Facilitações
ou concessões exageradas e costumeiras são invasões, consentidas ou não, que
fazemos na vida dos que amamos, no afã de protegê-los de dificuldades,
acreditando ser esse o nosso dever e como prova de nosso amor. Mas facilitamos, também, por muitas outras
motivações e de muitas formas, conscientes ou não...
Ao nos arvorarmos em cuidadores dos
outros, quando nos tornamos o sustentáculo da família ou de qualquer outro
grupo onde estivermos, tornamo-nos, também, os Controladores. Temos a pretensão
de que sabemos mais, nos sacrificamos mais, somos mais generosos, somos
melhores! Prepotentes, invadimos suas vidas, impedimos que façam suas próprias
escolhas, tomem suas decisões, e se responsabilizem por elas. Inconscientes
disso, acreditamos que somos movidos somente pelo amor, pelo dever, pela boa
vontade.
Nessa crença, também tentamos sempre
atender às expectativas dos outros, ou mesmo superá-las. Desejamos demonstrar nosso
amor e valor, aparecer bem, esperando merecer gratidão e reconhecimento. Afinal,
estamos deixando de viver nossas vidas por eles... Quando isso não acontece, ficamos
naturalmente frustrados, magoados, irritados, ressentidos, pela ingratidão e
pela humilhação de não sermos valorizados .
Essa atitude de
concessão, de facilitação exagerada e contínua, abre espaço na relação para uma
acomodação, para o abuso e até ressentimento dos que são “favorecidos”( mas
também invadidos) pelas facilitações! Uns tornam-se abusados, aproveitadores,
insensíveis sugadores... Outros ficam ressentidos pelas invasões bem
intencionadas, outros, ainda, acomodam-se e continuam a abrir mão de seu
próprio caminhar. Em Família, muitas
vezes exercemos quaisquer desses papéis sem nos darmos conta disso. Aceitamos
facilitações exageradas, nos acomodamos e achamos que “é assim”, é natural. Ou costumamos justificar nossas invasões pensando ou dizendo que
“não nos custa nada” facilitarmos a vida de quem amamos. Na verdade,
custa ao outro a oportunidade e o direito de enfrentar os desafios de sua
caminhada. É um desrespeito, mesmo que esse outro, mal acostumado e
amedrontado, peça pela facilitação. Nossas
relações assim distorcidas, adoecem, perdem o viço, tornam-se uma simbiose que
nos impede e limita, a todos, de crescermos ao viver nossas próprias vidas .
Ficamos eternamente inseguros e agarrados uns aos outros.
Concessões carinhosas, gentis, amorosas, guardam como sua principal característica é que são
EVENTUAIS. São um mimo a quem amamos, são atitudes solidárias nos momentos
especiais. Elas traduzem que estamos juntos e disponíveis, mas respeitando o
caminhar uns dos outros.
Quando sentimos que já estamos presos nos laços dessas
relações distorcidas, nesse jogo perverso de manipulações para dar e receber, nesse
jogo de culpas, cobranças, justificativas, precisamos admitir e reconhecer que
não estamos conseguindo viver nossa própria vida. Talvez nunca tenhamos
aprendido isso, talvez tenhamos aprendido que amar é misturar e invadir. E como
não aprendemos a cuidar de nós mesmos, nossa autoimagem, nossa autoestima,
nossa auto responsabilidade, nosso auto respeito... precisam ser,
pacientemente, construídos e cultivados. Só assim poderemos deixar que os
outros aprendam a cuidar de si mesmos.
Um dia de cada vez, aprenderemos a caminhar e a amar sem necessidade de
facilitações, sem abusos, sem acomodações, apenas exercitando o “Viva e Deixe
Viver”!
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