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terça-feira, 27 de outubro de 2020

NA FRENTE DOS OUTROS

 


           Como atuo e me comporto, na frente dos outros? Que poder têm os outros de me modificar, ou de modificar minhas atitudes e pensamentos  num determinado momento ? Quantas pessoas eu sou? Quantas “caras” eu tenho? Sou de mentira, não tenho personalidade? Sou como um camaleão mudando, mesmo que levemente,  minhas cores, meu jeito, minhas reações e emoções...

            É importante sentir como a presença dos outros tem o poder de me inibir, ou de me fazer crescer, nas atitudes. É  importante e interessante estar em contacto comigo mesmo e poder sentir a influência da “plateia”. Como é forte e poderoso sobre minhas reações, saber o que esperam de mim, para o aplauso ou para a crítica.

           Como ficamos agoniados com a desobediência e agressividade dos filhos na frente dos outros; como reagimos diferente nas discussões do casal, na privacidade ou em público; como nos sentimos de “saia justa” em situações que nos requerem posicionamentos diferentes do esperado pelo público; como fingimos nem ligar em situações que nos causam dor ou vexame; como queremos “mostrar serviço” e concordar; como fingimos força para esconder nossos medos ... e  tantas e tantas outras situações!

            Nascemos e fomos criados em grupo, dependentes da aceitação dos grupos aos quais fomos pertencendo: família, escola, igrejas, trabalho... Precisamos ser aceitos para nos sentirmos valorizados e amados, daí a força dos grupos sobre nós, mesmo que grupos menos próximos e afetivos.

            É natural e humano que sintamos, e até cedamos, à essa pressão psicológica. Mas a libertação gradativa dessa  dependência ou servidão “ao que os outros vão pensar ou achar”, vai depender do fortalecimento de nossa autovalorização e de nossa autoestima. Preciso me observar para reconhecer meus medos, inseguranças, vergonhas... Preciso rever minhas crenças “aprisionantes”... Preciso me dar o direito de fazer novas escolhas, ser autêntico e, se necessário, ser diferente a cada momento.

          Não vou me criticar, nem julgar os outros, por nossos medos, nossa “falsidade” ou “reações de camaleão”, porque entendo que estamos em processo, tentando  equilibrar nossa capacidade de SER com a necessidade de Pertencer. Afinal, esse é nosso grande desafio! Quero aprender a ser simples, generoso, paciente, comigo e com os outros, sem desistir jamais de ser fiel a mim mesmo! 

 

 

 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

ANESTESIADOS !

 


          Olhando para fora, vemos os Outros, vemos o Mundo. Acreditamos que devemos desfrutá-los ou consertá-los para nosso melhor deleite e felicidade. Mas essa é uma crença falsa, na medida em que não podemos modificar ou controlar esse Mundo de fora. Tentar isso desde sempre, e não conseguir, nos trouxe medo, insegurança, amargura, dor...

          Como conviver com essa frustração constante e agonia surda, invisível, que sentimos, mas que não conseguimos sequer detectá-la direito? Olhando sempre para fora, não prestamos atenção à origem de nossos sentimentos/pensamentos e, quando nos frustramos na tentativa de moldar o Mundo, atribuímos a culpa aos Outros, jamais à crença equivocada ou ao nosso olhar, erradamente, mal direcionado para fora.

         Não sabemos lidar com esses fantasmas doídos, que não vemos, não reconhecemos e não sabemos como afastá-los. Olhando sempre para fora, buscamos no Mundo algo que nos distraia da dor, ou a anestesie. Temos um corpo físico, que reage ao que pensamos e sentimos. Através dele, com estímulos internos e externos, artificialmente exacerbados, tentamos anular o desconforto e a nossa agonia, pequena ou grande, percebida ou não.

         Acreditamos que para sermos “ felizes”, precisamos de prazeres ou anestesias, que buscamos através de atividades de risco ou de jogos, liberando adrenalina para confundir o medo... Ou buscamos esses aditivos no exagero do sexo, da alimentação, do acúmulo de bens/poder, liberando as endorfinas que nos distraiam da ansiedade, do vazio... E numa sociedade apressada, cada vez mais artificial e química, buscamos nos químicos o prazer e a anestesia rápida para qualquer agonia, reconhecida ou não.

         Essa “solução”, cada vez mais usada e glorificada em nossa época pelos meios de comunicação, é também e principalmente, endossada em família para as gerações mais jovens.  Na verdade, nos tornamos seres anestesiados por vários tipos de drogas, compradas ou interiormente estimuladas. Acostumados assim, quando sem elas, nos parece que a vida fica esquisita, vazia, sem sentido, sem vibração, sem prazer, sem alegria... Juntos ou sozinhos, estamos anestesiados e condenados a sermos robôs bobos, alegres ou tristes, raivosos ou adormecidos, discutindo soluções para o Mundo, enquanto não conseguimos sequer acordar para nós mesmos!

         Então, digo para mim mesma: Pare de se anestesiar ou buscar soluções, perguntas e respostas lá fora, no Mundo! Suas dores e agonias são suas. Sua origem, o porquê de cada uma é seu. O poder para transformá-las também é seu! Cuide-se, olhe-se e às suas dores, não fuja! Com carinho e paciência podemos ir descobrindo e desatando nossos próprios nós. Isso nos ocupa, nos encanta e preenche nossos vazios. Caminhando cada vez mais livres, poderemos curtir o que a vida nos oferece, sem necessidade de excessos, com leveza, com alegria, com simplicidade... 

 

 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A DESESPERANÇA E O INESPERADO

 


Todos temos desejos e medos. Desejamos muito o que, acreditamos, nos fará felizes e tememos muito a dor das perdas e as advindas de situações difíceis.   Muitas vezes desejamos e tememos de modo tão intenso, que eles se tornam anseios e agonias.  Desejamos saúde, amores, bens materiais, intelectuais e morais... Desejamos que nada mude quando tudo “está bem” e desejamos mudanças rápidas de tudo que entendemos como “errado”... Desejamos desse modo para nós, para o Mundo e para nossos amores mais queridos.

           E ter esperança(esperar) de tudo vir a acontecer a nosso contento não nos basta, porque é simples, exige confiança e paciência. E nós temos sempre pressa, transformando a Esperança em expectativa, ansiedade, agonia.

          Nesse processo tão difícil, insistimos teimosamente em nossos pedidos, lutas e atitudes, até que as contínuas impaciências e frustrações se transformem em raiva, mágoa, desespero e Desesperança! Afinal, estamos lutando tanto, merecemos mais, nos sentimos injustiçados e abandonados pela Vida. Desesperados, inconformados,   muito ressentidos, raivosos, podemos até desistir de tudo, abandonando pessoas e situações.   Assim é a  Desesperança, que parece marcar o início do vazio e o fim da qualquer Esperança...

           O Inesperado tem outra trajetória para acontecer. Ele chega num repente, independente de nossa vontade. Ele nos assusta, porque queremos ter o controle de tudo, porque não confiamos nas decisões da Vida e não nos entregamos a Ela. É permitido ou decidido por uma Instância Maior, como consequência de várias circunstâncias, que, na verdade, desconhecemos.  Deus tem conhecimentos que não sabemos e tem um tempo certo, que nossa pressa não aceita.

           Quando, com humildade, reconhecermos que estamos de passagem e não sabemos os porquês das situações, poderemos nos entregar às decisões da Vida, mesmo  inesperadas, e aceitá-las sem muita luta, sem muito desgaste, com paciência e confiança na força interior, que recebemos de nossa Origem.  Só então saborearemos as delícias dos “bons inesperados” e saberemos transformar os aparentes “obstáculos inesperados” em degraus para novas conquistas.