Somos crias
humanas. Somos crias de uma espécie que necessita de cuidados básicos materiais
para sobreviver e de cuidados afetivos, psicológicos, intelectuais e
espirituais para desenvolvermos amplos aspectos de nossa misteriosa
complexidade. Como em tantas outras espécies, a natureza entregou cada um de
nós à guarda de nossos pais, em um ninho que nos acolha, com uma figura paternal,
que nos pareça forte para defesa e de uma figura resistente e maternal, que nos
abrace e cuide. Nas transformações que nossas relações sociais vão sofrendo,
esses guardiões vão trocando tarefas e cuidados para atender os filhos,
atendendo também seus próprios anseios. Pretendem garantir a segurança e
desenvolvimento das crias, resguardando a inteireza do ninho.
No entanto, como na natureza,
“tempestades” sacodem e abalam o ninho e, mesmo com tentativas de salvá-lo, de remendá-lo,
o ninho muitas vezes se parte, se despedaça. perde sua inteireza... E os pais,
frágeis em suas questões, anseios e dificuldades pessoais, se debatem,
desiludidos e magoados, se perdem, se confundem na tentativa de continuar a
cuidar e defender suas ninhadas. Sobrevive-se, mas é um ninho partido!
Depois da “tempestade”, tudo parece
estar mais calmo, e, aliviados, pensamos: Basta de tormentos, da luta para
manter o ninho coeso!! Estamos livres! Mas. “de repente ser livre até nos
assusta”, e Agora? Dor, sentimento de fracasso, medo, insegurança... O berço que os unia está, definitivamente,
partido! Para as crias, em cada metade, para sempre haverá a falta de um dos
guardiões. Estarão para sempre divididos em seu amor e fidelidade. Carregam um
difuso e esquisito sentimento de falha, de culpa na alegria de estar com um e o
medo de estar sendo infiel com o ausente... Carregam uma agonia escondida, até quando, definitivamente,
escolheram um lado e decidiram esquecer
o outro. Dentro deles será que a luta acabou?! Será que somos culpados? São
pensamentos tolos e irracionais, mas nossa afetividade não é racional, ela só
sente, sente e se ressente... As crias
também ficam, a princípio, mais desprotegidas, muitas vezes, quase à deriva,
quando cada um de seus protetores passa a se ausentar mais em busca de novas
fontes de renda ou para procurar novos parceiros e formar novos ninhos... com
adaptações difíceis, forçadas, trazendo sentimentos de ciúme, medo, abandono...
Por mais que se lute para suprir
faltas, corrigir falhas, nada pode desfazer a lembrança e o desejo idealizado
de se refazer a inteireza do ninho inicial – “meu primeiro e virginal abrigo”!
Mesmo quando já adultos amadurecidos, entendendo as tempestades que nos
arrastaram ou arrastaram nossos pais, ainda assim, perdura em nossos sonhos a
fantasia de ver novamente nosso ninho original, “perfeito” na distância do
tempo, e nossos guardiões, também, “perfeitos”, finalmente reunidos...
Um ninho que se parte não é a pior
das soluções nas difíceis, complexas e desafiadoras relações dos pais. Não foi,
simplesmente, uma opção leviana, mas será sempre muito dolorosa para todos. O ninho
partido guarda uma escondida dor sem volta.
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