São as vozes
dos que nos antecederam na família. Vozes dos nossos antepassados – dos pais,
dos avós... Vozes dos que nos receberam, nos cuidaram, nos orientaram... Vozes
que se repetiam em nossa infância através de “leis” familiares, através das
lembranças ainda mais antigas, contadas e reforçadas em inúmeros exemplos, em
estórias ... Vozes doces, vozes duras, vozes de cuidado e
correção, vozes dos que se doaram, vozes que nos cobram eterna fidelidade e,
insistentemente, se fazem ouvir nos momentos de escolhas, na moral, na
religião, nas atitudes, nas relações...
Na infância, foram as vozes dos mais
velhos, mais fortes, dos mais importantes para nós. Elas nos direcionaram como as margens de um
arroio nascente, ainda indefeso, acompanhando-nos em nossa caminhada para águas
mais longínquas, mais profundas... Eram vozes que, mesmo quando duras, nos
ofereciam acolhida, proteção... Vozes que nos condicionaram e ajudaram a formar
nossa autoimagem – depreciada ou valorizada!
Na juventude nos rebelamos contra
elas. Elas pareciam vozes ultrapassadas,
coercitivas... Queríamos confrontá-las, ignorá-las, abafá-las, com a arrogância
dos que descartam o passado para, mais livremente, gritarem
independência e poderem saciar a sede de novas experiências.
No decorrer do tempo, já adultos,
amadurecidos pelos sucessos e insucessos do caminho, começamos a nos permitir
ouvi-las com mais isenção, reconhecendo, com humildade, o que elas nos traziam
da sabedoria do que foi vivido, podendo entendê-las contextualizadas em seu
tempo, atualizando-as, quando necessário, para nosso tempo presente.
Ao envelhece, elas se tornam mais
recorrentes, quase companheiras. Já não as julgamos para o bem ou para o mal,
apenas as respeitamos por tudo que nos doaram. São as vozes que acompanharam desde
nossa infância e dali por diante. São lembranças nossas, em nós, pedaços de
nós.
Vozes avoengas são as vozes do nosso
chão, das nossas raízes familiares, das nossas tradições culturais. Elas são uma base para crescermos, mas não
podem nos tornar meros repetidores de outros tempos, de outras histórias ou
seguidores de outras “verdades” e histórias que criaram para nós. Devem, sim,
permanecer eternas quanto a seus conteúdos de valores éticos e pela força do amor com que nos embalaram.
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