Imersos num
mundo tão material e competitivo e envolvidos em crises tão variadas, ansiamos
por aprendizados rápidos (e já tão atrasados!) para nos alavancar a melhores
posições e condições. Criamos cursos com
instrutores/professores formadores de técnicos e profissionais em várias áreas.
E cursos mais aprofundados formando pós graduados, e até “mestres”, nas muitas
áreas do conhecimento humano. São as muito necessárias formações técnicas, racionais,
intelectuais, mas que, se desumanizadas, podem nos transformar em meros seres
adestrados, robotizados, agressivos, competitivos... infelizes. Nesse ensinar corrido, mal remunerado, vivemos
em meio a instrutores, bem ou mal formados, que não têm tempo de ouvir, de
trocar, de acolher... O instrutor, o informador, é chamado, genericamente, de
professor!
Mas, em meio a esse
ensinar/aprender, encontramos pessoas que se sentiram tocadas, que sentiram o
chamado, a “vocação” para um encontro que vai além do racional e intelectual,
um encontro mais inteiro e pessoal entre aluno e professor. Esse é o chamado
que transforma o professor/instrutor naquele que ouve, que vê, que acredita, sabe
e quer (também e ainda) aprender nesse compartilhar. Um professor que vai além dos
currículos na busca do Encontro.
O mestre/professor/formador é aquele
que nos ouve aprendendo e nos fala ensinando, aquele que valoriza e sacraliza o
momento do encontro mestre/aluno. É aquela pessoa que “chega” até nós – nos
respeitando, sendo gentil, educado, firme e atento – mesmo com crianças
alvoroçadas, ainda sem hábitos de conviver, crianças que muitas vezes passam
esquecidas em famílias apressadas ou em constantes crises. Mesmo quando, com
firmeza, estabelecia os limites do respeito para nossa adolescência medrosa, desafiadora,
desinteressada, confusa... Mesmo com jovens adultos radicalizados, politizados,
polêmicos... Mesmo com adultos cansados, desvalorizados, à margem...
Havia um mundo mais ético, menos
apressado e competitivo na Família e na Escola. Um mundo menos radical em
reivindicações materiais e intelectuais, em acirradas lutas ideológicas. Nesse
mundo parecia haver uma Escola e uma Família mais equilibradas entre o
material, o intelectual/racional e o ético/espiritual. A mestria desses professores os transformou em
modelos, nos influenciou o caráter, porque nos sentíamos afetivamente ligados e
os admirávamos. Acredito que todos nós guardamos boas lembranças desses mestres
e da escola. Era uma Escola mais amorosa, mais docemente humana!
Gosto de relembrar sempre a
reportagem que nos levou a uma pequena tapera às margens de um perdido afluente
do rio Negro. O casebre ficava na mata, dentro de um assentamento ou fábrica
abandonada. Ele funcionava como Escola e algumas canoas, pequenas, traziam os
pequenos alunos para a aula. Eram poucos e só havia uma professora, que ali
morava. Sua formação “técnica” parecia ser simples, certamente tão simples
quanto seu “salário”. Ela os recebia e acolhia com calor e alegria, vestida com
a roupa velha e surrada de quem vivia isolada naquela mata. Mas, antes de
entrar na “sala de aula”, ela se transformava: colocava sua roupa melhor, penteava
os cabelos, vestia sapatos... Era como demonstrava todo o respeito pelo seu
papel de professora, respeito pelos meninos alunos, buscando uma imagem maior e
melhor para oferecer a eles, naquele compartilhar tão especial. Só então ela entrava e, juntos, viviam o
Sagrado Encontro do Aluno e do Mestre-Escola.
É isso! Na Escola, Na Família, na
Igreja, no Trabalho... em quaisquer outras relações, somos instrutores ou mestres
professores? Banalizamos a troca, o ensinar, em nome do poder, da vaidade, do
ganho e da praticidade ou aproveitamos as oportunidades do ensinar para
também aprender, transmitindo e vivenciando os valores amorosos de uma
Ética Maior?
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