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terça-feira, 26 de maio de 2020

A TORTURA DO MEDO



          Como crianças fascinadas e hipnotizadas por histórias de terror, seguimos ouvindo e compartilhando notícias ou previsões terríveis, que nos lançam em caminhos desesperados, sem saída...  Nossa mente é que comanda as emoções e o corpo e ela, muitas vezes, fica desgovernada, solta, à deriva ou obcecada,  assombrada, com visões de um futuro certamente doloroso. 

          O medo, então, nos invade e aprisiona. Ele não para, não diminui, sempre alimentado por pensamentos alarmantes, repetitivos, distorcidos. Quaisquer fatos simples e corriqueiros transformam-se em sinais de tempestades futuras. Se alguém sai, talvez não volte! Talvez seja a última vez que nos vejamos! Um pigarro, um espirro, uma tosse, talvez seja a terrível pneumonia! Uma criança febril, talvez seja o início uma doença fatal! Um filho calado e “na dele”, talvez seja o prenúncio de uma recaída...  Só pensamos o pior, convivemos com o pior e temos muito medo de atrair o pior! O medo nos açoita todo o tempo! Temos medo do nosso medo e do medo dos mais queridos! Queremos fugir, queremos uma saída!

 Nosso corpo, despertado pelo medo, prepara-se para uma possível luta futura e nos inunda, no presente, de adrenalina. E essa adrenalina fica no corpo, retida, querendo uma resposta, criando um campo de luta interno, nos agredindo, nos adoecendo, nos matando, sob esse stress contínuo.

Como nos livrar desse carrasco invisível, mental, que nos lança hoje no horror de um possível e terrível futuro? Somos seres espirituais, e nossa liberdade de seres sagrados, reside em nossa dimensão mental mais alta. Preciso cuidar dela, defendê-la de influências externas que me infundam pensamentos nocivos (noticiários, fofocas, “novidades”, filmes, estatísticas fúnebres...)  Preciso estar atenta a ela, preciso afastá-la dos desvios irreais do futuro, preciso mantê-la, ocupá-la positivamente na realidade do Agora, onde reside o meu poder.  E quando estiver difícil, pedirei socorro e reforço a um Sereno e Amoroso Poder Maior, sempre à minha disposição para me acalmar, me tranquilizar...


terça-feira, 19 de maio de 2020

A AGONIA DA DISTÂNCIA




       É maravilhoso amar, mas, daqui onde estamos, temos também uma necessidade imensa, intensa, de tocar quem amamos. Temos necessidade de nos sentir próximos de quem amamos, de nos sentir juntos. Mesmo quando afastados por ideias, por questões e situações, queremos estar, fisicamente, próximos. Parece-nos, assim, uma promessa, uma possibilidade, de estar cada vez mais juntos.

       Cartas, Emails, Retratos, vídeos, grupos virtuais, não conseguem substituir a proximidade de um olhar direto, olhos nos olhos. Não conseguem trazer o calor de um toque de mão, de um roçar carinhoso no rosto, nos cabelos, de um abraço, suave ou forte, breve ou demorado, apertado...
Um toque físico traz, por si só, uma sensação de proximidade, de intimidade. É um convite para chegar, uma promessa de aceitação, até mesmo entre estranhos ... 

No momento, somos orientados e cobrados a mantermos distância uns dos outros por conta de uma dolorosa circunstância! Somos levados a vivenciar esse “frio” afetivo, que tanto nos agonia e confunde. Não poder tocar, abraçar e beijar crianças, não poder sentir fisicamente o encanto quase sagrado que elas ainda trazem da Origem. não poder comunicar todo o amor que elas nos infundem. Da mesma forma, não poder tocar e abraçar os filhos maiores, os pais cansados e tão carentes, os companheiros distanciados...  É uma agonia! Como parece distante e quase irreal a possibilidade de amar com espontaneidade, de amar sem medo! 

Tudo isto nos faz entender melhor a agonia da morte física de quem amamos, quando ficamos sem notícias, sem poder ver, falar, ouvir, tocar, abraçar... para “sempre”, até que possamos nos rever noutra realidade.

Somos “bichos de pelo”; nossa pele precisa sentir e realizar o Amor, também, através do toque. Um dia tudo isso vai passar! Até lá, poderemos ir nos conectando, sentindo e cuidando melhor de nosso próprio “pelo”, nos fazendo carinho, entendendo melhor nossas carências e até as dos outros.


terça-feira, 12 de maio de 2020

COMPANHEIRISMO NO ISOLAMENTO



À princípio, passamos uns pelos outros pelos dias, pela vida...  Em família, no trabalho, na rua, em quaisquer circunstâncias.  Em Família, criamos vínculos de sangue, de paixão; vínculos mais duradouros, mais fortes, de amor, ou não. Estabelecemos parcerias com o casamento, com os filhos e com outros familiares e amigos mais próximos. Sentimo-nos leais, cooperamos, curtimos juntos festas, visitas, passeios e sofremos perdas, doenças...

Mas, as situações de grande crise, põem à prova nossos vínculos mais queridos. Muitas vezes, a lealdade, a alegria e a parceria se partem sob várias pressões, opiniões, decisões alheias à nós.... O grupo se parte e vemo-nos isolados com alguns que ficaram.

Nesses tempos estranhos de confinamento forçado pela  ameaça à própria sobrevivência, vimo-nos muitas vezes isolados em parcerias queridas, mas   nem sempre escolhidas para esse  árduo desafio do isolamento. À princípio, curtimos, mas depois vamos nos descobrindo mais profundamente em hábitos, desejos, atitudes diferentes do cotidiano social... E vêm os momentos de irritação, raiva, estranhamento com os “folgados”, com os que pouco cooperam, com suas neuras ...mesmo nas relações mais próximas.

Nesse estágio do confinamento podemos escolher nos debater, acusar, brigar, silenciar e ignorar uns aos outros, nos condenando à uma prisão agoniada e zangada ou depor armas e aceitar esse outro que só agora estamos descobrindo em profundidade com seus medos, sua aparência mais descuidada, suas vaidades mais esquecidas, seus defeitos tão humanos...

Nada é por acaso! Por que estamos aqui, juntos e confinados? O que a vida quer nos fazer descobrir na relação com essas pessoas?  Continuaremos apenas nos relacionando de modo “familiar”?   Se escolhermos a paz, iremos aos poucos aprendendo a ser parceiros com a igualdade que nasce da dependência mútua. Com pequenas gentilezas, pequenas tarefas em conjunto, medos compartilhados, paciência bem humorada... iremos usufruindo de uma nova parceria, cheia de cumplicidade e camaradagem de companheiros renovados sob nosso olhar.