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sábado, 11 de março de 2017

E O TEMPO LEVOU...




           O tempo, esse operário da vida, passa e, como o vento, leva tudo de roldão...   O tempo levou a mocidade de meus pais e avós. Levou aquela sua força que era meu chão, minha segurança. Levou aquele carinho que tanto me agasalhava, levou sua direção mais cuidadosa e nem sempre seguida...  E. aos poucos, foi levando quase todos eles que, certamente, foram os que mais me amaram.

           O tempo levou minha infância, com choros e risos, com a leveza e irresponsabilidade de quem não tem deveres a cumprir, nem ninguém a conduzir...  Levou minha adolescência e mocidade, com seus tragicômicos arroubos de amor, com minhas teimosias e sonhos aventureiros...   Levou minhas grandes paixões e amores, um viver de delírios românticos, com muita purpurina, com sabores excitantes e exagerados: ora salgados, ora açucarados, ora apimentados, ora azedos e amargos... O tempo levou minha inocência, a certeza simplista de um mundo em preto e branco...  E o tempo ainda continua, inexorável, roubando vitalidade, força, beleza e disposição física... Ele parece nos preparar para um outro nível de existir, mas como tudo isso nos dói e assusta!

O tempo levou a infância dos meus filhos, o colo sempre acomodado e aquecido com seus corpos tão queridos. E os passeios e brincadeiras, os choros, zangas, sustos e arranhões... Levou a  impressão tola e agoniada de que eram meus... Levou a adolescência de cada um, o desespero por seus descaminhos, as lutas, as frustrações e culpa por vê-los escaparem, ficando a agonia sem fim dos que se foram ... Depois, já adultos, levou-os definitivamente para longe dos meus cuidados. O tempo tudo levou, só não levou a saudade de tudo que passou..

Mas o tempo, operário e operante na vida, assim como leva, em seu movimento contínuo, também traz... . Assim como ele tanto levou, ele também me trouxe mais amores, mais alegrias, mais desafios... Mas os sentimentos e circunstâncias que trouxe, no mesmo momento levou, tornando-os lembrança, jogando-os para ser parte do meu passado! Preciso então estar atenta, com abertura, humildade, gratidão, para realmente viver o momento que ele me traz a cada instante!

 Toda essa movimentação no meu mundo, trouxe, também, mudanças para mim. Levou, pelo menos em parte, as minhas certezas e inocências, parte das vaidades, do orgulho, arrogância, prepotências, impaciências, incompreensões... Deixou um certo amargor, temperado com uma dose de doçura e animado com o sal da vida -  um sabor suave e sereno, com mais aceitação de mim, dos outros e do processo da vida. O tempo não pára e jamais corre em vão. O tempo, essa “ilusão e certeza”, tão fugaz, esse artífice da mudança, nos alerta para vivermos, com intensidade e coração aberto,  o Agora!

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