Fomos
chamados a esse “baile” e desde cedo nos ensinaram a usar nossas máscaras. Elas nos “agasalham e
protegem” desse mundo perigoso e frio e a escolha delas nos é facultada, é
particular. Cada um de nós escolhe aquela que melhor se adapta às nossas
necessidades mais íntimas (conscientes e inconscientes), aos nossos medos e aos
nossos sonhos. De qualquer forma, elas nos “protegem” do medo de sermos nós
mesmos e acabam por vezes a nos impossibilitar isso! Quanto maior essa dificuldade,
mais nos agarramos aos disfarces e maior é a variedade dos modelos que
buscamos. Nesse afã defensivo, ficamos
cada vez mais prisioneiros dessas máscaras e acabamos por perder, em grande
parte, o contato conosco mesmos, com os porquês que nos levam a essa busca
contínua e perversa de abrigo. Passamos a acreditar que somos realmente a
máscara e nada fazemos para nos libertar.
Uns escolhem se abrigar sob a
máscara de vítima, com direito a comiseração dos outros e a uma eterna auto
piedade, embora sempre com uma raiva surda pelas injustiças, pela humilhação,
escondendo mágoa e ressentimento. Outros
viajam em delírios de força, poder e grandeza, vendendo a imagem de
superioridade e alegria, sem dores e medos, ou alardeando um saber maior, sem
dúvidas ou recuos. Outros ainda, escondem seus sentimentos do mundo, talvez até
de si mesmos, se mostrando como fossem blocos de pedra, fortalezas
inexpugnáveis, imunes à sua própria humanidade. Ressentem-se, de forma
escondida, da incompreensão dos outros. Tanto se defendem, que sofrem as dores
da vida em grande solidão. E outros, que usam máscaras sedutoras, sempre
tentando cativar com sorrisos de promessas para o mundo, disfarçando medo de
solidão e menos valia... Ou, ao contrário, com sorrisos bondosos, atitudes de
eterno sacrifício, escondendo cansaço, irritação, tantas vezes suas próprias dores...
E tantas outras! Nossa coleção é interminável...
Alguns de nós, provavelmente, jamais
deixarão o abrigo da maioria de suas máscaras. Não ousam se expor ao desafio de
buscar, e aceitar, quem são ou o que, só por hoje, podem. Preferem repetir
falas, atitudes, “enganações”, papéis – vítimas, heróis, palhaços, superiores,
indiferentes... E não adianta julgarmos ou confrontá-los antes de seus momentos
de encontro consigo mesmos. Ficarão, com justiça, ofendidos, ressentidos,
agressivos, evasivos... Afinal, com que direito queremos desmascará-los, se
ainda usamos muitas das nossas próprias máscaras? É importante termos clareza e
honestidade para reconhecermos nossos próprios disfarces e cuidado,
sensibilidade e firmeza para aceitar e lidar com os dos outros.
Para participarmos desse baile,
ajuda procurarmos estar lúcidos e atentos às “dissonâncias” entre as falas e as
atitudes das pessoas e suas máscaras! Afinal, ninguém consegue ser ator em
tempo integral! Nesse baile, nas danças
com as pessoas mais queridas, nossas relações permanecem, tristemente, muito
finas, até supérfluas, porque, com medo de receber menos valorização, com medo
de magoar e perder amor, revelamos muito pouco de nós mesmos... Então, nós nos
machucamos, fingindo o que ainda não somos, levando decepção e insegurança uns
aos outros.
Só uma viagem paciente e persistente
ao encontro de nós mesmos, trazendo o foco de nossa atenção para a pessoa que
se esconde sob nossas tantas máscaras, poderá ir nos revelando, honestamente,
quem somos, o que queremos, o que podemos ir ousando, a cada momento. Esse
baile continua sempre. Com o tempo (tempo de cada um), com coragem e auto
confiança, o abandono gradativo das nossas máscaras talvez encoraje nossos tantos parceiros de vida a também se
revelarem... E se isso for acontecendo, o baile ficará muito melhor...
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