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sábado, 10 de dezembro de 2016

BAILE DE MÁSCARAS




          Fomos chamados a esse “baile” e desde cedo nos ensinaram a  usar nossas máscaras. Elas nos “agasalham e protegem” desse mundo perigoso e frio e a escolha delas nos é facultada, é particular. Cada um de nós escolhe aquela que melhor se adapta às nossas necessidades mais íntimas (conscientes e inconscientes), aos nossos medos e aos nossos sonhos. De qualquer forma, elas nos “protegem” do medo de sermos nós mesmos e acabam por vezes a nos impossibilitar isso! Quanto maior essa dificuldade, mais nos agarramos aos disfarces e maior é a variedade dos modelos que buscamos.  Nesse afã defensivo, ficamos cada vez mais prisioneiros dessas máscaras e acabamos por perder, em grande parte, o contato conosco mesmos, com os porquês que nos levam a essa busca contínua e perversa de abrigo. Passamos a acreditar que somos realmente a máscara e nada fazemos para nos libertar.

            Uns escolhem se abrigar sob a máscara de vítima, com direito a comiseração dos outros e a uma eterna auto piedade, embora sempre com uma raiva surda pelas injustiças, pela humilhação, escondendo mágoa e ressentimento.  Outros viajam em delírios de força, poder e grandeza, vendendo a imagem de superioridade e alegria, sem dores e medos, ou alardeando um saber maior, sem dúvidas ou recuos. Outros ainda, escondem seus sentimentos do mundo, talvez até de si mesmos, se mostrando como fossem blocos de pedra, fortalezas inexpugnáveis, imunes à sua própria humanidade. Ressentem-se, de forma escondida, da incompreensão dos outros. Tanto se defendem, que sofrem as dores da vida em grande solidão. E outros, que usam máscaras sedutoras, sempre tentando cativar com sorrisos de promessas para o mundo, disfarçando medo de solidão e menos valia... Ou, ao contrário, com sorrisos bondosos, atitudes de eterno sacrifício, escondendo cansaço, irritação, tantas vezes suas próprias dores... E tantas outras! Nossa coleção é interminável...

            Alguns de nós, provavelmente, jamais deixarão o abrigo da maioria de suas máscaras. Não ousam se expor ao desafio de buscar, e aceitar, quem são ou o que, só por hoje, podem. Preferem repetir falas, atitudes, “enganações”, papéis – vítimas, heróis, palhaços, superiores, indiferentes... E não adianta julgarmos ou confrontá-los antes de seus momentos de encontro consigo mesmos. Ficarão, com justiça, ofendidos, ressentidos, agressivos, evasivos... Afinal, com que direito queremos desmascará-los, se ainda usamos muitas das nossas próprias máscaras? É importante termos clareza e honestidade para reconhecermos nossos próprios disfarces e cuidado, sensibilidade e firmeza para aceitar e lidar com os dos outros. 

            Para participarmos desse baile, ajuda procurarmos estar lúcidos e atentos às “dissonâncias” entre as falas e as atitudes das pessoas e suas máscaras! Afinal, ninguém consegue ser ator em tempo integral!  Nesse baile, nas danças com as pessoas mais queridas, nossas relações permanecem, tristemente, muito finas, até supérfluas, porque, com medo de receber menos valorização, com medo de magoar e perder amor, revelamos muito pouco de nós mesmos... Então, nós nos machucamos, fingindo o que ainda não somos, levando decepção e insegurança uns aos outros.

            Só uma viagem paciente e persistente ao encontro de nós mesmos, trazendo o foco de nossa atenção para a pessoa que se esconde sob nossas tantas máscaras, poderá ir nos revelando, honestamente, quem somos, o que queremos, o que podemos ir ousando, a cada momento. Esse baile continua sempre. Com o tempo (tempo de cada um), com coragem e auto confiança, o abandono gradativo das nossas máscaras talvez encoraje nossos tantos parceiros de vida a também se revelarem... E se isso for acontecendo, o baile ficará  muito melhor...


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