Em maior ou menor grau, trazemos em nós, em todos os nossos
níveis, vestígios de situações difíceis, dolorosas, inesperadas, traumáticas, que enfrentamos e que nos deixaram
marcas, sequelas...
O trauma é desencadeado pelo “inesperado ruim” e pela magnitude da
dor causada pela situação naquele momento. E estão, ambos, ligados às nossas
expectativas, ainda que inconscientes, do que queremos ou do que acreditamos
precisar para sermos felizes...
Traumas nos marcam
- quando
acidentes inesperados nos agridem fisicamente, nos roubam a mobilidade, a
capacidade, a inteireza de nosso corpo...
- quando recebemos diagnósticos
de doenças graves, que entendemos como ameaça de morte, confrontando nossos
sonhos e a expectativa de uma vida, sempre e ainda, longe do fim...
- quando sofremos abusos e desvios,
inconcebíveis à nossas expectativas infantis, dos adultos que deviam nos
proteger...
- quando somos confrontados com a realidade
dolorosa dos desvios de nossos filhos, desvios que jamais esperávamos pudesse
acontecer em nossa casa...
- quando enfrentamos o momento da perda
inesperada dos nossos amores. Trauma ainda maior quando essa perda é de
crianças ou jovens, porque nossa expectativa é a de que sairíamos de cena muito
antes deles...
- quando acordamos para as mentiras e as
traições daqueles que tanto amamos e em quem tanto confiamos...As nossas “certezas” destruídas nos causam horror,
susto, imensa dor... Elas nos “tiram o chão”,
porque as imagens idealizadas que construímos das pessoas são, então,
quebradas, ficam esboroadas... E o especial valor que acreditávamos ter em suas
vidas era pura ilusão...
Os traumas nos marcam e permanecem
em algum nível dentro de nós porque fomos sacudidos, derrubados, em nossas
crenças idealizadas e nas expectativas de um viver sem dores e desafios.
Enquanto insistirmos numa atitude de expectativas tão idealizadas, apenas nos
expomos a sermos muitas vezes traumatizados – até conseguirmos desejar/sonhar sem
expectativas ideais sobre o processo da vida, até aceitar que somos parceiros
impotentes do destino dos outros, que as pessoas são como ainda são e nossos
relacionamentos com elas devem ser gentis e amorosos, mas com limites, firmeza
e prudentes, respeitosos.
A vida, em eterna mudança, nos
sacode todo o tempo. Preciso aprender com minha história, preciso reconhecer
minhas sequelas, muitas ainda tão atuantes, e entender os traumas que as
originaram. Preciso ter flexibilidade para as revisões e mudanças, porque se
permanecer rígida, “inocente”, sem aceitação da vida – os traumas podem acabar
por me quebrar !