Foi dito: Bem
aventurados os que choram...
Eles serão consolados!
Choram aqueles que passaram pelas perdas, quaisquer perdas,
pelas ingratidões, pelas injustiças, pela vergonha, pelo arrependimento, pelas
doenças, pelo abandono... pelas dores de sua humanidade sentida!
Mesmo que seu pranto ainda esteja marcado pela raiva,
irritação, pela mágoa, ressentimento, pelo desejo de vingança, pelo ódio. Ainda
que seja um pranto de covardia, culpa, remorso... Não importa! Eles já choram!
Quando a dor nos contorce, espreme e faz
chorar, isto marca o início de uma jornada longa, muito longa, ao encontro da
consciência de nossa humanidade, mesmo que ainda tão primária, competitiva,
egoísta...
Nosso pranto revela nossa fragilidade ante uma realidade mais
forte e, tantas vezes, adversa... Ante o poder do mal nos homens e de seus
sistemas,
ainda tão
desumanos,que nos submetem, espoliam, sem piedade... Ante nossa impotência
perante o Outro ou perante as decisões de um Poder Maior. Entramos em contacto
com o “mal” do mundo e, indignados, doídos, humilhados...choramos
Aprendendo a reconhecer o mal,
sofremos com ele e começamos a desejar o Bem, trazê-lo ao Mundo e aos outros. Mas, então, ainda julgamos, condenamos, tentamos modificá-los. E
só quando entendemos que nada conseguiremos nessa luta é que começamos a olhar
para o “mal” em nós mesmos... e choramos. Já agora com humildade, com o desejo
de nos modificarmos em busca desse bem que poderia nos trazer felicidade. Humildemente,
nos sentimos acolhidos, consolados e fortalecidos em nossos propósitos por um
amor maior que só um Poder Superior pode nos proporcionar! E entendemos: “Bem
aventurados os humildes, os que choram... porque serão exaltados e consolados”
Mas, e aqueles que ainda nem choram?
E aqueles encapsulados, presos às suas defesas de dinheiro,
poder, prestígio, força material... Aqueles que se sentem e se julgam acima do
bem e do mal, orgulhosos, arrogantes, num auto-engano que os envolve e isola?
E aqueles que fogem da dor da vida, escondendo-se atrás das
drogas químicas (álcool, remédios, outras...) e tentam permanecer anestesiados
da dor, de si mesmos, de sua luz?
E os muito jovens, tolos/alegres, com o desconhecimento próprio
da juventude e/ou com a proteção exagerada dos pais ou das leis, que os afastam
da dor, da responsabilidade por seus atos e suas escolhas?
E os muito sofridos e agredidos, encerrados em
malhas/armaduras de ódio, contra tudo e todos, que só fazem chorar e jamais
choram?
A eles,
certamente, a Paciência de um Deus Amoroso que os aguarda no tempo para acolhê-los
e consolá-los.
Com eles, atenção e firmeza em nossas relações. A
eles, nossa compaixão pelo vazio de
amor de seu mundo, compaixão pelo longo caminho que ainda lhes falta para um
despertar doloroso... A eles, nosso desejo
e “torcida” para que logo se libertem e acordem para que um novo caminhar.