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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Abandono



Abandonar é desistir. Desistir de tentar, de querer, de desejar, de esperar, de dizer, de ouvir, de continuar. Cada aspecto de mim ou alguma relação que abandono é uma porta que se fecha, um ponto escuro à minha volta. Pode parecer mais fácil, cômodo ou prático, mas empobrece meu mundo, fecha tantas possibilidades...
Acredito que desistimos porque abordamos aspectos de nossa vida de forma irreal, rígida, insistindo no impossível, brigando, esperneando, querendo apenas uma determinada saída. Quando cansamos de tanto lutar conosco mesmos, exigindo o que , só por hoje, ainda não conseguimos, sentimo-nos humilhados e desistimos. Cansamos de tanto fazer força na direção errada para mudar os outros, esperando deles o que não podem ou não querem dar... Abandonamos a alegria e o gosto de viver de tanto levar a vida como uma luta constante.
O abandono tem aspectos sutis; às vezes nem percebemos que já desistimos porque o abandono não é apenas físico, o fato de estarmos juntos ou não. Permanecemos em relações para as quais já nos fechamos, amuados, quando nos decepcionamos em nossas expectativas ideais. Não mais ouvimos porque sua fala não é a que desejamos, não mais lhes falamos porque não responderão como queremos.(... se fosse resolver, iria lhe dizer da minha agonia...) Permanecemos muitas vezes juntos (...como pedras que choram sozinhas no mesmo lugar) mas já os abandonamos. Não queremos mais saber quem realmente são, o que podem, o que sonham, o que sentem, porque disfarçam. Permitimos tanta invasão em nosso espaço para ver se conseguíamos fazer a relação do “modo certo” que, não conseguindo, nos ressentimos, fechamos, ignoramos. E o abandono veio como resposta à desesperança.
Abandonar é não mais acolher, não aceitar quem todos somos, só por hoje. É pré estabelecer e pré julgar que o outro não tem razão, que está sempre errado, que não vale a pena ser visto, ouvido ou amado. É desistir sem descobrir ou reconhecer que a luta apenas era errada e travada da forma errada.
Hoje tento não desistir de mim e das relações com as pessoas da minha vida. Procuro apenas mudar minha atitude, reconhecendo e respeitando o que, só por hoje, cada um de nós pode. A vida só é gostosa e vale a pena quando interagimos com amor e “ o amor é perseverante, paciente e bom”. O ganho é irmos descobrindo e desfrutando cada vez mais do mistério maravilhoso e cheio de possibilidades que somos e podemos juntos.

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