Assistir
a dor de nossos filhos/netos é uma
agonia, sem anestesia, que nos atinge
através de nossa impotência ante o sofrimento de quem tanto amamos. E essa
agonia traz ainda uma culpa, absurda, mas tão real, por não termos o poder de
aliviá-los ou por não termos conseguido evitá-la. Ainda acreditamos que temos o poder, e até o
dever, de não deixarmos nossos filhos/netos errarem, fazerem suas escolhas “equivocadas” e
colherem os frutos amargos de suas experiências!
Quantas vezes temos que assistir
seus sustos, seus medos, suas desilusões, seus desencantos, suas perdas... Sabemos
que “faz parte” do descobrir, do crescer, do se libertar, do viver... mas como
dói vê-los sofrer!
Desde a infância, as primeiras
frustrações, as primeiras “derrotas”, a primeira vez em que se viram
preteridos, “perdedores” em um mundo cruel de constantes competições. Como dói
assistir o olhar confuso e magoado de uma criança decepcionada! Como dói
assistir a agonia deles, já adolescentes, quando insistiram em caminhos
perigosos e se viram perdidos, sem saber voltar... E como dói, também, assistir
a dor e o medo de seus pais, os nossos filhos, quando se vêm impotentes com
seus próprios filhos...
Na juventude e até mesmo na
maturidade, quando começam a colher os frutos amargos de suas inexperientes
escolhas, é muito doído ver seu olhar magoado, confuso, sem entender como
tantas “certezas” puderam dar tanto errado... E eles, tentando ser fortes,
disfarçando a dor, a “humilhação” de um jogo perdido, onde haviam apostado
todas as suas fichas, as suas certezas, suas teimosias, suas esperanças... Meu
Deus, como dói! Mas nos orgulhamos,
apesar de tanta dor, ao vê-los demonstrando força e buscando continuar, mesmo
em meio a tanta decepção.
E nos momentos das dores extremas,
quando nossos filhos/netos, vivem o horror de perderem seus próprios filhos
para a “morte” ou o pavor ao vê-los ameaçados pelos descaminhos da vida, só
podemos estar juntos, acolhendo, consolando, assistindo impotentes, essas dores
maiores...
Minha mãe, já bem idosa, dizia: É
muito triste ver os filhos ficarem velhos! Eu sorria, mas ela tinha razão. Viver
muito é passar por nossas próprias dores, dificuldades e erros e ainda assistir
as de nossos filhos/netos, das nossas pessoas mais queridas. Não podemos evitar
as dores de quem amamos. A nós, resta o consolo de que estão vivos e crescendo
e a necessidade de nos fortalecermos cada vez mais, para podermos estar sempre
juntos, disponíveis, amando-os... O Amor
trança uma rede que nos embala e sustenta. Os laços que nos unem transmitem
força e confiança e nossas lágrimas, contidas ou choradas, nos consolam... É
assim que, unidos, vamos superando dores e obstáculos e vamos caminhando...