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terça-feira, 23 de agosto de 2016

VOZES AVOENGAS




         São as vozes dos que nos antecederam na família. Vozes dos nossos antepassados – dos pais, dos avós... Vozes dos que nos receberam, nos cuidaram, nos orientaram... Vozes que se repetiam em nossa infância através de “leis” familiares, através das lembranças ainda mais antigas, contadas e reforçadas em inúmeros exemplos, em estórias  ...   Vozes doces, vozes duras, vozes de cuidado e correção, vozes dos que se doaram, vozes que nos cobram eterna fidelidade e, insistentemente, se fazem ouvir nos momentos de escolhas, na moral, na religião, nas atitudes, nas relações...

            Na infância, foram as vozes dos mais velhos, mais fortes, dos mais importantes para nós.  Elas nos direcionaram como as margens de um arroio nascente, ainda indefeso, acompanhando-nos em nossa caminhada para águas mais longínquas, mais profundas... Eram vozes que, mesmo quando duras, nos ofereciam acolhida, proteção... Vozes que nos condicionaram e ajudaram a formar nossa autoimagem – depreciada ou valorizada!

            Na juventude nos rebelamos contra elas. Elas pareciam vozes  ultrapassadas, coercitivas... Queríamos confrontá-las, ignorá-las, abafá-las, com a arrogância dos que descartam o passado para, mais livremente,  gritarem  independência e poderem saciar a sede de novas experiências.

            No decorrer do tempo, já adultos, amadurecidos pelos sucessos e insucessos do caminho, começamos a nos permitir ouvi-las com mais isenção, reconhecendo, com humildade, o que elas nos traziam da sabedoria do que foi vivido, podendo entendê-las contextualizadas em seu tempo, atualizando-as, quando necessário, para nosso tempo presente.

            Ao envelhece, elas se tornam mais recorrentes, quase companheiras. Já não as julgamos para o bem ou para o mal, apenas as respeitamos por tudo que nos doaram. São as vozes que acompanharam desde nossa infância e dali por diante. São lembranças nossas, em nós, pedaços de nós.
            Vozes avoengas são as vozes do nosso chão, das nossas raízes familiares, das nossas tradições culturais.  Elas são uma base para crescermos, mas não podem nos tornar meros repetidores de outros tempos, de outras histórias ou seguidores de outras “verdades” e histórias que criaram para nós. Devem, sim, permanecer eternas quanto a seus conteúdos de valores éticos e pela  força do amor com que nos embalaram.

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