Quando os fatos “ruins” e inesperados da vida nos desafiam,
quando eles ameaçam desmoronar nossos sonhos e nossa felicidade, nos
sentimos atingidos pela Dor. E ela nos
sacode, nos acorda, nos faz movimentar e caminhar. Nossa primeira reação, numa
tentativa de defesa, é negarmos a realidade indesejada - Não é possível! Não
acredito!... Depois, procuramos sua origem tentando afastar assim o que possa
estar nos machucando. E queremos entender... Por que?
Procuramos
respostas nas pessoas, no mundo, em Deus! Por que? Por que comigo? Por que
assim? Por que?...
- Comparamos nossa
história com outras, negamos falhas, revemos nossos atos (justificando-os, quase
sempre) ou reconhecemos alguns erros, mas lamentamos a “injustiça” ou exagero
no peso dos “castigos”!
Passamos do choque à luta e lutamos... Como
lutamos!
- Reagimos, tentamos
barganhar e manipular esse Poder Maior que parece não nos ouvir, que não
modifica as pessoas “erradas” da nossa vida ou os fatos irreversíveis tão
dolorosos! E prometemos...Como prometemos!
- Lutamos e
esperneamos enquanto acreditamos que, talvez, tudo possa se resolver de forma
menos dolorosa... Afinal, é muita dor! De uns, porque ficaram; de outros,
porque se foram! Desencontros e separações são sempre tão doídos!
- Continuamos a luta
até que a realidade adversa se impõe, encaramos nossa impotência e repetimos
para nós mesmos: “perdemos”, “perdemos”... Temos que nos conformar! Na verdade,
é uma “conformação inconformada”, cheia de mágoa, de ressentimento, abafando
uma revolta surda, calada, amordaçada, submetida, uma “bronca em stand by”, “conformada”...
Mas, esse
não é o fim da linha do processo detonado pela dor! Não é sadio permanecer
assim porque a conformação é uma “parada indigesta” na agonia, ainda que numa
agonia “elogiada, suavizada, martirizada”! A conformação faz parte do processo,
mas seu prazo precisa ser breve para continuarmos - num “bom movimento”!
Num certo tempo, começamos a
entender e acreditar, realmente acreditar, que o Universo e tudo que nele
existe, inclusive nós e quem amamos, pertence e é orientado por um Poder
Superior Amoroso; passamos a acreditar que em tudo há um Sentido, ainda que nos
escapem os detalhes, ainda que nos faltem informações ou uma visão mais ampla.
Começamos a Crer que, juntos ou separados por diferentes dimensões, por
distâncias físicas ou afetivas, concordando ou discordando, estamos Todos nesse
processo rumo ao Melhor. Começamos a crer que cada um de nós tem um caminho
único, feito por escolhas pessoais, particulares, em um tempo próprio... mas todos temos a mesma Destinação e
estamos todos no plano amoroso de
Deus.
Quando essa
crença se faz certeza e começa a tomar forma e força dentro de nós, descobrimos
a verdadeira Aceitação e começamos a
desfrutar de um sentimento de Paz
que parece “descer” e crescer em nós. A dor ainda está presente, acredito que
para sempre. Mas já não me debato tanto, já não me arraso tentando modificar
pessoas ou reverter os fatos. Já não me desgasto tanto remoendo raivas,
ressentimentos... Já não choro tanto o que poderia ter sido e não foi... Já não
arrasto um sofrimento que acompanha a eterna luta “contra”... E, quando a luta
cessa, toda minha força interior fica liberada para criar, ajudar, para amar e continuar
um “bom viver”.
Hoje
entendo cada vez melhor as palavras inesquecíveis de uma pessoa atuante, amorosa, solidária, vibrante...
Era também uma mãe muito, muito doída, dando notícias muito, muito tristes, de
um filho ainda muito perdido...
Ela sorriu triste e me disse:
- Como dói, amiga!
Mas agora é uma “dor com paz”...