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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

APEGO E DESAPEGO


Quando trago sentido à minha vida me identificando com o que está fora de mim como pessoas, objetos, estilos de vida, crenças, etc, torno-me apegado a tudo isso, tenho muito medo de perdê-los. Crio uma visão fechada de como sou, como levo a vida; me apego ao passado, às “verdades”, opiniões, ao modo de ser, de julgar, de “ver”.
Quanto mais nos apegamos a tudo e todos vamos criando uma incapacidade de acompanhar o constante movimento da vida. Ela é fluida, está sempre acontecendo, mudando... e como temos medo do novo, vamos nos apegando ao que já conhecemos. Tentamos manter o passado já conhecido congelado no presente em fotos, filmes, músicas, lembranças (boas e más). Apegamo-nos ao modo de desempenharmos nossos papéis nas relações, teimando em ignorar que os filhos cresceram, que os pais envelheceram, que companheiros, parentes, amigos, pessoas, enfim, mudaram. Apegamo-nos também à juventude de nossos corpos tentando, às vezes com desespero, deter os sinais do tempo... E apegados, repetimos falando, pensando, teimando, cobrando: “sempre foi assim”, “você já não é o mesmo”, “na nossa família é assim”, “é o meu jeito:fui, sou e serei assim”, “não esquecerei jamais”, “como antigamente...”, “não vivo sem você”, “meu mundo acabou”, “sem isso eu morro”, etc...
O apego faz com que transformemos as pessoas, mesmo as mais amadas, em objetos que nos pertencem, que pertencem ao nosso mundo, à nossa vida; objetos necessários à nossa visão estática de felicidade. Por isso tememos tanto perdê-las! Como não ter medo? Como deixar de tentar controlar tudo e todos? Mesmo nos custando todo o tempo, mesmo vivendo sob um constante stress que nos adoece física e psicologicamente, que nos esvazia espiritualmente... Como sair dessa ciranda? Como desapegar se fomos ensinados a ver nas pessoas e coisas o necessário para sermos amados e valorizados? Como nos libertarmos, ou ao menos amenizarmos, o medo da perda dos nossos apegos?

A liberdade tem um preço. O preço é o trabalhoso caminho de volta e o início de um novo caminho. Acreditar e reforçar a crença, a todo instante, que sou inteiro e único, que os outros e as coisas não me completam, apenas fazem parte, durante algum tempo, do meu caminho, da minha história. Entender que “somos passantes; somos seres de passagem” e precisamos caminhar leves dos nossos apegos.
Só desapegando do passado podemos viver intensamente o presente, sentir melhor suas possibilidades. Só desapegando das soluções fechadas, perfeitas, das crenças e verdades estabelecidas, podemos enxergar novas direções se revelando, novas portas se abrindo. Só abrindo mão das expectativas antigas podemos “ver” a realidade com pessoas vivas, mudadas,mutantes, pessoas que não “víamos”porque não se enquadravam no sonho, no desejado, pessoas que não foram respeitadas/aceitas porque funcionavam apenas como objetos (amados ou detestados) na nossa história, nos nossos ideais. Só desapegando da espera eterna e ansiosa pelo sol, podemos desfrutar das gostosuras da chuva. Só desapegando do costume posso viver as aventuras e desafios do inesperado.
O desapego nos trás para o aqui e agora, trás toda uma riqueza de possibilidades para nós mesmos e nossas relações – todas as nossas relações.


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