estamos tão abertos e sensíveis às angústias, medos, agonias e carências uns dos outros!    Ainda apegados e possessivos, mas tristes, isolados e carentes, descobrimos que precisamos é de um amor amigo!   
          Precisamos de um amor que nos acolha, nos escute (sem orientações), que seja paciente e nos aceite pelo que ainda somos e nos encoraje e seja generoso conosco por tudo que ainda não somos. Um amor que nos inspire confiança porque seja honesto, franco e firme com nossos tropeços, sem, contudo, perder a gentileza e ternura. Um amor que tenha empatia e compaixão com nossos momentos de dor e fraqueza. Um amor de prontidão e carinho, que se revela través de atenção, de um toque, de um sorriso... e nos traga companhia e alegria à vida!
       Hoje, o grande e contínuo desafio para mim, em minhas relações amorosas, é a transformação de minhas atitudes e pensamentos possessivos, apegados, desrespeitosos, sufocantes, em um Amor simples, doce e que nos liberta.     Olhando para as pessoas mais queridas e significativas de minha vida, aquelas que mais amo, eu estou sempre me perguntando: Eu sou amiga de vocês? Porque, afinal, o Amor é Amigo!

terça-feira, 22 de outubro de 2019

AS NOSSAS PAIXÕES



       São delírios, desequilíbrios afetivos do ego, que nos empolgam e nos arrastam... Fazem parte da imaturidade do nosso ego e distorcem nossa capacidade de “ver”, de analisar, de fazer escolhas com um mínimo de isenção. São desvios e exageros das “necessidades” do nosso ego. Respondem às nossas carências afetivas, à defesa orgulhosa de nossas certezas e se revelam nas nossas escolhas amorosas, profissionais, políticas, ideológicas, culturais e religiosas.
       Pela intensidade de sua força, tornam-se perigosas em nosso mundo de relações, por si mesmo já tão complexo e difícil.  Odiamos com paixão tudo que parece ameaçar nossas escolhas, tão impregnadas de nós. Nas áreas mais sensíveis, nos identificamos tão completamente com nossas escolhas, amorosas ou não, que reagimos com agressividade e ”surdez” a qualquer observação contrária ao nosso anseio. Ficamos “cegos”, incapacitados de aceitar o que não se enquadra em nossas paixões. Não há lógica na paixão, apenas identificação com nossas carências amorosas, nossos sonhos, nossas fantasias, nossos medos/ódios...  O que percebemos como ameaça às nossas certezas e escolhas, nós detestamos intensamente!   O que amamos e  a quem amamos, é o certo, até perfeito.  Estamos apaixonados!
         Na verdade, as paixões, retratos de nossa imaturidade afetiva e racional, momentâneas ou não, tendem a se deixar transformar com as experiências e as verdades a que o tempo nos submete. Elas esmaecem e até passam... Entramos num processo de análise, de aceitação e valorização da realidade como ela vai   revelando-se. Abandonamos os delírios da paixão. Mais livres, aprendemos a avaliar, observar, escolher, para que possamos, finalmente, apenas desfrutar, deixar ir, ou, finalmente, amar... porque só aprendemos a amar quando abrandamos nossas paixões e deixamos de ver e sentir o outro como apenas nosso...!
         Então, poderemos lembrar com nostalgia e até bom humor, algo encabulados, as delícias, as agonias e os desmandos que curtimos, sofremos e fizemos sob a força de nossas paixões.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

OBSERVANDO AS CRISES





        As crises nos chegam com os novos desafios com que nos defrontamos. Elas se apresentam quando somos impactados com o “novo” em nossas relações com o mundo, com nosso corpo, com nossas crenças/certezas.  Algumas situações são novas, de perdas e ganhos, como falências/heranças, doenças, nascimentos e mortes...  Elas nos solicitam atenção, flexibilidade, adaptação à nova realidade. Mas outras, estão há muito anunciadas, apenas se repetindo, aumentando de intensidade, empurradas pela nossa dificuldade de tomar atitudes, de abandonar sonhos e encarar a realidade, de estabelecer limites, de procurar novas soluções...
        É importante analisar as crises que nos envolvem, entender nosso papel nelas, em vez de agirmos de modo irrefletido, como uma folha solta na tempestade, reagindo emocionalmente, nos defendendo e atacando ou fugindo para o conforto do conhecido, rezando para tudo se acomodar... aguardando uma próxima “onda”.
        Nessa repetição tão doída, que tanto nos machuca, podemos, com um mínimo de distanciamento, observar... Como cada um de nós reage? É uma surpresa ou nos faz entender melhor quem somos nas relações? Como cada um de nós reage ao medo que as crises detonam em nós? Somos ansiosos, agressivos, omissos, lamurientos, acusadores? Tomamos partido, incitamos uns aos outros à luta, buscamos apaziguar para buscar soluções possíveis ou tentamos, apenas e sempre, minimizar comportamentos inaceitáveis? Cedemos, finalmente, de qualquer forma, para evitar qualquer tipo de mudança de atitudes?...
        Quando consigo guardar algum distanciamento emocional e observar, aprendo sobre os outros e, principalmente, sobre mim. Como Eu estou nas minhas crises? Sem me acusar ou brigar comigo, posso me observar - Por que reajo assim? O que me move ou paralisa? Os meus porquês...
        Não posso saber totalmente sobre os outros, nem modificá-los, mas posso ficar um pouco mais consciente nas situações de crises que nos envolvam e que, provavelmente, se repetirão.  As crises funcionam como um “sacode” para nos fazer sair do conforto de nossas “certezas” ou da agonia e cegueira de nossos medos. Elas tentam nos fazer “pegar no tranco”. Melhor estarmos atentos, com cabeça e coração abertos, para agirmos  de modo mais amadurecido e mais assertivo, com os outros e conosco mesmos...