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sexta-feira, 17 de março de 2017

O INSTRUTOR/PROFESSOR E O MESTRE/PROFESSOR




         Imersos num mundo tão material e competitivo e envolvidos em crises tão variadas, ansiamos por aprendizados rápidos (e já tão atrasados!) para nos alavancar a melhores posições e condições.  Criamos cursos com instrutores/professores formadores de técnicos e profissionais em várias áreas. E cursos mais aprofundados formando pós graduados, e até “mestres”, nas muitas áreas do conhecimento humano. São as muito necessárias formações técnicas, racionais, intelectuais, mas que, se desumanizadas, podem nos transformar em meros seres adestrados, robotizados, agressivos, competitivos... infelizes.  Nesse ensinar corrido, mal remunerado, vivemos em meio a instrutores, bem ou mal formados, que não têm tempo de ouvir, de trocar, de acolher... O instrutor, o informador, é chamado, genericamente, de professor!

            Mas, em meio a esse ensinar/aprender, encontramos pessoas que se sentiram tocadas, que sentiram o chamado, a “vocação” para um encontro que vai além do racional e intelectual, um encontro mais inteiro e pessoal entre aluno e professor. Esse é o chamado que transforma o professor/instrutor naquele que ouve, que vê, que acredita, sabe e quer (também e ainda) aprender nesse  compartilhar. Um professor que vai além dos currículos na busca do Encontro.  

            O mestre/professor/formador é aquele que nos ouve aprendendo e nos fala ensinando, aquele que valoriza e sacraliza o momento do encontro mestre/aluno. É aquela pessoa que “chega” até nós – nos respeitando, sendo gentil, educado, firme e atento – mesmo com crianças alvoroçadas, ainda sem hábitos de conviver, crianças que muitas vezes passam esquecidas em famílias apressadas ou em constantes crises. Mesmo quando, com firmeza, estabelecia os limites do respeito para nossa adolescência medrosa, desafiadora, desinteressada, confusa... Mesmo com jovens adultos radicalizados, politizados, polêmicos... Mesmo com adultos cansados, desvalorizados, à margem...

            Havia um mundo mais ético, menos apressado e competitivo na Família e na Escola. Um mundo menos radical em reivindicações materiais e intelectuais, em acirradas lutas ideológicas. Nesse mundo parecia haver uma Escola e uma Família mais equilibradas entre o material, o intelectual/racional e o ético/espiritual.  A mestria desses professores os transformou em modelos, nos influenciou o caráter, porque nos sentíamos afetivamente ligados e os admirávamos. Acredito que todos nós guardamos boas lembranças desses mestres e da escola. Era uma Escola mais amorosa, mais docemente humana! 

            Gosto de relembrar sempre a reportagem que nos levou a uma pequena tapera às margens de um perdido afluente do rio Negro. O casebre ficava na mata, dentro de um assentamento ou fábrica abandonada. Ele funcionava como Escola e algumas canoas, pequenas, traziam os pequenos alunos para a aula. Eram poucos e só havia uma professora, que ali morava. Sua formação “técnica” parecia ser simples, certamente tão simples quanto seu “salário”. Ela os recebia e acolhia com calor e alegria, vestida com a roupa velha e surrada de quem vivia isolada naquela mata. Mas, antes de entrar na “sala de aula”, ela se transformava: colocava sua roupa melhor, penteava os cabelos, vestia sapatos... Era como demonstrava todo o respeito pelo seu papel de professora, respeito pelos meninos alunos, buscando uma imagem maior e melhor para oferecer a eles, naquele compartilhar tão especial.  Só então ela entrava e, juntos, viviam o Sagrado Encontro do Aluno e do Mestre-Escola.

            É isso! Na Escola, Na Família, na Igreja, no Trabalho... em quaisquer outras relações, somos instrutores ou mestres professores? Banalizamos a troca, o ensinar, em nome do poder, da vaidade, do ganho e da praticidade ou aproveitamos as oportunidades do ensinar  para  também aprender, transmitindo e vivenciando os valores amorosos de uma Ética Maior?

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