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terça-feira, 12 de novembro de 2013

FICA MAIS UM POUCO...


           Quando criança, muitas vezes tentei, ansiosa e assustada, segurar as mãos de minha mãe, buscando retê-la um pouco mais junto a mim, querendo retardar as despedidas, querendo afastar o momento de ficar sem sua companhia... Mas ela precisava sair e saía... É assim!
Quem parte, leva e deixa saudade... Quem fica, não quer ficar sozinho!

            Cresci e então eu, como antes meus pais, é que tinha que soltar as mãozinhas que tentavam me reter, me segurar... Precisava sair, partir, ir ao mundo... E agora são, também, meus pais, já idosos, com limitações que ainda mais os isolam, os que tentam reter um pouco mais a minha atenção, a minha companhia...

            Revejo essas passagens na minha história, de mim menina querendo o colo de minha mãe, de mim quando jovem, forte, apressada, trabalhando, vivendo sem tempo para curtir mais a presença das crianças e a sabedoria serena dos mais velhos e mais carentes... Começo a entender e sentir melhor a ansiedade medrosa da infância, a solidão dos velhos já sem “sua turma”, seus companheiros, todos querendo reter uma presença amada, tentando esticar uma visita rápida, buscando uma voz querida ao telefone,  agoniados pela iminência da saída de quem amam e de quem tanto precisam.
           
            Cada vez mais sensibilizada pelo meu próprio viver, busco entender que todos nós, quando fragilizados pela pouca ou muita idade, pela doença, pelos infortúnios e tempestades da vida, marginalizados, esquecidos... precisamos de atenção, precisamos estar juntos para recebemos a energia vital que emana do cuidado e da presença uns dos outros, para nos sentirmos vivos, valorizados e  amados.

            Hoje, com bem mais idade, tendo visto as crianças crescerem, os jovens saírem, os pais ficarem muito idosos e eu mesma começando a enfrentar algumas limitações e os vazios das suas presenças queridas, posso  avaliar melhor a importância de estarmos juntos. Com alguma tristeza e ironia, me vejo arranjando pretextos para tentar esticar conversas, arranjar assuntos... E me vejo repetindo para os mais jovens, sempre apressados:

- Espera, espera!  Fica mais um pouco!