Todos
precisamos de uma dose de rebeldia para não nos tornarmos meros repetidores das
gerações passadas, para podermos avaliar com independência as regras e
circunstâncias novas que nos são impostas pela sociedade e pela vida.
Mas para alguns de nós, a rebeldia é contínua, é um traço de
caráter, uma característica dentre outras do “temperamento” que trazemos em
nós. É um estado interior de prontidão para a contestação, para confrontos
eternos contra pessoas, ideias, regras... É um estado que nos mantém em tensão
e atenção desconfiada para a luta e o revide, procurando falhas a contestar ou
consertar. E, de rebeldes, passam à revolta: mal humorados, irônicos, azedos,
amargos, beligerantes...
Esses rebeldes não precisam ter “uma causa”! Qualquer
imposição ou direção diferente do que desejam já os incita à contestação. A
rebeldia inata revela rigidez, pouca flexibilidade para a escuta, para o
diálogo, transita pouco na diferença dos que lhe são “adversos”. Eles discutem
ou se fecham e se calam! Só relaxam com seus “iguais”! São “defensores” de
muitas causas, porque defesas pressupõem luta com os “outros lados”. Jamais
ouvem com abertura opções transformadoras; eles se opõem e partem para a “luta
contra”. E a rebeldia não precisa ser, necessariamente, agressiva ou ruidosa.
Muitas vezes ela é silenciosa, fechada, teimosa...
Mesmo quando não é um traço de caráter inato, a rebeldia pode
se revelar na adolescência, numa fase de nosso ciclo vital. O rebelde, então,
não é sem causa. Embora ele não saiba, sua “causa” é a necessidade natural de
romper, mudar, ir ao desconhecido... Torna-se, então, durante essa fase, revoltado. A revolta pode ser, também, circunstancial
quando traduz indignação ante abusos nas relações, quaisquer tipos de relações,
e nos leva então a sermos assertivos, firmes na medida que pudermos, na defesa
de nossos limites.
Mas, a rebeldia sistemática contra pessoas, sistemas, grupos
(familiares, profissionais, políticos, religiosos...) revela, ou encobre, orgulho,
vaidade, pretensão, raiva, mágoa, dores escondidas... O que fazer com os
rebeldes? Não podemos modificá-los! Podemos ouvi-los com mente aberta, sem
tentar convencê-los, sem revidar, sem nos deixar arrastar para a luta deles,
para poder, com calma, firmeza e gentileza, resguardar nosso espaço.
E o que posso fazer com a minha rebeldia ? Em nosso processo
de auto descoberta, fica a pergunta: Sou um rebelde inato, sou um adolescente
atrasado, um revoltado sempre irritado ou apenas me rebelo com situações, mas
buscando sempre soluções interiores e, no mundo, fazendo a minha parte.