A desilusão, o desengano, que tanto machucam, são tristes e
doídas “correções de rumo” que nos
sinalizam os desvios forjados por nossas idealizações, no caminho de busca da
felicidade. O próprio nome é explicativo: des/ilusão – des/engano. É o que nos
livra da ilusão e do engano! Mas ficamos tão zangados, tão sentidos!
Elas funcionam como um golpe
duro, às vezes, duro demais, que nos sacode para a realidade. Sofremos porque
amávamos nossas fantasias, amávamos através
de nossas fantasias. Em nosso afã de sermos felizes, criamos um mundo
imaginário de ilusões, de “sonhos dourados”, habitado por anjos, heróis e
heroínas, príncipes e princesas... todos aqueles que amávamos e que nos amavam.
Aos nossos olhos cheios de expectativas coloridas, eles seriam sempre leais,
não nos decepcionariam, não fingiriam, nada nos esconderiam, não falhariam... E
acreditávamos que conseguiríamos, nós também, nos manter a altura das
idealizações dos sonhos alheios e, assim, seríamos “felizes para sempre”!
Esse fantasioso castelo de
ilusões não levava em conta a realidade de nossa natureza humana, única e ainda
tão falível... Um dia, acaba por soltar-se uma pedra, a primeira de tantas...
Que desilusão! Como dói! Como nos confunde e nos assusta! E agora? Como
re-arrumar meu mundo? Quem sou eu, afinal? E o Outro, quem é ele, de
verdade? Filhos, pais, amigos,
companheiros... Não são mais meus super heróis! Como viver sem heróis? Como
viver descobrindo que não sou a super heroína deles?
- devo buscar outros heróis para substituí-los
e poder continuar no engano, na ilusão, no sonho...?
- devo me negar a entender que sou responsável
pelas minhas expectativas e continuar a culpar Deus, o mundo e os Outros pelas
minhas decepções?
- devo descrer para sempre de tudo e todos?
- devo me lamuriar e clamar contra os ingratos
e mentirosos?
- devo “ter pena de mim, pobre iludida” e
cultivar uma triste auto piedade?
- devo culpar e menosprezar a mim mesma,
arrasando minha auto-estima, punindo-me, maltratando-me, para deixar de “ser
boba”...
- devo buscar minha revanche, procurando “dar
o troco”?
- devo fechar-me na relação, defendendo-me,
resguardando-me, não me permitindo mais intimidade?
- devo buscar nossos amores e novas relações
que “mereçam minhas expectativas”, para recomeçar tudo de novo...?
Ou devo, afinal, entender que não
devo e não posso esperar do Outro tudo aquilo que ele não quer ou não pode me
atender? Preciso respeitar a unicidade e as possibilidades das pessoas para me
resguardar dessas dores e dissabores!!!
A desilusão, o desengano, são a
oportunidade que temos para acordar para a realidade do que todos somos e podemos, “Só por hoje”. No
entanto, ouvimos a expressão “Cair na Real” como se fosse um triste comando,
algo irônico, ruim.
“Cair na real” de mim mesma e dos
outros é acordar de um transe trabalhoso e arriscado, de viver num limbo, numa
corda bamba, eternamente lutando para não deixar cair as minhas fantasias. É abrir mão das expectativas forjadas apenas
nos meus desejos idealizados. É parar de me revoltar e lamuriar e acordar para
as incríveis possibilidades do que, realmente, somos e podemos. É buscar ver,
repito a mim mesma, em cada desengano, em cada fato “indesejável” da vida, um
chamado para “corrigir minha rota”. É
aprender a buscar a felicidade na realidade
do Aqui e Agora.
Preciso me desiludir para
acordar! Preciso me desiludir para poder “ver” melhor as pessoas, os novos
caminhos, as novas possibilidades na vida e em minhas relações. Preciso me
desiludir do que eu queria que você fosse, para poder aprender a amar quem você
É!!! Preciso me desiludir para aceitar, acolher e perdoar minha humanidade e
poder ser mais livre no meu caminhar.