Existem zonas internas, escondidas, negadas, malditas...
onde ainda não encontro o conforto da aceitação e a serenidade gostosa do
perdão. Como sei que ainda não foram perdoadas? Porque ainda machucam à simples
lembrança dos fatos que as marcaram. Machucam para além da dor natural das
perdas, machucam trazendo à tona raiva, mágoa, vergonha, culpa, sentimento de
injustiça... Fatos mais graves ou mais simples, isso não é o que importa!
Importa, sim, o peso que tiveram para mim. Por que pesaram tanto? Por que ainda
não merecem perdão?
O perdão
precisa passar primeiro pela aceitação racional da realidade, mesmo a mais
dolorosa. A aceitação nos traz paz interior. Com ela, desistimos de lutar
contra os “moinhos de vento” de nossas idealizações e fantasias irreais, que só
nos podem trazer frustrações e dores.
A aceitação se inicia na mente quando entendemos que a
realidade É – não adianta nos debatermos. Se insistirmos na luta, apenas nos
paralisamos e desgastamos.
Mas o perdão acontece um passo adiante – ele necessita do
aval do coração! Precisamos esperar diluir os sentimentos que nossas mentes
criaram, quando nossas expectativas e defesas foram afetadas por fatos
“imperdoáveis” ao nosso Orgulho!
Imperdoável
é tudo que aponta, arranha, agride e ameaça o
meu orgulho, a minha idéia enganosa/enganada,
de que – comigo tudo deveria ser diferente! É imperdoável tudo que me acontece,
que faço ou que me fazem, como se eu fosse igual a qualquer outro ser humano!!!
Tudo que parece desafiar minhas perguntas orgulhosas e ingênuas: Por que a mim?
Por que comigo? Como pode fazer isso “comigo”?
Imperdoável, também, o que aponta minhas falhas, minha igualdade humana,
minhas fraquezas, medos, covardias, impiedade... quando eu achava e queria ser
melhor, a melhor!
Hoje,
começo a “ver”, a descobrir e entender, a origem orgulhosa do que me é
imperdoável. Posso agora, então, começar me aceitando pelo meu orgulho tolo,
pela minha fantasia defensiva, mesmo inconsciente, de querer ser e pensar ser
mais especial, a mais merecedora... Preciso cuidar com ternura, gentileza, com
carinho paciente e bem humorado da minha desilusão de não ser ainda tudo que eu
acreditava (ou queria) ser, para mim, para os outros e para Deus. Esse é o
caminho do Perdão – nasce no meu entendimento e caminha para o meu coração.
Em vez de
me fechar, de me isolar, de me julgar, de me culpar/envergonhar... Em vez de
culpar, julgar, renegar os outros... zangada em meu orgulho ferido, posso
sentir que caminhamos juntos errando, acertando, do modo que podemos a cada
dia. Acredito que assim, aos poucos, um tempo de cada vez, vou sentindo-me mais
leve, livrando-me do que era “imperdoável” e refletindo essa leveza, também, em
minhas relações com o mundo e com Deus.