Quando criança, muitas vezes tentei, ansiosa e assustada,
segurar as mãos de minha mãe, buscando retê-la um pouco mais junto a mim,
querendo retardar as despedidas, querendo afastar o momento de ficar sem sua
companhia... Mas ela precisava sair e saía... É assim!
Quem parte, leva e deixa saudade... Quem fica, não quer
ficar sozinho!
Cresci e
então eu, como antes meus pais, é que tinha que soltar as mãozinhas que
tentavam me reter, me segurar... Precisava sair, partir, ir ao mundo... E agora
são, também, meus pais, já idosos, com limitações que ainda mais os isolam, os que
tentam reter um pouco mais a minha atenção, a minha companhia...
Revejo
essas passagens na minha história, de mim menina querendo o colo de minha mãe,
de mim quando jovem, forte, apressada, trabalhando, vivendo sem tempo para
curtir mais a presença das crianças e a sabedoria serena dos mais velhos e mais
carentes... Começo a entender e sentir melhor a ansiedade medrosa da infância,
a solidão dos velhos já sem “sua turma”, seus companheiros, todos querendo
reter uma presença amada, tentando esticar uma visita rápida, buscando uma voz
querida ao telefone, agoniados pela iminência
da saída de quem amam e de quem tanto precisam.
Cada vez
mais sensibilizada pelo meu próprio viver, busco entender que todos nós, quando
fragilizados pela pouca ou muita idade, pela doença, pelos infortúnios e
tempestades da vida, marginalizados, esquecidos... precisamos de atenção,
precisamos estar juntos para recebemos a energia vital que emana do cuidado e
da presença uns dos outros, para nos sentirmos vivos, valorizados e amados.
Hoje, com
bem mais idade, tendo visto as crianças crescerem, os jovens saírem, os pais
ficarem muito idosos e eu mesma começando a enfrentar algumas limitações e os
vazios das suas presenças queridas, posso avaliar melhor a importância de estarmos
juntos. Com alguma tristeza e ironia, me vejo arranjando pretextos para tentar
esticar conversas, arranjar assuntos... E me vejo repetindo para os mais
jovens, sempre apressados:
- Espera, espera! Fica
mais um pouco!