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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

IMPERDOÁVEL


          Existem zonas internas, escondidas, negadas, malditas... onde ainda não encontro o conforto da aceitação e a serenidade gostosa do perdão. Como sei que ainda não foram perdoadas? Porque ainda machucam à simples lembrança dos fatos que as marcaram. Machucam para além da dor natural das perdas, machucam trazendo à tona raiva, mágoa, vergonha, culpa, sentimento de injustiça... Fatos mais graves ou mais simples, isso não é o que importa! Importa, sim, o peso que tiveram para mim. Por que pesaram tanto? Por que ainda não merecem perdão?

            O perdão precisa passar primeiro pela aceitação racional da realidade, mesmo a mais dolorosa. A aceitação nos traz paz interior. Com ela, desistimos de lutar contra os “moinhos de vento” de nossas idealizações e fantasias irreais, que só nos podem trazer frustrações e dores.
A aceitação se inicia na mente quando entendemos que a realidade É – não adianta nos debatermos. Se insistirmos na luta, apenas nos paralisamos e desgastamos.
Mas o perdão acontece um passo adiante – ele necessita do aval do coração! Precisamos esperar diluir os sentimentos que nossas mentes criaram, quando nossas expectativas e defesas foram afetadas por fatos “imperdoáveis” ao nosso Orgulho!

            Imperdoável é tudo que aponta, arranha, agride e ameaça o
  meu orgulho, a minha idéia enganosa/enganada, de que – comigo tudo deveria ser diferente! É imperdoável tudo que me acontece, que faço ou que me fazem, como se eu fosse igual a qualquer outro ser humano!!! Tudo que parece desafiar minhas perguntas orgulhosas e ingênuas: Por que a mim? Por que comigo? Como pode fazer isso “comigo”?  Imperdoável, também, o que aponta minhas falhas, minha igualdade humana, minhas fraquezas, medos, covardias, impiedade... quando eu achava e queria ser melhor, a melhor!

            Hoje, começo a “ver”, a descobrir e entender, a origem orgulhosa do que me é imperdoável. Posso agora, então, começar me aceitando pelo meu orgulho tolo, pela minha fantasia defensiva, mesmo inconsciente, de querer ser e pensar ser mais especial, a mais merecedora... Preciso cuidar com ternura, gentileza, com carinho paciente e bem humorado da minha desilusão de não ser ainda tudo que eu acreditava (ou queria) ser, para mim, para os outros e para Deus. Esse é o caminho do Perdão – nasce no meu entendimento e caminha para o meu coração.


            Em vez de me fechar, de me isolar, de me julgar, de me culpar/envergonhar... Em vez de culpar, julgar, renegar os outros... zangada em meu orgulho ferido, posso sentir que caminhamos juntos errando, acertando, do modo que podemos a cada dia. Acredito que assim, aos poucos, um tempo de cada vez, vou sentindo-me mais leve, livrando-me do que era “imperdoável” e refletindo essa leveza, também, em minhas relações com o mundo e com Deus.