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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

TRAUMAS


Em maior ou menor grau, trazemos em nós, em todos os nossos níveis, vestígios de situações difíceis, dolorosas, inesperadas, traumáticas, que enfrentamos e que nos deixaram marcas, sequelas...
            
O trauma é desencadeado pelo “inesperado ruim” e pela magnitude da dor causada pela situação naquele momento. E estão, ambos, ligados às nossas expectativas, ainda que inconscientes, do que queremos ou do que acreditamos precisar para sermos felizes... 

Traumas nos marcam
- quando acidentes inesperados nos agridem fisicamente, nos roubam a mobilidade, a capacidade, a inteireza de nosso corpo...    - quando recebemos diagnósticos de doenças graves, que entendemos como ameaça de morte, confrontando nossos sonhos e a expectativa de uma vida, sempre e ainda, longe do fim...
 - quando sofremos abusos e desvios, inconcebíveis à nossas expectativas infantis, dos adultos que deviam nos proteger...
 - quando somos confrontados com a realidade dolorosa dos desvios de nossos filhos, desvios que jamais esperávamos pudesse acontecer em nossa casa...
 - quando enfrentamos o momento da perda inesperada dos nossos amores. Trauma ainda maior quando essa perda é de crianças ou jovens, porque nossa expectativa é a de que sairíamos de cena muito antes deles...
 - quando acordamos para as mentiras e as traições daqueles que tanto amamos e em quem tanto confiamos...As  nossas “certezas” destruídas nos causam horror, susto, imensa dor...  Elas nos “tiram o chão”, porque as imagens idealizadas que construímos das pessoas são, então, quebradas, ficam esboroadas... E o especial valor que acreditávamos ter em suas vidas era pura ilusão...

            Os traumas nos marcam e permanecem em algum nível dentro de nós porque fomos sacudidos, derrubados, em nossas crenças idealizadas e nas expectativas de um viver sem dores e desafios. Enquanto insistirmos numa atitude de expectativas tão idealizadas, apenas nos expomos a sermos muitas vezes traumatizados – até conseguirmos desejar/sonhar sem expectativas ideais sobre o processo da vida, até aceitar que somos parceiros impotentes do destino dos outros, que as pessoas são como ainda são e nossos relacionamentos com elas devem ser gentis e amorosos, mas com limites, firmeza e prudentes, respeitosos.

            A vida, em eterna mudança, nos sacode todo o tempo. Preciso aprender com minha história, preciso reconhecer minhas sequelas, muitas ainda tão atuantes, e entender os traumas que as originaram. Preciso ter flexibilidade para as revisões e mudanças, porque se permanecer rígida, “inocente”, sem aceitação da vida – os traumas podem acabar por me quebrar !