Somos caminhantes com a mesma Origem e com a mesma
Destinação. Nessa jornada, no entanto, tivemos a liberdade de tomar caminhos
diferentes, com paradas e tempos diferentes. Temos crenças/pensamentos
diferentes, construímos nações diferentes, classes sociais, raças, religiões...
diferentes. Nesse mundo efêmero e
material, vemos como diferentes de nós os que têm mais e os que nada têm, o
intelectual de grande saber e os que quase nada sabem, os poderosos e os
oprimidos... Parece que tudo nos separa, que tudo reafirma sermos só diferentes! E, por tudo que foi nos
diferenciando, até esquecemos o que nos iguala!
Desconectados
como vivemos de nossa dimensão espiritual, da dimensão de Origem que nos
iguala, ficamos enredados e isolados em nossas diferenças, sofrendo com elas,
mas justificando-as como naturais. Existe, no entanto, uma dimensão sutil, às
vezes bastante abafada, porém tangível, nesse nosso caminhar ainda tão trôpego
– uma dimensão que nos toca mais de perto, onde nossa humanidade se revela mais
claramente – nossos sentimentos! Nesse
nível, descobrimos o que nos iguala, o quanto somos iguais, mesmo quando
tentamos disfarçar e dar nomes diferentes ao que sentimos. Talvez mais que a alegria, a dor nos
iguala... Em qualquer época, lugar, cultura... a dor da vergonha, da
humilhação, do repúdio amoroso (familiar ou social), a dor da culpa que nos
corrói silenciosamente, a dor das perdas (quaisquer perdas - pequenas, grandes,
as irreparáveis...), a dor dos muitos medos que nos acompanham a vida inteira,
a dor das decepções, das desilusões... São infinitas as dores que nos invadem,
massacram, nos moldam, nos redirecionam... e nos igualam!
No entanto, demonstramos de forma
diferente a dor que nos iguala.
Somos únicas e particulares expressões da nossa mesma Origem.
Viemos de berços, culturas, classes, educações diferentes
que tentam “moldar” ou nos “ensinar”, a homens e mulheres, como lidar com nossa
dor.
- a dor que um grita, compartilha e chora é a mesma que
talvez eu sufoque, que parece não caber mais no meu peito e, então, deixo
apenas vazar dos meus olhos.
- a dor desesperada de mães/pais “simples/pobres” pela
ameaça da perda do filho, para a morte ou para o mundo, é a mesma de mães/pais
“ricos/estudados”, horrorizados com a mesma impotência ante o destino desses
filhos.
Tantas dores... Elas doem igual! Elas nos
igualam, nos lembram que sob nossas “vestes” mundanas, somos iguais. Mas não precisamos
sofrer/chorar sozinhos. Assim dói mais! Assim demoramos mais a entender o poder
que a dor tem de transformar nossa soberba, arrogância, vaidade, raiva,
mágoa... na Humildade que nos permite re-significar valores, nos libertar e crescer.
A dor que nos iguala nos faz
aceitar e acolher a humanidade uns dos outros. Juntos, iguais, dolorosamente
igualados, quando compartilhamos, nos consolamos, nos encorajamos e mais docemente,
então, caminhamos.