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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

COMPULSÕES



             Muito se fala e escreve sobre o uso compulsivo de químicos, sobre a necessidade compulsiva que desenvolvemos de usar químicos para conseguirmos tocar nossas vidas. São químicos que buscamos nos consultórios médicos, nas farmácias, nos bares, nas vielas, nas favelas, nos endereços de luxo, embalando festas e incrementando a “alegria” de quaisquer classes sociais. Precisamos, muitas vezes, de algo mais, um aditivo, artificial, algo que procuramos, cada vez mais e mais, numa tentativa desesperada de anestesiar as dores e os desconfortos de lidarmos conosco mesmos e com as circunstâncias da vida. É uma tentativa de tentar suprir um buraco existencial, uma falta de sentido, de propósito; uma tentativa de trazer brilho e prazer a um viver que, na verdade, deve estar nos parecendo muito confuso, sem graça e opaco.

            Existem outros químicos, no entanto, que atendem a mesma finalidade, que não trazemos de fora, não pagamos por eles e que, sem termos consciência, usamos e abusamos, criando características de dependência e compulsão. São os químicos que aprendemos a detonar em nossos organismos físicos em resposta a obsessivos chamados mentais, tentando confortar nossos anseios emocionais. O corpo é o fim da linha de processos que se originam na mente, detonam emoções e acionam respostas bioquímicas em nosso corpo. Quando isso se torna um circuito fechado, uma rede interna desconectada do Circuito Maior, acaba por nos manter aprisionados, desnutridos de Amor e Alegria e dependentes compulsivos de artifícios que nos ofereçam, ao menos, prazer e anestesia.

            Devemos estar atentos à busca e desfrute compulsivo desses químicos gerados por nós mesmos através de atividades exageradas que demonstram compulsão, prisão às nossas mentes fechadas e corpos aditivados, não nos permitindo o necessário contacto interior que poderia nos levar a livres escolhas. Podemos estar vivendo sempre com pressa, sob pressão contínua, em atividades de alto risco, corriqueiras ou não, em esportes, em trabalhos, no trânsito, em competições de qualquer tipo, jogo, em relações perigosas, destrutivas... Podemos estar tão “viciados” em adrenalina que só assim extraímos brilho ou prazer da vida, só assim sabemos viver. E damos uma “manutenção” cotidiana a essa obsessão/compulsão assistindo os mais violentos noticiários, filmes, competições esportivas, “barracos”, os personagens psicóticos de novelas... Sem esses elementos, tudo parece meio sem graça! E essa busca distorcida de prazer através dessas sintonias químicas se revela também em outras compulsões que vamos desenvolvendo (comida, sexo, poder, afeto, prestígio, dinheiro...) Essas drogas geradas por nossos organismos em obediência aos comandos obsessivos da mente e necessidade distorcida do corpo(adrenalina, dopamina, endorfina, etc) têm atuação “alopática”, disfarçando os sintomas de dor, da falta de cor e sabor da vida e camuflando o vazio interior. Ficamos aprisionados num viver agoniado, estressados, não sabendo como sair disso porque sequer nos damos conta do que está nos acontecendo.É como se, inconscientemente, pensássemos: “Queria tanto ser feliz, mas se não encontro essa tal felicidade, quero, ao menos, distrair a dor e trazer prazer e brilho à minha vida!

            O preço da liberdade é uma atenção cuidadosa, gentil, bem humorada e perseverante de como levamos nossa vida, de como nos cuidamos. É preciso “dar-se conta” da prisão para podermos buscar a liberdade.Só um olhar interno cuidadoso e honesto poderá nos revelar pensamentos e comportamentos viciados e viciosos que mantém e se mantém com o abuso desses químicos em nós. Só a descoberta, a experiência, a escolha de valores mais espirituais e amorosos para nós mesmos e em nossas relações, poderá ir subtraindo-nos da prisão egóica, do circuito fechado, para poder chegar a um Circuito mais amplo, sempre aberto a vivências mais altas, mais gratificantes e significativas para seres espirituais que somos. O equilíbrio faz parte da Felicidade. Precisamos achar o equilíbrio entre atender nossa materialidade, que busca prazer, e nossa espiritualidade que traz Felicidade. Todo esse processo precisa ser livre das obsessões e compulsões que nos cegam e aprisionam. Somos seres um processo, em contínua evolução e qualquer processo evolutivo requer liberdade, perseverança, alegria e paciência. Isto é o que dá Sentido à Vida.

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